Aos 32 anos, a vida decorria com toda a serenidade, entre a maternidade, o casamento com um homem que me ama, o carinho de uns pais afetuosos e um trabalho estável. Até que no verão de 2010, o impensável acontece e a ordem do meu mundo sofre um duro golpe. Comecei a sentir-me cansada, irritável e um pouco deprimida, sem qualquer razão aparente. Talvez tivessem sido os conhecimentos como médica que me levaram a desconfiar que algo estranho crescia dentro de mim. No outono, descobri a causa do meu desassossego. Apalpei um tumor no meu abdómen e soube que era cancro, pois há já algum tempo que o pressentia.

Embora hoje em dia existam exames imagiológicos bem mais precisos, como a TAC (Tomografia Axial Computadorizada), a ressonância, a ecografia ou a mamografia, como médica habituei-me a desenvolver o olho clínico. Procurei os meus colegas para saber qual era o prognóstico correto. As imagens diagnosticaram um tumor grande, mas benigno. Dias mais tarde, fui submetida a uma cirurgia que revelou o contrário.

Era um cancro nos ovários! Semanas depois da intervenção, tinha metástases nos pulmões, no sacro e na vagina. As hipóteses de sobrevivência eram escassas. Senti a morte próxima e muito medo». Passados cerca de três anos e livre do tumor, partilha no livro «Guia Completo Anticancro», publicado pela Marcador, os alimentos e as técnicas que acredita terem sido a chave da sua recuperação.

O renascer das cinzas

Era novembro e acreditava que não chegava ao Dia dos Reis para ver o meu filho de três anos abrir as prendas. Sentia que o fim se aproximava. Preparei um vídeo de despedida. Encontrava-me muito angustiada e não parava de chorar. Perdi completamente a esperança e afundei-me na tristeza. Falei com os oncologistas e disse-lhes  que, se achassem que a quimioterapia não iria funcionar, preferia morrer sossegada. Eles encorajaram-me a fazer o tratamento e prometeram que me diriam se percebessem que não estava a resultar.

Nesse dia, algo mudou em mim. Deixei de chorar… Queria viver! Ainda tinha muita coisa para fazer. Queria ver o meu filho crescer e conhecer os meus netos. Não podia deixar-me morrer e estava decidida a encontrar todos os meios para o evitar. Fui invadida por uma onda de energia e positividade. Decidi enfrentar a doença, confiar no meu corpo e na medicina para me curar. A minha missão naquele momento passou a ser a cura».

Atitude ativa na doença

Comecei a quimioterapia no dia 17 de novembro. Com este tratamento, iniciei também uma mudança drástica na alimentação, passei a praticar exercício físico, a meditar e experimentei algumas terapias naturais que me ajudaram a encontrar a tranquilidade mental. Tornei-me uma pessoa ativa na minha doença.  Após alguns dias, constatei que as metástases que antes eram palpáveis iam ficando cada vez mais pequenas. A minha atitude positiva e a minha insistência em dizer ao oncologista que estava curada, sempre que ia aos tratamentos, convenceram o médico a fazer uma TAC.  Em janeiro de 2011, o exame demonstrou que as metástases tinham desaparecido. Tal como pressenti meses antes que estava doente, também sentia que estava curada e que o cancro tinha saído da minha vida.

Veja na página seguinte: O plano anticancro que a médica preconiza

O que fiz para combater o cancro

Sei que existem poucos casos como o meu. Ao contar a minha experiência não pretendo provar que, se fizerem como eu, têm a cura garantida. No entanto, estou convencida que se a pessoa se alimentar corretamente, praticar exercício físico e tiver a sua mente em paz aguentará muito melhor a doença e os tratamentos serão muito mais eficazes. Como escrevo no meu livro, imagine que o cancro é uma semente de urtiga que cai no seu jardim, num terreno onde vai ser regada todos os dias e onde vai receber calor e fertilizantes. O que vai acontecer? Em pouco tempo, teremos uma urtiga gigante que não permitirá que outras plantas cresçam e que invadirá o nosso jardim.

Contudo, se esta semente, que é a célula mutada, não encontrar um ambiente adequado, não poderá crescer e invadir o nosso jardim. Embora saiba que esta doença nem sempre tem um final feliz, também acredito que a ideia de que não podemos fazer nada não é correta. Desde fevereiro de 2011 que me empenho nesta missão de ajudar os outros a viver a partir de uma alimentação sã e equilibrada para tratar o cancro, primeiro com o blogue www. misrecetassanticancer.com, depois entre workshops e palestras e, agora, com o livro.

Do cancro ao livro de autoajuda

Decidi escrever o livro para combater a ignorância que existe em torno do cancro e partilhar informação que ajude outros doentes a enfrentar o problema. A partir daqui, a pessoa poderá tomar decisões sobre o seu estilo de vida de uma forma consciente. No hospital, a maioria dos pacientes pergunta ao seu oncologista e à enfermeira se pode fazer alguma coisa para combater a doença e o que pode comer. A resposta mais habitual é «Não faça nada e coma o que lhe apetecer». A mim disseram-me o mesmo, mas recusei-me a acreditar.

Desde esse dia, investiguei e li todas as publicações científicas mais recentes, na tentativa de saber se havia alguma coisa ao meu alcance para reforçar o sistema imunitário, tornar a quimioterapia mais eficaz e ajudar o meu corpo a curar-se. Evidências científicas demonstram que há muitos tratamentos, além dos convencionais, para vencer e prevenir o cancro. Em momento algum pretendi ser uma charlatã. Só escrevo com base científica. E se funcionou comigo, não existe nada que indique que não possa agir de igual forma com outra pessoa. Há três anos que me livrei da doença».

O plano anticancro que a médica preconiza

Estes são, segundo Odile Fernández, os alimentos, as emoções e as atitudes que favorecem o sistema imunitário:

- Peixes azuis, com especial destaque para o biqueirão, as sardinhas, a cavala, o atum e o salmão selvagem.

- Fruta, em especial o melão, a acerola, as groselhas, os arandos, as framboesas, os morangos, a uva preta e os citrinos.

- Verduras, incluindo cebola, alho, crucíferas, abacate, espargos, cenouras, abóbora, alface, batata-doce, pimentos, espinafres, tomate e azeitonas, temperados com azeite.

- Sementes e frutos secos. A lista inclui nozes, sementes de linho, amêndoas, castanha-do-pará, avelãs, noz de macadâmia, noz-pecã e pistácios.

- Especiarias e ervas aromáticas, com realce para o açafrão-da-índia, a malagueta, a pimenta-de-caiena, o manjericão, o gengibre, a canela, os orégãos, a salsa, o alecrim, o tomilho e a mostarda.

- Algas e cogumelos.

- Além da alimentação a especialista aponta a importância dos sentimentos positivos, com especial incidência na alegria, na felicidade, na confiança, na paciência e na compreensão, aos quais acrescenta a serenidade e a meditação, a generosidade e o amor, a resolução de conflitos em harmonia e o apoio da família e dos amigos.

- Atividade física.

Veja na página seguinte: Os maiores inimigos do cancro

Os maiores inimigos do cancro

A lista elaborada pela médica Odile Fernández inclui:

-A alimentação ocidental, rica em gorduras, em açúcar e em alimentos processados

- O stresse

- Os sentimentos negativos, com particular destaque para a depressão, a negação da realidade, o medo, a angústia e o desespero

- O rancor, a raiva e a inveja

- Conflitos não resolvidos

- O sedentarismo.

- O isolamento social

Texto: Fátima Lopes Cardoso