Entre as doenças que resultam da agressão do organismo a si mesmo, designadas por autoimunes, a artrite reumatóide predomina em cerca de 40 mil pessoas em Portugal. Habitualmente manifesta-se de forma precoce na vida (35/45 anos), surgindo mais nas mulheres que nos homens (3/1) e os seus primeiros sintomas são dores espontâneas nas pequenas articulações, instalando-se gradualmente uma rigidez matinal das mesmas, ou ocorrendo após a sua imobilidade prolongada.

Mais tarde aparece dor ao movimento, sensibilidade à pressão, vermelhidão local e nódulos subcutâneos (tipicamente nos cotovelos).

É uma doença crónica, progressiva de carácter autoimune que atinge todo o organismo, de curso flutuante e cuja causa primária é ainda desconhecida.

Com a evolução surgem deformações graves das pequenas articulações causadas pela erosão das mesmas, dando origem a um quadro de dores constantes e de perda de função total ou parcial, que impede muitas vezes a execução das tarefas diárias e mesmo do trabalho. Além disso podem ainda surgir anemia, febre baixa, fadiga, mal-estar geral, perda de apetite e perda de peso. Acresce ainda que, em alguns casos, podem ocorrer manifestações extra-articulares como a miocardite (inflamação cardíaca), a pleurite (inflamação da pleura), a polineurite (inflamação de nervos) e a queratoconjuntivite (inflamação da conjuntiva e esclerótica).

Como se diagnostica

O diagnóstico precoce é da maior importância, uma vez que os danos estruturais ocorrem nos primeiros anos e o tratamento atempado atrasa a progressão da doença. O tratamento precoce permite ao doente continuar a ter uma vida ativa e produtiva. Após a suspeita clínica compete ao patologista clínico esclarecer através do laboratório a situação que deve ser diferenciada de outros possíveis diagnósticos com a mesma sintomatologia inicial, designadamente a gota, outros reumatismos ou ainda infeções virais ou bacterianas.

O ácido úrico para a gota; o título da anti-estreptolisina O (TASO) para o reumatismo articular de origem infecciosa; as serologias virais para Hepatite B e Hepatite C; o teste de Hudlesson para a artrite brucelósica (febre de Malta). No entanto é a presença de um factor reumatóide (FR) positivo e fundamentalmente a positividade dos anticorpos anti-péptido citrulinado cíclico (CCP) que vão permitir confirmar ou infirmar o diagnóstico de artrite reumatóide, ocorrendo estes últimos exclusivamente nesta doença, podendo aparecer anos antes da ocorrência dos primeiros sintomas, permitindo como foi dito, uma terapêutica precoce que irá diminuir os efeitos da progressão da doença.

Por Germano de Sousa