Interromper a menstruação durante longos períodos de tempo, com a devida avaliação e orientação, pode ser uma opção segura para as mulheres que não gostam de menstruar ou querem evitar a síndrome pré-menstrual. Menstruar todos os meses é um mecanismo natural do nosso organismo mas, para algumas mulheres, pode ser também a causa de dores de cabeça, dores abdominais ou dismenorreia (as conhecidas dores menstruais), irritabilidade, acne, entre outros sinais que caracterizam a típica síndrome pré-menstrual.

Para outras mulheres, só o facto de terem o período menstrual já é uma verdadeira dor de cabeça, um desconforto que condiciona o dia a dia e um entrave para as noites românticas. Se se identifica com algum destes casos, temos uma boa notícia para si. Pode interromper a menstruação, sem riscos ou efeitos secundários, durante meses ou anos, como preferir.

Explicamos-lhe tudo de seguida, para que possa tomar a melhor decisão para si. Quem sabe se este artigo não é o início do fim dos dias mais aborrecidos do mês? Veja também o que ingerir para combater a síndrome pré-menstrual e saiba quais são as melhores canções para ouvir no período pré-menstrual.

Como posso parar a menstruação?

Em primeiro lugar, deverá consultar o seu médico de família ou ginecologista para que este possa avaliar o seu caso. Só ele, com base na sua história clínica e estilo de vida, poderá definir a melhor opção para si. A interrupção é feita com a toma contínua de métodos contracetivos hormonais, geralmente uma pílula com uma composição específica que é recomendada para estes casos.

«Se a mulher se sentir confortável com o método, não há problema nenhum em parar a menstruação», assegura a ginecologista Maria do Céu Santo. No entanto, a supressão da menstruação deverá ser sempre feita com o devido acompanhamento médico, respeitando as consultas de rotina (uma vez por ano, na ausência de alterações).

«A mulher deve ser observada, pelo menos, uma vez por ano e deverá recorrer sempre ao médico, se notar alguma alteração», indica a especialista. No fundo, cuidados que já se incluem nas recomendações genéricas e que não representarão nenhuma mudança na sua rotina.

Que método devo escolher?

A menstruação pode ser interrompida através da toma continuada da pílula combinada (com progestativos e estrogénios), aquela que é habitualmente usada para tomar durante 21 dias por mês, mas só de forma pontual, «numa situação de emergência, se for de férias ou de lua de mel», aconselha Maria do Céu Santo. Se pretender parar o período menstrual durante mais tempo, deverá optar por uma pílula de composição específica (aquela que contém apenas progestativos), particularmente recomendada para estes casos.

«Por conter apenas progestativos, os efeitos secundários, habitualmente associados à pílula combinada, são menores», explica a ginecologista. Mas para quem não gosta de tomar a pílula ou para quem está contraindicada (fumadoras com mais de 35 anos, por exemplo), existem métodos alternativos. É o caso do implante subcutâneo com uma duração de três anos e do dispositivo intrauterino (DIU ) com um efeito de cinco anos, que libertam diariamente pequenas doses de um derivado de progesterona.

A escolha deve ser feita com orientação médica e dependerá da reação de cada organismo. Maria do Céu Santo ressalva que «teoricamente, as mulheres deixam de menstruar, mas nem todas». «Algumas deixam só ao fim de alguns meses e outras podem ter perdas de sangue pontuais», sublinha ainda a especialista.

Quais os benefícios?

Além do comodismo de ficar sem menstruar e do alívio dos sintomas da síndrome pré-menstrual, a supressão da menstruação pode ter efeitos particularmente benéficos no tratamento de desequilíbrios e/ou patologias, como menstruações muito abundantes e/ou anemia crónica e nos casos de endometriose [doença que caracteriza o crescimento de placas de tecido endometrial, fora do útero e que provoca dores abdominais, irregularidades menstruais e infertilidade]. Mas, neste ponto, a opinião dos especialistas não é consensual.

Para Maria do Céu Santo, a toma continuada da pílula nestes casos pode ser uma opção benéfica, mas Maria Teresa Osório, também ginecologista já defende que a supressão da menstruação só deve ser feita nos casos de endometriose grave e no tratamento de leucemias, com quimioterapia muito agressiva em que se pretende evitar as perdas de sangue. Salvo nestas exceções, diz que «a interrupção da menstruação não tem benefícios, além de uma comodidade egoística», refere, ressalvando, no entanto, que se trata de uma «decisão individual e que não tem riscos».

Há riscos?

Até ao momento, ainda não há nenhuma evidência científica de que a supressão do período menstrual seja prejudicial. Segundo a ginecologista Maria do Céu Santo, suprimir a menstruação por um período de tempo prolongado (segundo a especialista, não existe um período mínimo de tempo aconselhável) não diminui a fertilidade, poderá apenas atrasar o processo. «Cada caso é um caso», sublinha.

«Há mulheres que engravidam no mês seguinte àquele que deixaram de tomar a pílula, outras que podem demorar até um ano», refere a ginecologista. Um estudo divulgado pela revista Human Reproduction revelou que 86% das mulheres que utilizavam a pílula de forma contínua e pararam para tentar engravidar, ficaram grávidas ao fim de 13 meses. Sabe-se também que os riscos de usar o contracetivo hormonal sem interrupções para suprimir a menstruação equivalem aos de recorrer ao mesmo método de maneira tradicional, com intervalos.

Além disso, convém lembrar que quando as mulheres tomam a pílula combinada de rotina já não têm uma menstruação real porque a pílula inibe a ovulação. O que ocorre é uma hemorragia de privação, como os especialistas lhe chamam, porque a mulher ao interromper a toma da pílula vai simular o que acontece na fase final de um ciclo menstrual regular (altura em que os níveis de estrogénio e progesterona caem) e o sangramento ocorre.

Ao tomar a pílula de forma continuada, a única diferença é que os níveis hormonais manter-se-ão estáveis e a hemorragia de privação não ocorrerá. Existe, no entanto, um caso em que, segundo a ginecologista Maria Teresa Osório, a supressão da pílula deve ser evitada. «Quando a mulher já tem ciclos irregulares e anovulatórios, uma vez que ao interromper a menstruação, poderá agravar a situação e aumentar o risco de infertilidade», explica a especialista.

Entre os efeitos secundários mais comuns nas mulheres que tomam a pílula, sem pausas, estão, segundo a ginecologista Maria do Céu Santo, a tensão mamária, ligeiro aumento de peso, acne, irritabilidade, agravamento de sintomas depressivos, dores de cabeça, secura vaginal, perdas de sangue pontuais e diminuição da líbido.

O testemunho de uma mulher que experimentou

40% das mulheres gostariam de interromper o ciclo menstrual e 19% revelaram já ter usado um método para a supressão menstrual. Helena, 44 anos, é uma delas. «Tinha 34 anos, quando, em conversa com a minha ginecologista, comentei que estava a tomar a pílula habitual, sem interrupções, havia dois meses. Ela informou-me que havia uma pílula específica que podia tomar sem pausas», relembra.

«Perguntei se fazia mal não menstruar nunca, e ela explicou-me que não e que, inclusive, por tomar a pílula normal, eu já não menstruava, tinha sim uma hemorragia de privação», recorda ainda. «Comecei a tomar a pílula continuadamente nessa altura e adaptei-me bem», prossegue a mulher, que prefere ocultar o sobrenome.

«Durante anos não menstruei e nunca senti um único efeito secundário», desabafa Helena. «Só ao fim de seis anos é que comecei a sentir uma diminuição considerável da líbido e aí decidi parar. Mas, apesar desta interrupção prolongada, o meu período menstrual voltou regular e sem qualquer alteração», assegura ainda.

Texto: Sofia Cardoso com Maria do Céu Santo (ginecologista-obstetra) e Maria Teresa Osório (ginecologista-obstetra)