Frequentemente tomada por uma droga “leve” que acarreta poucos problemas relacionados com o consumo, a cannabis é descrita nos relatórios europeus como uma das substâncias mais problemáticas no panorama do consumo e das toxicodependências.

A cannabis detém 80% da totalidade de apreensões realizadas na Europa e aumentaram significativamente o número de pedidos de tratamento relacionado exclusivamente com esta substância. As consequências do seu consumo para a saúde constituem uma preocupação importante: está documentada a associação do uso de cannabis com acidentes rodoviários, com aumento de risco cardiovascular e respiratório e ainda com situações de tolerância (necessidade de consumir quantidades cada vez maiores) e dependência (necessidade de consumir para evitar sensações desagradáveis).

Os efeitos da cannabis no individuo variam de acordo com as quantidades consumidas, a duração do consumo e até com a predisposição genética do individuo. Uma percentagem significativa de consumidores de cannabis experimenta sintomas psicóticos com o uso da substância, que podem não remitir depois da substância sair do organismo e virem a necessitar de tratamento adequado. Quando esta vulnerabilidade para experimentar sintomas psicóticos com o consumo de cannabis não é levada a sério podem ocorrer situações em que o problema de instala, conduzindo ao desenvolvimento de uma doença crónica.

Quais são os sintomas psicóticos mais comuns, mesmo em consumidores de cannabis?

Quando falamos de psicose, podemos falar de sintomas positivos, negativos assim como de outras perturbações associadas.

Sintomas positivos: Delírios, alucinações, sensação de desconfiança ou perseguição, discurso e pensamento desorganizados.

Sintomas negativos: Diminuição da motivação e iniciativa, dificuldades de concentração e pensamento e dificuldades na expressão.

Perturbações associadas: Depressão, ansiedade, perturbação do sono.

A persistência destes sintomas (não necessariamente na sua totalidade) devem determinar a procura de ajuda especializada.

Apesar de todos os riscos e problemas acarretados pelo consumo de cannabis, a sua atuação no sistema nervoso central tem sido estudada e constituiu um reduto importante na investigação de tratamentos inovadores para sintomas ou doenças para as quais ainda não existe um tratamento satisfatório. Assim, a substância potencialmente causadora de um importante dano no curso da história clínica do indivíduo, é também a substância que constitui uma das grandes esperanças da investigação farmacológica. Espera-se que a compreensão da sua ação em diversos receptores neuronais possa abrir caminho para novos tratamentos de problemas como os da memória ou de doenças como a esquizofrenia.

Catarina Janeiro – Psicóloga Clínica

Psinove – Inovamos a Psicologia

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