A palavra certa de apoio e de solidariedade e o sorriso cúmplice de uma dor de alma são um dos grandes contributos da esteticista para a mulher em que foi diagnosticado cancro da mama. A este juntam-se alguns cuidados preventivos que a profissional habilitada pode realizar num trabalho conjunto com o médico especialista.

Pode parecer já um lugar-comum mas a verdade é que o papel da esteticista é, assumidamente, uma mais-valia no âmbito do bem-estar. E não falamos apenas em relação a questões básicas de estética mas também de um contributo maior que há muito é considerado e cada vez mais se alarga a outras áreas.

Todo o cuidado é pouco quando se trata de cancro da mama, disso não restam dúvidas, mas seria errado dispensar o contributo da esteticista ao nível de cuidados complementares com óbvia orientação médica à mulher mastectomizada.

É, muitas vezes, esta profissional que dá o alerta à cliente assim que deteta algo de diferente no tecido mamário do corpo que cuida habitualmente. Através de uma massagem ou de uma simples esfoliação a esteticista, ao verificar algo de estranho, cuja solução não está nas suas competências, aconselha de imediato a procura de um médico.

Esta é a atitude correta da profissional de estética, como nos confirmou Gabriela Lacerda. Mas não se julgue que é tarefa fácil, porque na verdade é bem difícil gerir emoções e este é, inúmeras vezes, o papel da esteticista. Ou seja, no caso da profissional detectar algo de errado no corpo da sua cliente, não só tem de controlar a sua emoção primeira, como reunir toda a sua diplomacia para a etapa que se segue: dar conhecer o facto.

Esta situação exige da profissional uma imensa sensibilidade, uma vez que deverá dar a informação sem dramatizar. E isto porque, até que a cliente procure o médico e lhe seja feito um diagnóstico, não há qualquer prova de falta de saúde.

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Drenagem linfática

A esteticista, por ética, assegura-se de que está a cuidar de um corpo saudável, pois quando assim não é, só poderá intervir com a aprovação do clínico. Assim, e como complemento e com orientação do médico, existem cuidados que a esteticista especializada pode realizar em mulheres mastectomizadas: drenagem linfática manual e Transferência Elétrica Capacitiva (TEC).

Contudo, qualquer um dos métodos está contra indicado em pessoas com o cancro já em estado avançado ou em cancros em processo de tratamento-quimioterapias ou radioterapias. Porquê a drenagem linfática? A justificação é simples: todos nós temos o sistema natural de drenagem linfática mas quando há perda de gânglios, o sistema não se cumpre e dá-se uma excessiva acumulação de líquido nos tecidos.

À falha do processo natural, a drenagem linfática manual realizada pela esteticista é uma alternativa considerada pelos médicos. Segundo explicou Gabriela Lacerda, trata-se de uma massagem muito específica de estimulação da linfa.

Esta massagem é executada directamente sobre a pele e pretende, através de movimentos subtis específicos, bombear e drenar a linfa. A profissional não usa cremes, de modo a conseguir uma maior perceção da pele que pretende estimular.

Sendo os gânglios linfáticos verdadeiras fortalezas do organismo, a sua falta (quando retirados cirurgicamente) irá dar origem à formação de edema. A esteticista pode, através da massagem aumentar a circulação linfática, diminuindo assim o edema.

Para melhor se entender o trabalho realizado, eis as palavras da profissional: "Pense-se que o nosso corpo é um grande oceano... a drenagem, que é realizada através de movimentos naturais, cria ondas no sentido de o drenar, permitindo assim que se limpe o organismo". Pela sua experiência profissional, Gabriela Lacerda garante ainda que este trabalho deve ser sempre feito com a orientação do médico, e como complemento de tratamentos.

Diminuição da dor

Quanto à Transferência Elétrica Capacitiva (TEC), pode ser realizada paralelamente, ou não. Trata-se de um elétrodo (aparelho) que funciona como uma energia em alta frequência que é emitida ao organismo sob a forma de uma temperatura localizada. Tem um grande poder analgésico, uma vez que diminui a inflamação e ajuda à defesa do organismo.

A transferência Elétrica Capacitiva utiliza uma corrente de alta frequência. O uso de um eléctrodo específico permite criar no organismo um aumento de temperatura localizada. Esta temperatura dá origem a um efeito anti-inflamatório e analgésico importante. Esta profissional acrescenta ainda que a diminuição da dor é imediata após a utilização do aparelho.

Ao contrário da drenagem linfática manual, para a realização do tratamento com este aparelho é um usado um creme específico o qual funciona como condutor da energia produzida pelo elétrodo. Pelos excelentes resultados obtidos, e segundo Gabriela Lacerda, a Transferência Elétrica Capacitiva é muitas vezes aconselhada pelos médicos às mulheres mastectomizadas, logo após a cirurgia, pois é eficaz na cicatrização. Contudo, pode também ser utilizado por quem tem uma grande sensibilidade mamária (ou seja, em bustos saudáveis).

Por tudo isto, podemos constatar, mais uma vez, que há esteticistas que trabalham conjuntamente com os médicos, em quem necessita de determinados cuidados que os hospitais ainda não facultam. À parte deste trabalho é de relembrar que a profissional de estética contribui, primeiramente, ao nível da prevenção, levando a sua cliente à realização do auto exame. No caso da mulher considerar que não o sabe fazer devidamente, deve consultar o seu médico.

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Sistema linfático
Os gânglios linfáticos, espalhados por diversos pontos ao longo dos vasos linfáticos, filtram a linfa e destroem os microrganismos e as toxinas que houver. Estes gânglios produzem glóbulos brancos suplementares e são estes que combatem a infeção (daí os gânglios incharem). Os vasos linfáticos ligam os gânglios linfáticos a outros tecidos linfáticos, como o baço, e são responsáveis pela devolução da linfa filtrada e limpa ao sistema sanguíneo.

Esclarecimento

De acordo com Carolina Nunes da Ponte, presidente da ANEP, “a esteticista não "trabalha" pessoas com patologias em qualquer parte do Mundo mas sendo uma profissional que por ética está atenta, pode de algum modo contribuir para a prevenção da doença ou da patologia em causa. Ou seja, a esteticista pode alertar para alguma mudança verificada no aspeto ou na cor da pele da sua cliente, sem com isso a alarmar.

A resposta certa para evitar um mal maior está sempre na prevenção e é aqui que o papel da esteticista se torna fundamental, não só no caso do cancro da mama como da pele... Sendo assim, faz todo o sentido dizer que esta profissional deve estar atenta e saber ouvir qualquer sintoma, fornecendo diagramas de palpação e até responder a quaisquer dúvidas sobre os mesmos.

Não restam dúvidas de que o papel desta profissional pode ter um papel indispensável na prevenção, uma vez que pode orientar a cliente de maneira a que esta faça uma palpação correta. Pode dizer-se ainda que a profissional de estética pode ser uma mais-valia para a mulher em que lhe diagnosticaram cancro da mama, bem como para a que já é mastectomizada.

Depois do que uma mulher passa - do diagnóstico à mastectomização - todas têm a certeza de que continuam a ser mulheres. O facto de perderem uma parte do seu corpo não significa que deixem de ser femininas, mulheres sensuais e atraentes e a esteticista pode contribuir para este estado de espírito. Pode contribuir para que a mulher adote uma determinada filosofia de vida.

Diagnóstico precoce, porquê?

Ao contrário do que se pensa, muitos cancros da mama podem ser curados. Quando tratados na sua fase inicial, mais de 90 por cento das mulheres ficam definitivamente livres da doença. São as mulheres que, ainda, na maior parte dos casos detetam o cancro, por vezes ainda de pequenas dimensões.

Mas a deteção de tumores em fase inicial quando ainda infraclínicos (não palpáveis) é da maior importância. Só a mamografia permite a sua deteção precoce, conseguindo-se desta forma maiores probabilidades de cura. O tratamento cirúrgico consiste cada vez mais numa cirurgia conservadora em que a prevenção de grande parte da mama é assegurada, fazendo-se ablação seletiva do tumor e complementando-se a cirurgia com radioterapia e/ou quimioterapia.

O objetivo é tratar o tumor, causando o menor transtorno físico e psicológico à mulher - com o diagnóstico cada vez mais precoce e a maior eficácia dos tratamentos disponíveis.

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Auto exame, quando?
A mulher deve examinar os seus seios uma vez por mês. Desta forma, conhecerá melhor a sua sensibilidade e a sua forma, facilitando-lhe a identificação de qualquer alteração que possa surgir. O auto exame mamário deverá ser realizado logo após o último dia do período menstrual.

O que observar?

Deverá procurar alguma coisa nova, diferente, estranha, comparando com o lado oposto ou com a palpação anterior.

Sinais de alerta
- Dores nos seios, mais fortes do que o normal, antes da menstruação
- Nódulos duros indolores
- Retração da pele ou do mamilo
- Aumento excessivo de um seio apenas
- Possíveis úlceras na pele
- Nódulos duros e visíveis na zona da axila
- Novos nódulos
- Uma depressão da pele ou do seio
- Um corrimento do mamilo

Dor, o que significa?

A dor do seio é uma queixa muito frequente. São múltiplas as causas da dor mamária. Se excluirmos as dores com origem na mama (pré-mentruais e doença fibroquística), as mais usuais são de causa não mamária, como alterações da coluna na região cervical e dorsal, sejam elas de causa degenerativa ou de osteoporose ou alterações radiculares por alterações posturais ou após esforços físicos.

É muito raro que o cancro se manifeste por sintomatologia dolorosa. Assim se tiver uma dor mamária fora do período que antecede a menstruação não se atemorize. A grande percentagem de nódulos do seio é benigna. Nas mulheres jovens predomina o nódulo sólido benigno - fibrodenoma. A partir dos 40 anos o nódulo mais frequente é de natureza líquida - quisto.

O melhor conselho é que se dirija ao seu médico. Vá calmamente, pois grande parte dos nódulos do seio não são cancro.

Autoexame da mama

O cancro de mama está em crescimento, e há já casos registados em adolescentes de 15 anos. É, por isso, indispensável que realize uma exploração visual e táctil do seu peito, segundo o protocolo indicado e recomendado pela Organização Mundial de Saúde.

O exame deve ser feito com método, para que leve pouco tempo e tire o máximo benefício, e em três fases: observação em frente ao espelho, palpação de pé e palpação deitada.

A observação em frente ao espelho deve ser feita primeiro com os braços para baixo e depois para cima. Nesta fase devem ser procuradas alterações nos contornos da mama, zonas de endurecimento, mudanças de textura e de cor na pele e no mamilo. O mamilo deve ainda ser pressionado suavemente para ver se sai qualquer líquido.

A palpação em pé deve ser efetuada de preferência durante o duche, com o corpo molhado e as mãos ensaboadas, levantando o braço esquerdo e colocando a mão atrás da cabeça à medida que palpa cuidadosamente com a mão direita a mama esquerda. Repetir a manobra para a mama direita.

A palpação deitada deve ser efetuada de preferência com uma almofada debaixo da mama que vai ser palpada, cumprindo o mesmo método utilizado para a palpação de pé. Deve ainda ser aplicado todos os dias, depois de friccionar os seios com água fria ou gelo, um creme com função nutritiva. Com o braço elevado e a mão por trás da nuca, o creme deve ser aplicado no sentido ascendente em direção à axila e à clavícula, onde se encontram os recolectores linfáticos dos seios. Depois repete-se o mesmo para o outro lado. Perante qualquer incerteza é altamente recomendada a consulta com um médico.

Fotografia: Dior
Agradecimentos: Passos Ângelo, médico; Eduardo Mata Vilalta, terapeuta; Gabriela Lacerda, esteticista