Caros ou baratos, os brinquedos preenchem o imaginário das crianças e são essenciais para o seu bom desenvolvimento.

Contudo, devem obedecer a alguns requisitos para que a missão seja cumprida com êxito.

Com a ajuda de Sandra Nascimento, psicóloga e Secretária-Geral da APSI, escolha o brinquedo à altura do seu filho.

A escolaridade oficial pode iniciar-se apenas aos seis anos mas, desde que nasce, a criança está em aprendizagem. Observar, perceber ou imitar o que a rodeia são os seus desafios diários e, como afirma Sandra Nascimento, «brincar pode ser considerada a profissão dos mais pequenos e os brinquedos as suas ferramentas».

Além daqueles dignos do nome, qualquer objecto é um potencial brinquedo. Daí que seja comum ver uma criança divertida a mexer em caixas ou coisas aparentemente sem interesse. A brincadeira não tem de ser estruturada e deve existir sempre espaço para o improviso e criatividade. Mas o que define um bom brinquedo? Mais do que o preço, este deve ser seguro, adequado à idade da criança e conseguir cativá-la, funcionando como um desafio e sobretudo um estímulo.

É brincando que adquirem valores e é também assim que estreitam os laços com os pais, amigos ou irmãos. «A socialização e o brincar tem um papel muito importante na construção da sua identidade e nas escolhas que a criança vai fazer futuramente», acrescenta.

Da roca ao puzzle

Embora cada criança seja única, existe um padrão no seu desenvolvimento. Nos primeiros meses de vida a atenção recai nas cores vivas e movimento dos móbiles, por exemplo.

A criança começa a reconhecer as formas e, a partir dos sete meses, explora o que a rodeia com as mãos e a boca (daí que sejam indicados brinquedos maleáveis e sem arestas). Abrir, fechar ou empilhar são as actividades favoritas. O som também atrai, mas não deve ser estridente.  

Entre o primeiro e o segundo ano de vida a palavra-chave é acção. A criança manipula os objectos e a preferência está nos que produzem movimento ou som. Aos dois anos já dá pontapés na bola e gosta de imitar os crescidos nas tarefas domésticas ou falando o telemóvel. Fazer construções ou desenhar são outros desafios desta faixa etária, cujo leque de interesses é cada vez mais diversificado, daí a aposta dos principais fabricantes de brinquedos neste segmento.

Após o terceiro ano de vida o gosto por actividades físicas e jogos estruturados e realistas intensifica-se. Descobrir como as coisas funcionam é uma das missões desta fase, pelo que é necessária vigilância. Aos quatro e cinco anos, as letras e números entram na brincadeira, assim como o interesse pelas regras e o conceito de fairplay.

Jogar pelo seguro

Entalões, quedas e ingestão de peças pequenas são as principais causas de acidentes infantis com brinquedos. A curiosidade torna os comportamentos imprevisíveis e todo o cuidado é pouco. Segundo as normas oficiais os brinquedos devem incluir o símbolo da idade aconselhada, as siglas CE e informação em português (fabricante e instruções de uso). Apesar de tudo são vários os modelos que não passam no teste que a DECO realiza anualmente. Cabe assim aos pais analisarem caso a caso.

Antes dos três anos não são aconselhados brinquedos com peças de diâmetro inferior a quatro centímetros e meio (mínimo permitido em objectos esféricos) ou partes que se possam soltar (olhos ou pêlos). Os fios ou laços não devem exceder os vinte centímetros e, no caso dos peluches, a melhor opção são os modelos laváveis de pêlo curto, como tecido turco, com costuras resistentes para que a criança não aceda ao enchimento.

Caso tenha pilhas, estas devem estar num compartimento que apenas possa ser aberto por um adulto. Outro aspecto a considerar é a toxicidade dos químicos (como os ftalatos usados para tornar o plástico maleável ou as tintas) que podem ser prejudiciais em contacto com a boca. Também as embalagens podem constituir um risco, quer pelo plástico quer pelas peças usadas para suster o brinquedo.

O grande dia

A escolha do brinquedo pode ser feita na presença do principal interessado (é a opinião da maioria dos especialistas) visto ser positivo conhecer as suas preferências e deixá-lo tomar opções.

Contudo, a palavra final deve ser do adulto, tanto no que respeita à quantidade a adquirir como ao tipo e conteúdos.

A exposição à violência constitui uma das preocupações dos pais que, segundo Sandra Nascimento, «têm o importante papel de mediadores».

«Os pais pois podem,assim, acompanhar criança nos filmes ou jogos, questionar estes temas e depois dar-lhes alternativas», refere ainda. No que toca aos brinquedos de guerra o perigo está nas semelhanças. Sejam armas ou ferramentas de bricolage o importante é que «sejam coloridas e não tenham nada que as possam levar a confundir com o objecto real» alerta. Tomadas as precauções necessárias resta agora deixá-los cumprir a sua função, divertir.

Regras para um convívio saudável entre o seu filho e os brinquedos:

- Certifique-se de que o brinquedo inclui a idade recomendada, o símbolo CE e informação em português (dados do fabricante e instruções).

- Veja se está adequado aos gostos, interesses e grau de desenvolvimento da criança.

- Na loja peça para abrir a embalagem e confirme se o brinquedo não tem peças pequenas, soltas ou fáceis de destacar nem arestas cortantes.

- Antes de oferecer retire o brinquedo da embalagem e deite-a fora (guarde os dados do fabricante). Siga as instruções e ajude a criança a usá-lo.   

- Verifique regularmente o estado e resistência dos brinquedos e lave os peluches. Incentive a criança a arrumá-los numa caixa para evitar quedas.

Texto: Manuela Vasconcelos com Sandra Nascimento (psicóloga)