Há pessoas que sofrem em silêncio anos a fio devido a um problema de bexiga hiperactiva. Cerca de 20 a 30 por cento das mulheres podem vir a ser afectadas pelo problema de bexiga hiperactiva em alguma fase da sua vida.

A boa notícia é que a doença tem cura, só é preciso procurar a ajuda de um especialista. Sem medo nem vergonha, porque é possível viver longe da casa de banho.

Imagine que a sua bexiga tinha vontade própria e que, por mais esforços que fizesse, não a conseguia controlar. Sair de casa poderia transformar-se num verdadeiro pesadelo. Ir ao cinema seria uma missão impossível. Fazer compras? Um desafio em contra-relógio e, um piquenique no parque, em família, seria mais difícil de concretizar do que encontrar água no deserto. Para muitas pessoas não se trata, contudo, de um exercício de imaginação, mas de uma realidade que escondem, envergonhadas, entre idas frequentes à casa de banho.

O que é?

Se o que foi descrito até aqui lhe é familiar, atenção, pois pode sofrer de bexiga hiperactiva. «A doença deve-se a uma contracção não inibida da bexiga», explica o urologista Tomé Lopes. Ou seja, numa pessoa em que a bexiga funciona de forma normal, quando o reservatório fica cheio, o músculo relaxa e aumenta, pouco a pouco, a vontade de urinar.

No caso das pessoas que sofrem desta síndrome, apesar de a bexiga nem chegar a encher, há contracções fora de tempo, o que resulta numa necessidade incontrolável de ir à casa de banho, obrigando o doente a interromper actividades do dia-a-dia para satisfazer este ímpeto.

Qual a sua causa?

Muitas vezes, «não há uma causa conhecida que origine a bexiga hiperactiva», esclarece o especialista. «Pode
dever-se a uma doença simples, como uma infecção urinária ou pedra na bexiga», acrescenta. Há ainda casos em que se deve a doença neurológica, mas aí a patologia tem outro nome. Trata-se de hipereflexia.

Contudo, na maior parte dos casos, não há factor desencadeante. «O que caracteriza esta doença é precisamente um desejo fora de controlo de ir à casa de banho, sem uma causa justificativa», frisa, acrescentando ainda que «normalmente é um problema isolado, que não é causado por nenhuma outra doença».

Quais os sintomas?

O principal sintoma da bexiga hiperactiva passa por uma necessidade quase constante de micção, que pode chegar a 15 vezes ao dia, mais duas ou três por noite.

Ir à casa de banho oito ou mais vezes ao dia já é um sinal de alarme. Para além disso, quem padece deste problema dificilmente consegue esperar um pouco, já que tem urgência em esvaziar a bexiga e, quando não consegue encontrar uma casa de banho, pode mesmo ter perdas de urina.

«A doença condiciona muito a vida social, sexual e familiar das pessoas», atesta o urologista. «Muitas evitam as relações sexuais, pois têm vergonha dos cheiros resultantes das perdas involuntárias de urina, não vão a locais sem casa de banho e não fazem saídas longas», enumera.

Quem afecta?

Apesar de ainda haver muitas perguntas sem resposta sobre a doença na comunidade científica, há alguns dados que se conhecem. «Afecta mais mulheres do que homens e tende a ser mais frequente depois dos 40 anos», desvenda Tomé Lopes, sem arriscar, contudo, razões para esta prevalência no sexo feminino. «Cerca de 20 a 30 por cento das mulheres podem vir a ser afectadas pelo problema de bexiga hiperactiva em alguma fase da sua vida», prevê ainda.

Como se previne?

Não se conhecendo o que origina a doença, não é fácil falar em comportamentos preventivos. O urologista diz que o mais importante é identificar a doença rapidamente. Para isso, a pessoa deve procurar ajuda médica assim que dê pelos primeiros sintomas.

Um especialista facilmente consegue detectar que se trata de bexiga hiperactiva através de um estudo urodinâmico. O médico alerta, contudo, que ainda há muitos preconceitos e que «há pessoas que levam anos» até procurar ajuda.

Como se trata?

Adiar a procura de ajuda médica é uma opção que prejudica o tratamento, já que quanto mais cedo a doença começar a ser tratada, mais hipóteses existem de se conseguir ter sucesso, afirma o especialista. «Há vários medicamentos disponíveis no mercado», refere Tomé Lopes. «Há pessoas que têm resultados imediatos, outras nem por isso e é preciso adaptar o tratamento», ressalva.

No entanto, para quem ainda não teve coragem de procurar ajuda, o especialista alerta que «o processo pode ser mais ou menos demorado mas há sempre melhorias acentuadas». Em muitos casos, a toma de medicação é permanente. Um mal menor, sobretudo se se tiver em conta os efeitos da doença na vida social dos doentes. «Tratando os sintomas as pessoas resolvem o problema da doença», conclui.

Bexiga hiperactiva versus incontinência

Falar em bexiga hiperactiva não é o mesmo que falar de incontinência, ainda que os conceitos estejam ligados. A bexiga hiperactiva é uma disfunção caracterizada por contracções involuntárias da bexiga que provocam uma vontade imperiosa de ir à casa de banho, podendo levar à perda involuntária de urina. «A bexiga hiperactiva é uma causa de incontinência», diferencia Tomé Lopes. A probabilidade de os doentes com bexiga hiperactiva virem a sofrer de incontinência é elevada, mas nem todos os casos de incontinência se devem a esta doença.

Texto: Sandra Cardoso com Tomé Lopes (urologista e presidente da Associação Portuguesa de Urologia)