O estudo mostrou uma redução significativa de 22% de morte de causa cardiovascular e reduções de EM não fatal e de AVC não fatal em doentes em tratamento. A morte por qualquer causa também foi reduzida significativamente em 15%.

O liraglutido está disponível em Portugal e é comparticipado pelo Serviço Nacional de Saúde para diabéticos com um índice de massa corporal superior 35Kg/m2. Este medicamento é o único aprovado que demonstrou num estudo clínico para avaliação de resultados cardiovasculares, uma redução significativa dos eventos cardiovasculares graves em comparação com placebo, ambos quando adicionados ao tratamento habitual.

Davide Carvalho, Médico
créditos: DR

A diabetes mellitus é uma doença crónica e progressiva que se caracteriza por níveis de açúcar (glicose) elevados no sangue e atinge 13,1% da população portuguesa. Acompanhando a epidemia da obesidade temos assistido a um aumento progressivo do número de diabéticos em Portugal e em todo o mundo. A

doença pode ser classificada em 2 classes principais: diabetes tipo 1, que se caracteriza por uma falta absoluta de  insulina e aparece caracteristicamente nas crianças, e diabetes tipo 2, que corresponde a cerca de 90 a 95% dos casos, e que é típica dos adultos.

A diabetes tipo 2 aparece com os sintomas clássicos de muita sede, urinar muito e muita fome e observa-se em doentes obesos, mas o diagnóstico pode ser atrasado sendo as complicações tardias a primeira manifestação.

Diabetes é primeira causa de cegueira

As complicações da diabetes tornam-na na primeira causa de cegueira, a principal causa de insuficiência renal, a responsável pelo maior número de amputações não traumáticas dos membros e por elevado número de doenças cardiovasculares – o enfarte do miocárdio (EM) e falta de vascularização do coração, o acidente vascular cerebral (AVC) e a falta de vascularização do cérebro, e a doença arterial periférica e a falta de circulação dos membros – são a principal causa de morte (50% dos casos), em particular na diabetes tipo 2. Um quarto dos doentes que morrem a nível hospitalar têm diabetes.

Em 2014, houve, em Portugal,  12 915 internamentos por diabetes e EM/AVC. A mortalidade nos diabéticos é maior que na população em geral. No EM, a mortalidade intrahospitalar foi em 2014 de 9,3% nos diabéticos comparativamente com 8,2% nos não diabéticos. Verifica-se ainda que 20% das pessoas com diabetes tipo 2 apresentam insuficiência cardíaca, isto é, o coração torna-se incapaz de bombear o sangue que lhe chega e por isso acumula-se nos pulmões, causando falta de ar e nos membros, causando edemas.

O tratamento da diabetes assenta nas modificações do estilo de vida – aumento da actividade física (pelo menos 175 minutos por semana) e redução do peso através de um programa alimentar equilibrado pobre em gorduras, açúcares refinados e rico em fibras. Após estas medidas, o tratamento com medicamentos deve incluir a metformina. Seria de esperar que a normalização dos níveis de açúcar no sangue através destas e outras medidas farmacológicas se traduzisse numa redução dos eventos cardiovasculares, mas a maioria dos estudos realizados até hoje não o tem comprovado.

Os resultados do estudo LEADER abrem assim uma nova perspetiva no tratamento da diabetes tipo 2 permitindo prolongar a esperança de vida destes doentes.

Por Davide Carvalho, Médico, Professor e Diretor do Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do Centro Hospitalar S. João e Faculdade de Medicina da Universidade do Porto