Em colaboração com o ConsultaClick.com, a psicóloga Ana Sousa, mostra-nos o outro lado do Autismo. Segundo esta especialista, o Autismo consiste numa disfunção do funcionamento cerebral, de início na infância, caracterizando-se por um desenvolvimento intelectual desequilibrado, afetando igualmente a capacidade de socialização do indivíduo. Assim, considera-se que as características clínicas do autismo são:

• Défice na Capacidade de Socialização (prejuízo qualitativo a nível do desenvolvimento social e nas brincadeiras "faz-de-conta", sendo que estas últimas implicam a capacidade da criança se colocar no lugar de outrem, por exemplo, brincar "aos médicos" ou "pais e mães");

• Défice na Capacidade Comunicativa (marcados prejuízos em termos de habilidades comunicacionais e desenvolvimento da linguagem);

• Comportamentos Estereotipados (presença de padrões comportamentais estereotipados e interesses/ atividades limitadas, por exemplo, é relativamente comum que estas crianças se entretenham durante horas a fio a mexerem um carrinho para trás e para a frente, ininterruptamente, parecendo alheados do que os cerca).

Segundo uma visão Comportamentalista/Behaviorista, os autistas apresentam défices e excessos, considerando que à medida que os défices são superados, os excessos diminuem:

Défices:
1. Comunicação/linguagem (tanto a nível recetivo como expressivo - verbal e/ou não-verbal).

2. Socialização:
• Contacto ocular (ter este contacto e mantê-lo);
• Noção das normas sociais (ex: como as pessoas se deverão comportar num ambiente formal/informal);
• Inicialização (tomar iniciativa para interagir com terceiros, como por exemplo, envolver-se num jogo/brincadeira);
• Reciprocidade social/empatia (capacidade de compreender os sentimentos dos outros);
• Brincadeira (individual, pares ou grupal);
• Autoajuda (por exemplo, utilizar um garfo, vestir-se, lavar as mãos, ou seja, tudo aquilo que esteja relacionado com a independência da criança);
• Generalização.
 
Excessos:
1. "Birras": Gritos e choro.

2. Comportamentos estereotipados: Autoestimulação e rituais.

3. Agressividade: Bater, morder e atirar com objetos.

4. Comportamentos de autoagressão: Morder-se, bater com a cabeça no chão/parede.

Assim, para que as capacidades da criança sejam incrementadas, diminuindo os excessos/problemas de comportamento, é necessário que esses mesmos comportamentos sejam operacionalizados, através de um modelo de análise funcional: ABC (antecedents - antecedentes - o que precede o comportamento; behavior - o comportamento em si, sendo específico, observável e mensurável, e consequences - as condições ambientais que ocorrem depois do comportamento e que o estão a reforçar, ou seja, a permitir que o mesmo se repita no futuro).

Mas o autismo revela-se da mesma forma independentemente da idade do indivíduo? O autismo é uma situação com um desenvolvimento gradual, cujos sintomas diferem consoante a idade do indivíduo.

O bebé com autismo apresenta determinadas características diferentes dos outros bebés da sua idade. Pode mostrar indiferença pelas pessoas e pelo ambiente, pode ter medo de objetos. Poderá ainda apresentar problemas a nível da alimentação, sono, ausência de sorriso, evitação do contacto visual com os pais, choro frequente e desconforto perante o contacto físico.

Quando começa a gatinhar pode fazer movimentos estereotipados/repetitivos (bater palmas, rodar objetos, abanar as mãos como se estivesse a voar). Ao brincar, não utiliza o jogo social nem recorre ao jogo imaginativo, ou "faz-de-conta", o que implica a não interação com os outros .

Aos 12 meses de idade, estas crianças poderão demonstrar um interesse obsessivo por certos objetos, revelam comportamentos estereotipados e repetitivos e até atrasos ao nível da locomoção.

As dificuldades comunicacionais iniciam-se geralmente aos 24 meses é que se podem constatar dificuldades de comunicação – verbal e não-verbal. É precisamente a partir desta idade que a criança denota uma maior tendência ao isolamento, à utilização de padrões repetitivos de linguagem e a não brincar como as outras crianças.

É entre os 2 e os 5 anos de idade que o comportamento autista se torna mais evidente. A criança simplesmente não fala ou ao falar, utiliza a ecolalia (repetição automática, em eco, de palavras ou sons ouvidos) ou procede à inversão dos pronomes numa frase.

Há crianças que falam corretamente mas não utilizam a linguagem na sua função comunicativa, ou seja, não têm a intenção de comunicar, por exemplo, são capazes de falar incessantemente sobre um determinado assunto, sem terem em atenção os sentimentos dos outros ou até se estão a ser ouvidas, mostrando problemas na interação social e nos interesses.

Regra geral, dos seis anos de idade até à adolescência os sintomas mais perturbadores podem diminuir, contudo o problema não desaparece totalmente.

Na adolescência as características do autismo juntam-se aos problemas desta fase. Podem melhorar as relações sociais e o comportamento ou, pelo contrário, podem voltar a fazer birras, mostrar autoagressividade ou agressividade para com terceiros.

Na idade adulta, os indivíduos com autismo tendem a ficar mais estáveis se apresentam mais competências, ou seja, alto rendimento (QI elevado). Pelo contrário, os menos competentes, com QI baixo, continuam a mostrar características de autismo e não conseguem alcançar a independência necessária. Nestes casos, o autista não se consegue integrar na vida normal achando que o mundo é uma ameaça para si – fechando-se no seu mundo, pois é uma forma de se sentir mais seguro. Por vezes, neste período, o autista pode regredir e até voltar a manifestar comportamentos infantis (ex: comportamentos auto-estimulatórios, como baloiçar-se).
 
O tratamento para o autismo não existe, centra-se apenas em tentar desenvolver na criança/jovem aptidões e competências ao nível da linguagem e ao nível social, sendo para este efeito muito utilizada a metodologia ABA (Applied Behavioral Analysis - Análise Comportamental Aplicada) Podem contudo, utilizar-se psicofármacos em situações de agressividade, autodestruição ou convulsões.

Texto: Dra. Ana Sousa, Psicóloga ConsultaClick.com

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