Junção de vacinas, administração não universal de outras, toma em idades diferentes das que se faziam até então ou imunização antes do nascimento. Estas são as alterações, que ocorrem, sobretudo, a nível pediátrico, que vão constar do Programa Nacional de Vacinação (PNV) já em janeiro de 2017. Em quase 51 anos, o PNV conseguiu erradicar um tipo de varíola, eliminar a poliomielite, a difteria, o sarampo, a rubéola e o tétano neonatal.

Além disso, permitiu controlar o tétano, a N. meningitidis C, o H. influenzae b, a hepatite B, a parotidite epidémica, a tosse convulsa e a tuberculose. E foi graças a estes resultados que foi possível fazer-se algumas modificações no PNV, simplificando-o. Saiba o que vai mudar e conheça a opinião do médico pediatra Mário Cordeiro sobre estas mudanças:

- Hexavalente

Surge esta nova vacina combinada que é administrada aos 2 e 6 anos de idade. Resulta da junção de outras vacinas que constavam do PNV, tendo como objetivo proteger contra a hepatite B, a Haemophilus influenzae tipo b (Hib), a difteria, o tétano, a tosse convulsa e a poliomielite. «Há uma grande vantagem em conseguir dar-se seis vacinas numa só administração, não só porque aumentará ainda mais a adesão dos pais, como poupará os bebés a mais injeções», comenta Mário Cordeiro.

- TDPA

A vacina contra a tosse convulsa, tétano e difteria vai passar também a ser administrada em grávidas, na vigésima semana de gestação, para atuar como proteção passiva da criança, antes do início da vacinação DTPa. Assim, assegura-se a proteção contra doença grave e morte dos recém-nascidos até aos 2 meses de idade, altura em que já podem receber diretamente a administração da vacina. Para além disso, o custo da vacinação deixa de ser suportado pela futura mãe.

«Embora não tenhamos casos de tétano neonatal, a tosse convulsa e a difteria ainda não estão erradicadas. Por isso, estou plenamente de acordo que se vacinem as grávidas, dado ser uma altura em que as pessoas estão especialmente sensíveis à saúde dos filhos», considera o especialista.

- VASPR e DTPaVIP

A última dosagem da vacina contra o sarampo, a papeira e a rubéola (VASPR), assim como a da vacina contra a difteria, tétano e tosse convulsa (DTPaVIP), passam a ser administradas aos 5 anos de idade. Até aqui poderiam ser dadas entre os 5 e os 6 anos. O objetivo é assegurar uma proteção mais precoce e, dada a altura da vacinação, favorecer a memorização da sua idade-chave, a idade pré-escolar.

A toma da primeira dosagem da VASPR não sofre alterações (aos 12 meses), bem como as restantes dosagens da DTPaVIP. «Sabendo que os anticorpos maternos começam a decrescer a partir dos 6 meses de gestação e que muitos deles já resultam de mães vacinadas e não de mães que tiveram a doença natural,  a vacinação mais precoce faz todo o sentido», refere o especialista.

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- HPV

A vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV) passa a ter nove valências. Mais cinco antigénios, substâncias que permitem a formação de anticorpos, do que a vacina atual, sendo mais abrangente, com uma eficácia de 90 por cento dos tipos de HPV associados ao cancro do colo do útero. Por outro lado, a sua dosagem vai passar a ser administrada mais cedo em raparigas (aos 10 anos, em vez dos 10 a 13 anos), coincidindo com o momento do reforço da vacina do tétano e difteria, evitando-se outra ida ao posto de vacinação.

«A vacinação mais precoce vai permitir captar um número maior de raparigas, uma vez que aos 10 anos é mais fácil conseguir uma taxa mais elevada do que aos 13 anos, altura em que pouco se vai ao médico e em que não há outras vacinas. Assim, pode evitar-se perto de 80 por cento de cancros do colo do útero», refere Mário Cordeiro.

- TD

A vacina contra o tétano passa a estar indicada aos 10, 25, 45 e 65 anos de idade e só neste último caso volta a ser tomada de 10 em 10 anos. Pretende-se que a proteção seja mais precoce mas também mais duradoura.  «Fazia sentido vacinar de 10 em 10 anos quando ainda havia muitas pessoas que não tinham sido alvo do PNV», considera Mário Cordeiro.

«Hoje, com 51 anos deste plano, praticamente todos já beneficiaram dele, e, por isso, não se justifica vacina sobre vacina, exceto quando existe mudança no contexto epidemiológico da pessoa», acrescenta o médico pediátrico.

- BCG

A vacina contra a tuberculose passa a estar indicada apenas para crianças que vivam em regiões com taxas de tuberculose superiores à do resto do país (Lisboa e Porto) ou a «quem tenha de viajar para países onde a doença é um problema ativo e de grande dimensão», adianta o pediatra.

«Noutros países europeus, a vacina da BCG é já reservada para crianças de risco», adverte Mário Cordeiro. «Esta opção representa um determinado patamar civilizacional para Portugal», esclarece ainda, à laia de comentário, o especialista.

Texto: Catarina Caldeira Baguinho com Mário Cordeiro (médico pediatra)