Para além do ferro, as carências em vitaminas B12 (B12) é uma das causas de anemia. A falta desta vitamina, essencial à maturação dos glóbulos vermelhos (g.v.), origina a sua libertação prematura pela medula óssea. Estes são grandes e anormais (megaloblastos). Entre as anemias megaloblásticas, a mais frequente deve-se à deficiência em B12 por má absorção na última parte do intestino delgado (íleo).

Para a B12 dos alimentos ser absorvida é necessária a presença de factor intrínseco, uma proteína produzida no estômago. A causa mais comum da sua falta é a gastrite atrófica auto-imune.

Doença inflamatória gástrica, rara antes dos 40 anos e mais frequente nas mulheres, resulta da produção pelo organismo de anticorpos que inativam o fator intrínseco e agridem as células da parede do estômago (células parietais) atrofiando-as. Em consequência, a B12 dos alimentos não passa ao sangue e, uma vez esgotada a que se encontra armazenada no fígado, gera-se uma anemia que, sem tratamento, tem uma evolução lenta e grave. Daí ser designada por anemia perniciosa (AP).

Embora tenha os sintomas habituais das anemias (fadiga crónica, fraqueza, falta de ar, cefaleias, palidez da pele e mucosas, etc.), bem como inflamação e ardor na língua, a falta de B12 origina sintomas neurológicos progressivamente mais graves que vão desde os formigueiros e perda de sensibilidade nas mãos, pés e pernas até à depressão e à demência. Outras causas da AP são a ablação do estômago por razões cirúrgicas (cancro), doenças intestinais inflamatórias (Doença de Crohn) ou a carência alimentar.

Nos vegetarianos que não consomem alimentos ricos em B12 (carne, peixe, ovos e leite) e nos idosos mal nutridos é comum surgir este tipo de anemia. O exame do sangue feito pelo laboratório orienta o patologista clínico para o diagnóstico.

Para além da hemoglobina estar baixa e existir uma macrocitose devida aos megaloblastos observam-se também anomalias nos glóbulos brancos (leucócitos) que têm o núcleo com mais de seis lóbulos. A confirmação da existência de AP é feita pelo doseamento da B12 no sangue, a qual está muito abaixo dos valores normais. A existência de doença auto imune do estômago é diagnosticada pela presença no soro do doente de anticorpos anti-factor intrínseco e anti-células parietais.

Por fim a gastrite atrófica é confirmada por biópsia da mucosa gástrica. O tratamento óbvio é a administração de B12 intramuscular que pode ser por via oral em casos de carências alimentares.

Por Germano de Sousa