Um medicamento que reúne apenas vantagens até parece bom demais para ser verdade.

Diminui a dor tal como um analgésico comum, mas não provoca os efeitos secundários habituais deste tipo de fármacos já que não interfere com o sistema nervoso central, actuando apenas no local onde surge a dor.

Para sabermos um pouco mais sobre este medicamento, ainda em fase experimental, conversámos com Daniele Piomelli, responsável pela descoberta e Director do Laboratório de Investigação Farmacológica da Universidade de Irvine, na Califórnia e do Instituto Italiano de Tecnologia de Génova.

Abordagem inovadora

Enquanto os analgésicos actualmente no mercado atingem o cérebro e afectam o analgésico endógeno que todos temos, a anandamide, o que faz com que tenham um efeito calmante e originem, muitas vezes, dependência, o analgésico recentemente descoberto é o primeiro desta categoria que não penetra no sistema nervoso central e que, por isso, não apresenta esses efeitos secundários.

Segundo o investigador, «a maior parte dos estímulos dolorosos surgem fora do cérebro», logo o ponto de partida da equipa de cientistas foi encontrar uma molécula incapaz de penetrar no sistema nervoso central. Esse objectivo foi conseguido através da «sintetização, ou seja, da preparação em laboratório de novas moléculas», explica Daniele Piomelli.

«Esta nova molécula age potenciando um sistema analgésico endógeno (que está presente naturalmente no nosso organismo) que controla a passagem de tais estímulos dos tecidos periféricos para o cérebro e bloqueia os estímulos antes que possam chegar ao nível central», assegura.

Fase experimental

O novo medicamento ainda só foi experimentado em animais. No entanto, os resultados mostraram que «é muito eficaz nas dores de tipo inflamatório e neuropáticas», afirma Daniele Piomelli.

Dores que geralmente requerem analgésicos fortes, como os opiácios que acarretam diversos efeitos secundários. Estas experiências demonstraram ainda uma eficácia semelhante ou mesmo superior aos analgésicos já existentes.

Quando questionado sobre quando poderá este fármaco ser testado em pessoas, Daniele Piomelli afirma que «tudo depende do seu sucesso na fase pré-clínica, na qual se determina se o composto é seguro, mas se tudo correr bem, a nova molécula está pronta para ser testada no homem daqui a 12 ou 18 meses».

De acordo com o especialista, a descoberta da capacidade do corpo humano para limitar a transmissão de impulsos da dor ao cérebro abre uma nova perspectiva para a compreensão dos mecanismos fisiológicos que regulam a dor.

Tipo de dor

O novo fármaco actua em duas frentes

Dor inflamatória
Originada por um processo de inflamação, geralmente melhora com o movimento. É sinal de doenças inflamatórias das articulações, como a artrite.

Dor neuropática
Está associada a uma doença do sistema nervoso central, aos nervos periféricos, à medula espinal ou ao cérebro. Manifesta-se como uma sensação de queimadura, choque eléctrico ou dor aguda.

Texto: Rita Caetano com Daniele Piomelli (Investigador)