A sua primeira definição e valores de referência surgiram através de companhias de seguros. Sendo uma condição de saúde em que a pressão sanguínea está continuamente elevada, estas consideravam que os seus clientes teriam de pagar um valor maior, pelas complicações inerentes à condição clínica.

Está previsto pela Organização Mundial de Saúde um aumento de 30% no número de pessoas com hipertensão arterial até 2025, atingindo assim 1,5 biliões de hipertensos no mundo. Apesar disso, o seu diagnóstico e controlo têm sido enfatizados por programas de saúde pública.

O exercício físico insere-se no conjunto de medidas a seguir para a prevenção e controlo da hipertensão arterial. Neste conjunto de medidas não farmacológicas, podem ser focadas outras alterações em hábitos de saúde, como: redução do consumo de sal; moderação de ingestão de álcool; cessação tabágica; alterações na dieta e controlo/redução tanto do peso corporal como do perímetro abdominal.

A indicação de exercício deve ter em conta a história médica atual e anterior, níveis de pressão arterial e presença de risco e/ou patologia cardiovascular.

Durante muito tempo, as guidelines para o controlo da hipertensão arterial enfatizavam os valores de pressão arterial como a principal variável para a necessidade e tipo de tratamento. No entanto, de acordo com a Sociedade Europeia de Cardiologia, o prognóstico e controlo da hipertensão arterial deve estar relacionado com a quantificação do risco cardiovascular total.

Baixar risco cardiovascular

O primeiro objetivo passa por atingir a redução do risco cardiovascular a longo prazo. Outros objetivos propostos são a diminuição da pressão arterial sistólica e diastólica para valores inferiores a 140/90 mmHg ou, em indivíduos hipertensos diabéticos ou com alto risco cardiovascular, o objetivo são valores inferiores a 130/80 mmHg.

A American College of Sports Medicine apresenta algumas recomendações para o treino cardiovascular para indivíduos hipertensos. Deve ser realizado com uma frequência de três a cinco dias por semana e com uma duração entre 30 a 60 minutos, podendo ser efetuado de forma contínua ou intermitente. O exercício deve ser realizado a uma intensidade de 40 a 70 por cento do VO2 máximo que tipicamente corresponde a valores entre 50 e 80% da frequência cardíaca máxima.

Os exercícios aeróbios devem ser a base da atividade física dos hipertensos. Este tipo de exercício tem efeitos hipotensores diretos após a sessão de treino, bem como vantagens no controlo do peso e diminuição da resistência à insulina nos seus praticantes.

Para além dos exercícios aeróbios como a marcha, jogging e bicicleta, não se pode negligenciar a importância do treino de força no planeamento do treino. Segundo as orientações da American Heart Association, o circuito de exercícios de força deve ser feito com uma frequência de dois a três dias por semana. O circuito deve conter oito a 10 exercícios e devem ser realizadas duas a três séries de 10 a 15 repetições, com a duração de 30 a 60 segundos, utilizando 40 a 60 por cento da repetição máxima (1-RM), uma vez que este tipo de exercício privilegia o número de repetições em detrimento da carga.

Deve haver alternância entre exercícios que trabalhem os membros superiores, o tronco e os membros inferiores. Inicialmente, são sugeridos exercícios que trabalhem os grandes grupos musculares para posteriormente, haver a progressão para grupos musculares menores. A manutenção de uma postura e respiração correta, é imprescindível para a correta execução da atividade física proposta.

O retorno à calma é muito importante em pacientes que tomam anti-hipertensivos: alfa-bloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio ou vasodilatadores, isto porque é necessário evitar a hipotensão pós-esforço, causada por estes medicamentos.

O exercício físico não se deve limitar apenas ao programa de intervenção terapêutica. Atividades inerentes à rotina diária, devem também ser encorajados para melhorar a condição cardio-respiratória.

A motivação e preparação de cada paciente para efetuar as mudanças necessárias no seu quotidiano, são de extrema importância para que o exercício físico seja eficaz. No fundo, um estilo de vida ativo em conjunto com outros comportamentos positivos, podem levar a um aumento da qualidade de vida e longevidade. Já dizia o velho ditado: “para ter saúde, pouca cama, pouco prato e muito sapato”.

Por Sérgio Loureiro Nuno, Fisioterapeuta e Coordenador da Fisioterapia da Clínica São João de Deus