Uma grande parte da população é descurada no que toca a cuidados de saúde e higiene oral, sendo que muitas vezes os cuidados básicos não são praticados de forma correcta e as visitas regulares ao dentista ou ao higienista (como forma de prevenir eventuais problemas) são vistas como algo supérfluo, sendo comum receber pacientes que deixaram sintomas de algum problema oral chegarem a um limite que algumas vezes é irreversível.
Numa das últimas edições da iniciativa Mês da Saúde Oral, foram realizados mais de 6.000 rastreios de higiene e saúde oral, sendo possível obter um retrato do estado da saúde oral do nosso país. Os dados recolhidos, referentes a uma amostra ente o 1 e 92 anos de idade, revelaram que, desde cedo as crianças apresentam cáries – 36,4% das crianças observadas na faixa etária dos 1 aos 5 anos já apresentavam, pelo menos, um dente cariado. 
No entanto, considerando a faixa etária infanto-juvenil, a percentagem mais preocupante é a de indivíduos dos 6 aos 17 anos residentes em áreas rurais, onde foi observada uma incidência de dentes cariados de 72,8%.
Na idade adulta a proporção de indivíduos que apresentaram cáries foi maior, e é também comum observarem-se problemas mais graves e em estágios mais avançados. Nomeadamente, problemas gengivais, abcessos e cáries em estado avançado, que muitas vezes levam à perda dos dentes – nos 4.101 indivíduos com mais de 18 anos rastreados, a média de dentes ausentes por qualquer motivo foi 4,7. 
Nesta amostra apenas apenas 0,9% da população apresentou dentes totalmente saudáveis, sendo que, em todos os intervalos etários da idade adulta, as cáries dentárias têm uma incidência entre os 60 e os 70%.
No entanto estes não são os dados mais alarmantes para os profissionais de medicina dentária. Isto pois, é um facto que as cáries são a doença crónica com maior prevalência em todo o mundo, afectando 80% da população mundial. 
Os dados realmente alarmantes são aqueles referentes à reduzida procura de ajuda profissional e ao facto de, por muitas vezes, as pessoas deixarem prolongar os seus sintomas, improvisando até alguns tratamentos caseiros para solucionar a dor. 
Considerando ainda os dados recolhidos durante o Mês da Saúde Oral, das pessoas que reportaram algum tipo de dor, cerca de 40% não procurou um profissional de saúde devido aos sintomas. Esta falta de procura poderá ser divido ao impacto da crise económica porque passamos e que se reflecte na procura de profissionais de saúde dentária. 
No entanto, e como é costume dizer, a necessidade aguça o engenho, ou neste caso, potencia as iniciativas e programas de solidariedade. São várias as formas de contrariaria estes números que ONGs e o SNS têm apresentado ao nosso país de forma a melhorar a higiene e saúde oral em Portugal.
É neste contexto que, ano após ano, tenho todo o gosto em continuar a envolver-me em iniciativas de sensibilização para a saúde e higiene oral. Penso que, a longo prazo, os resultados dos esforços conjuntos entre empresas privadas, públicas e organizações não-governamentais será compensado, e veremos os resultados na saúde e higiene oral dos portugueses muito brevemente.
Por Carlos Pereira, Higienista Oral