Ter Diabetes significa um risco acrescido de doença cardiovascular (CV), que é cerca do dobro da população não diabética. A prevalência das complicações CV está relacionada com a duração e controlo da DM, presença de algumas complicações microvasculares, em especial nefropatia, mas em particular com o controlo dos restantes factores de risco, como a dislipidémia e a hipertensão arterial, a que se juntam o tabagismo, o sedentarismo e a obesidade.

A necessidade de prevenir eventos CV major como o enfarte do miocárdio ou o AVC decorre do impacto negativo dos mesmos na esperança de vida, na incapacidade temporária ou definitiva, nos custos associados em termos de sistema de saúde e cuidados continuados. Para uma pessoa de 65 anos com diabetes, ter um EAM ou um AVC significa menos 7-8 anos de esperança de vida. Ter ambos os eventos implica uma perda de 12-14 anos.

Com todos estes aspectos em equação, importa por isso investir o mais possível na prevenção da Diabetes como primeira intenção e no aparecimento de eventos CV major, com optimização do controlo dos factores de risco e uma adesão terapêutica adequada, em simultâneo com um estilo de vida mais saudável, com alimentação equilibrada e exercício físico regular.

Como prevenir o aparecimento de diabetes?

  • Controlar o excesso de peso: A obesidade é um flagelo das sociedades modernas. Os doentes obesos têm risco acrescido de diabetes e doença CV. Têm também associados outros factores de risco clássicos e síndroma metabólico. Deve controlar o seu peso uma vez por semana e recorrer a registos ou aplicações móveis disponíveis, para seguimento de objectivos, de acordo com o índice de massa corporal (IMC) ou o perímetro abdominal.
  • Fazer exercício regular: O exercício físico regular é uma das regras base da vida saudável. Contribui de forma decisiva para prevenir a obesidade e a diabetes. Por isso deve encontrar forma de o praticar regularmente, pelo menos 150 minutos por semana, divididos por 5 dias (30 min por dia). Escolha a modalidade que mais lhe agrada, sendo as mais adequadas a natação, aeróbica, dança, bicicleta sem carga, marcha rápida.
  • Ter uma alimentação saudável: Ninguém duvida dos benefícios de ter uma alimentação saudável. Existem bastantes evidências que documentam a associação entre alimentação equilibrada e prevenção da diabetes. Em particular, são de evitar o consumo de gorduras saturadas, alimentos ricos em colesterol e com excesso de sal e uso excessivo de fritos, que contribuem de forma indiscutível para o agravamento dos factores de risco, a obesidade e um mau controlo da glicemia. Recomendam-se vegetais, leguminosas, frutos secos, cereais, azeite e outros ingredientes usados na chamada dieta mediterrânica. Consulte o seu médico ou um nutricionista ligado à diabetes.
  • Beber álcool com moderação: A ingestão alcoólica excessiva e persistente é um importante contributo para o desenvolvimento de diabetes, em especial o consumo de destilados. Muito se tem falado na protecção CV de certas bebidas alcoólicas, como o vinho tinto. No entanto, qualquer eventual benefício será apenas para ingestas pequenas ou moderadas destas substâncias. Não beba em excesso porque isso é prejudicial à saúde. Aconselhe-se com o seu médico sobre as quantidades e o tipo de bebida alcoólica que pode consumir.
  • Calcular o risco potencial: O desenvolvimento de diabetes está associado a factores ambientais, de estilo de vida e genéticos. O rastreio generalizado da população não está recomendado, mas nos indivíduos de risco acrescido pode justificar-se uma análise diagnóstica como a glicemia em jejum ou a hemoglobina glicada (HbA1c). Em casos de dúvida (ou eventualmente após um evento CV major) a prova de tolerância oral à glicose (PTOG) pode estar indicada. O recurso a tabelas de risco para DM, como por exemplo o FINDRISC, tem mostrado reprodutibilidade para definição do risco individual de vir a desenvolver diabetes.

Como reduzir o risco de doença cardiovascular nos diabéticos?

  • Controlar o colesterol: Na diabetes, controlar o colesterol é um dos objectivos mais importantes. Isso consegue-se com um estilo de vida adequado e, se necessário, com fármacos associados. As estatinas são as mais comprovadas e usadas na prática clínica e reduzem os níveis do “mau colesterol” (LDL). Outras fracções lipídicas como o HDL (bom colesterol) e os triglicéridos contribuem para o risco CV global, mas o efeito do seu controlo na redução do enfarte e do AVC é mais controverso. Quanto maior o risco, mais agressivos devemos ser no controlo. Efectue análises regulares e aconselhe-se com o seu médico sobre os seus valores ideais.
  • Controlar a tensão arterial (TA): Outro dos objectivos essenciais para evitar os ataques cardíacos. Para controlar a TA dentro dos valores recomendados é preciso muitas vezes usar fármacos, isolados ou em combinação, complementado com uma dieta cuidada e exercício físico regular. Nos doentes mais idosos devem evitar-se valores excessivamente baixos. Há grupos de fármacos mais indicados na diabetes, que são igualmente protectores do rim. Faça auto-controlo da TA no seu dia-a-dia. Recorra a registos manuais e a aplicações informáticas, para facilitar o processo de seguimento e a informação a disponibilizar na consulta seguinte. Só assim podemos tratá-lo da melhor forma e seleccionar os medicamentos adequados.
  • Reduzir ingestão de sal: Temos uma alimentação excessivamente rica em sal, o que nem sempre é reconhecido pela população. Há uns anos atrás o nosso pão tinha o dobro do sal dos restantes países da Europa, pelo que se produziu uma lei no sentido de reduzir estes teores. O excesso de sal é uma das principais causas de controlo inadequado da hipertensão arterial e das elevadas taxas de AVC que se registam no nosso país.
  • Controlar a glicemia de forma individualizada: O controlo da glicemia tem menos peso para a redução dos ataques cardíacos do que para outras complicações da diabetes, como a retinopatia ou a doença renal. Mas existe uma relação clara entre os níveis de glicemia e o risco CV, quer para os valores muito altos, quer para as hipoglicemias. O controlo excessivo de glicemia nos doentes mais idosos, com maior duração de diabetes, complicações várias ou história de doença cardíaca, pode ser prejudicial. Os objectivos de controlo devem ser individualizados. Mais exigentes nos jovens e de diagnóstico recente, mais liberais nos restantes. O autocontrolo faz parte da educação terapêutica na diabetes. Não deixe de o fazer sob orientação do seu médico.
  • Deixar de fumar: Fumar é um dos maiores malefícios para a saúde. Todas as pessoas o sabem. Na diabetes é uma associação ainda mais indesejada, face ao excesso de risco CV dos diabéticos. Não fume. Escolha outra companhia para os momentos mais difíceis. Fumar 4 ou 5 cigarros por dia não é uma alternativa a deixar de fumar. Procure apoio de um profissional de saúde especializado para o aconselhar na melhor forma de abandonar o tabaco.
  • Proteger o rim: A doença renal é uma das manifestações tardias da diabetes. Como complicação microvascular depende muito da eficácia do controlo glicémico e também da tensão arterial. A presença de disfunção renal aumenta de forma significativa o risco de eventos CV e a progressão de doença arterial nos diferentes territórios. Por isso, proteja o seu rim. Controle bem a diabetes e a tensão arterial. Use fármacos que ajudem nesta protecção e diminuam a evolução para fases terminais da doença.

Um artigo do médico Pedro Matos, cardiologista da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) e do Hospital CUF Infante Santo