Uma apneia do sono consiste numa paragem da respiração com mais de 10 segundos. O tipo mais frequente é o obstrutivo (AOS) que ocorre por obstrução ou oclusão das vias aéreas superiores. As consequências mais imediatas são oscilações repetidas e intermitentes dos níveis de oxigénio no sangue e microdespertares, que interrompem as apneias, por vezes às centenas por noite, de que se não tem consciência nem memória. O organismo responde às oscilações com inflamação progressiva, muito especialmente das paredes arteriais. Dos microacordares decorre uma evolução anormal do sono, frequentemente com sinais clínicos de menor repouso, maior sonolência diurna e mais fadiga.

O exame apropriado para estudar as apneias do sono deve fazer-se durante a noite e chama-se polissonografia (PSG).

As alterações na PSG e as expressões clínicas e complementares das Apneias do Sono definem a Síndrome de Apneias Obstrutivas do Sono (SAOS).

A sua prevalência, seguramente subestimada, ronda os 4%, ou seja, haverá, pelo menos, 400 000 portugueses com SAOS, na sua maioria homens com mais de 45 anos, excesso de peso ou obesidade e frequentemente com redução da testosterona, hormona fundamental para a sexualidade e fertilidade masculinas.

Com a SAOS e a obesidade relaciona-se a Síndrome Metabólica (SM), com distúrbios nos metabolismos dos glícidos (açúcares) e dos lípidos (gorduras), que, por sua vez está associada à hipertensão arterial (HTA) que potencia as lesões vasculares.

Por outro lado, a ereção é o resultado da acumulação de sangue nos vasos do pénis, os corpos cavernosos (CC), principalmente pela estimulação sexual. É um processo eminentemente neuro-vascular, mas é a vertente vascular a mais frequentemente afetada.

A disfunção erétil (DE) é “a incapacidade de atingir e/ou manter a ereção de modo a se concretizar um ato sexual”. As afeções dos vasos do pénis são as principais causas de DE.

A prevalência geral da DE em Portugal está estimada em cerca de 13%, com valores progressivos com a idade, de cerca de 50% entre os 40 e os 69 anos. Nos homens portugueses com SAOS pode ascender a 64%.

Esta relação aconselha a que se inclua o diagnóstico de SAOS no processo de diagnóstico da DE e vive versa, nos doentes com SAOS é importante saber, sem tabus, se têm DE.

Recentemente demonstrou-se que a DE antecipa significativamente lesões nas artérias coronárias pelo que a DE deve ser vista como um sinal de risco progressivo de incidentes cardíacos, com risco de vida.

A DE afeta profundamente a vida dos homens e das pessoas com quem partilham a sua vida sexual, frequentemente com elevados níveis de ansiedade e depressão, quiçá contribuindo para perpetuar a DE.

A estratégia de tratamento destas situações deve ser criteriosa, caso a caso, e interdisciplinar.

O tratamento bem orientado da SAOS, da obesidade e da SM é fundamental para a melhoria da DE e da doença coronária, sendo que, pela sua especificidade, a doença coronária obriga a controlo especializado próprio.

A ventilação com CPAP (Pressão Contínua das Vias Aéreas) todas as noites é o tratamento “gold standard” dos doentes com SAOS mais graves, com melhoria significativa da DE em muitos doentes que têm ambas.

O uso de medicamentos para a DE deve ser sempre apoiado em parecer médico. A associação da CPAP com estes fármacos tem apresentado resultados superiores aos de cada tratamento isolado.

Resumindo, SAOS, obesidade, SM, DE e doença coronária são entidades frequentemente correlacionadas e simultâneas. Devem ser investigadas e tratadas integradamente.

Por José Monteiro Ferreira, Médico Pneumologista