A memória é uma função cognitiva essencial para que cada um de nós mantenha a sua identidade coerente em diferentes momentos e contextos. A memória desenvolve-se ao longo da nossa vida através de um processo de categorização como se o nosso cérebro estivesse constantemente a “arrumar gavetas” por contiguidade; semelhança e contraste.

A amnésia ocorre quando existe uma disfunção nestas áreas cerebrais responsáveis pela consolidação novas informações, tais como, os hipocampos e os lobos temporais mediais adjacentes. Portanto o termo Amnésia significa “perda de memória” e pode acontecer de forma permanente ou temporária e pode ser total ou parcial. É uma entidade clínica que muitas vezes motiva os doentes em idade adulta a procurarem ajuda numa consulta de neuropsicologia, tendendo a ser mais prevalente com o avançar da idade acima dos 65 anos.

Pode ser causada por alterações neurobiológicas degenerativas associadas ao envelhecimento; por infecções cerebrais do tecido neural; por doenças cerebrovasculares; por traumatismos cranianos; por toxicidade causada por abuso de drogas e álcool ou por distúrbios psicológicos intensos como, por exemplo, estados graves de ansiedade, depressão major ou stress pós-traumático (em que um grande número de memórias podem ser reprimidas).

Existem vários tipos de classificação das amnésias

- a Amnésia global transitória, em que o indivíduo temporariamente não consegue reter informação mantendo um comportamento aparentemente normal. Pode durar algumas horas, não ultrapassando um dia e a recuperação normalmente é total. Este tipo de amnésia pode estar relacionada com um acidente isquémico transitório (AIT) nas partes internas do lobo temporal, sendo pouco comum a ocorrência de um segundo episódio.

- a Amnésia anterógrada, em que a pessoa perde memória (informação) para eventos que ocorrem posteriormente ao acontecimento da doença, ou seja, fica afetada a capacidade para consolidar ou adquirir novas aprendizagens. É o que ocorre na doença de Alzheimer e é uma situação que pode ir agravando progressivamente.

- a Amnésia retrógrada, em que o sujeito é capaz de se lembrar de eventos posteriores à doença mas não consegue recordar espontaneamente eventos anteriores ao inicio da lesão cerebral (trauma). É muito comum ocorrer nos casos de traumatismo-craniano e pode ser permanente por largos períodos de tempo.

Tratamento

O tratamento depende da causa e do tipo de amnésia mas o doente pode beneficiar, para além do apoio médico e farmacológico, com intervenção neuropsicológica.

As principais recomendações são procurar apoio clínico sempre que identificar estes e apostar na prevenção, através do controlo de fatores de risco vasculares com alimentação saudável e vida ativa (tanto mental como física); evitar comportamentos de risco ou violentos que possam originar um traumatismo-craniano, tal como, respeitar normas rodoviárias e regras de segurança em espaços públicos; e essencialmente evitar o consumo excessivo de álcool ou de drogas.

As explicações são de André Carvalho, neuropsicólogo no Hospital Lusíadas Lisboa.