Muitas pessoas acreditam que ter cancro se deve à genética, destino ou até azar.

No entanto, a investigação científica no campo da oncologia conseguiu  demonstrar que a probabilidade de virmos a ter cancro depende dos nossos genes, realmente, mas combinados com o ambiente e com opções ao nível do estilo de vida.

De acordo com os especialistas, cerca de metade dos casos de cancro poderiam ser evitados através da introdução de bons hábitos e da eliminação de hábitos nocivos, o que é alarmante, por um lado, mas uma boa notícia por outro. Assim sendo, fique a par daquilo que está ao seu alcance para prevenir cinco  tipos de cancro frequentes.

Cancro da mama

Segundo a Liga Portuguesa Contra o Cancro são detetados, anualmente, em Portugal, cerca de 4.500 novos casos de cancro da mama. O cancro da mama é um tumor maligno que se inicia nas células da mama e que atinge maioritariamente as mulheres.

Os fatores de risco

- Ter mais de 60 anos é um fator de risco, assim como ter história familiar e/ou  pessoal de cancro.
- Alterações tecidulares da mama e/ou alterações em determinados genes (BRCA1, BRCA2, entre outros).
- Primeira gravidez depois dos 31 anos.
- Primeira menstruação antes dos 12 anos.
- Menopausa tardia após os 55 anos ou  não ter tido filhos.
- Ter feito terapia hormonal de substituição durante cinco ou mais anos depois da menopausa.
- Tratamento de radiações antes dos 30 anos.
- Excesso de peso.

Como defender-se

- Não fume e limite a ingestão de bebidas alcoólicas.
- A American Cancer Society recomenda que, entre os 20 e os 39 anos, seja  feito um exame clínico à mama, por um profissional de saúde.
- A partir dos 40 anos deve fazer uma mamografia anualmente ou de dois em dois anos. Se tiver antecedentes familiares, fale com o médico sobre a possibilidade de a fazer antes dessa idade.
- Faça pelo menos 30 minutos de exercício diariamente.
- Tenha uma alimentação equilibrada.
- Evite o excesso de peso/obesidade.
- Amamentar é um fator protetor.

O auto-exame

A partir dos 20 anos, todos os meses, depois da menstruação, realizar o auto-exame da mama é um gesto essencial de prevenção. Em frente ao espelho, analise a forma, o tamanho e aspeto de cada mama, procurando diferenças ou alterações. Ponha uma das mãos atrás da cabeça e utilize a outra para palpar a
mama do  lado oposto. Com os dedos esticados, faça movimentos
percorrendo o peito  desde a área próxima da axila até aos mamilos. Analise a outra mama, repetindo os movimentos acima descritos.

Cancro do pulmão

Trata-se de um dos cancros mais frequentes e, em simultâneo, aquele que é mais fácil de evitar. O seu maior fator de risco é o tabagismo.

Fumar provoca nove em cada 10 casos de cancro do pulmão, uma doença que mata cerca de 3.500 pessoas por ano em Portugal.

Quanto maior o número de anos que se fuma e o número de cigarros fumados diariamente, maior é o risco de cancro do pulmão.

Como defender-se

- Não fume e evite a exposição ao fumo indireto.
- Teste os níveis de radão (gás radioativo) em casa. A Deco tem um protocolo com o Instituto Tecnológico e Nuclear, para os seus associados.
- Evite a exposição ao amianto, principalmente se for fumador.
- Siga uma dieta equilibrada, rica em fruta e vegetais.

Cancro da pele

A exposição solar é o grande fator de risco e tem um efeito cumulativo. Também o avançar da idade (embora seja um dos cancros mais frequentes em pessoas  com menos de 30 anos) e o facto de se ter pele branca e sinais favorecem o seu aparecimento.

Como defender-se

- Se detetar sinais com mais de 6 mm de diâmetro, assimetrias, bordo irregular ou  rugoso, diferentes tons de preto e castanho ou zonas azuladas, avermelhadas ou  brancas, procure um médico.
- Evite a exposição solar prolongada, sobretudo entre as 10h e as 15h e use roupa escura, mangas compridas e um chapéu de abas largas.

Cancro colo-retal

É um tipo de cancro que se inicia no cólon ou no reto. De acordo com dados do Portal de Oncologia Português (POP), trata-se da terceira causa de morte por cancro em todo o mundo. Em Portugal, é o segundo tipo de cancro mais  frequente. A probabilidade de ter cancro colo-retal aumenta com a idade.

Alguns estudos científicos sugerem que uma dieta rica em gorduras e pobre em cálcio, fibras e folatos pode aumentar o risco de cancro
colo-retal.

Outras pesquisas estabelecem associação entre uma alimentação pobre em frutas e vegetais e o risco de cancro
colo-retal.

Outros fatores de risco

- Ter pólipos do cólon e do reto. Embora a maioria seja benigna, alguns podem tornar-se cancerígenos.
- História pessoal e/ou familiar de cancro colo-retal.
- Alterações genéticas.
- Doença de Crohn ou colite ulcerosa.
- Consumo de bebidas alcoólicas.
- Tabagismo.
- Excesso de peso ou obesidade.
- Sedentarismo.

Como defender-se

- Não fume.
- Limite a ingestão de bebidas alcoólicas.
- Pratique uma atividade física diariamente, de pelo menos 30 minutos.
- Tenha uma alimentação equilibrada. Limite o consumo de carnes vermelhas a uma dose diária e reforce a ingestão de vegetais, alimentos que nos oferecem  nutrientes essenciais para a saúde do organismo.
- Evite e combata o excesso de peso/obesidade.

- A partir dos 50 anos faça uma colonoscopia, um exame que permite detetar a presença de pólipos (massas), tumores ou outras alterações no cólon e no reto.

Cancro do colo do útero

A infeção pelo vírus do papiloma humano (HPV) é o maior fator de risco para o cancro do colo do útero. O HPV engloba um número elevado de vírus, sendo que alguns destes são transmitidos durante o contacto sexual, podendo infetar o colo do útero e a vagina.

A infeção pelo vírus do papiloma humano não é causadora do cancro em si, no entanto, pode provocar enormes alterações nas células e estas, posteriormente, tornarem-se cancerígenas. Julga-se que o tabagismo é um fator de risco para o cancro do colo do útero.

A vacina contra o HPV

Em 2006, surgiu a primeira vacina preventiva contra o HPV, começando a ser comercializada em Portugal no final desse ano, tendo sido integrada no Plano Nacional de Vacinação, em 2008. Esta vacina protege contra quatro tipos de HPV e está indicada para mulheres entre os nove e os 26 anos e, no caso do sexo masculino, entre os nove e os 15 anos.

Segundo a Sociedade Portuguesa de Ginecologia, «o risco de infeção é  significativo até aos 50 anos, pelo que as mulheres sexualmente ativas com mais de 26 anos têm benefícios com a vacinação». Contudo, esses benefícios «devem ser ponderados numa perspetiva individual».

Hábitos anti-cancro

Seis regras que deve seguir a todo o custo:

- Deixe de fumar

O tabaco é a maior causa de cancro no mundo. Os químicos  do cigarro aumentam o risco de outros cancros como os da boca, laringe, pâncreas, estômago, rim ou bexiga.

- Beba álcool com moderação

Não exceda um copo diário (mulheres) ou dois (homens). A sua combinação com o tabaco aumenta ainda mais o risco de cancro.

- Mantenha o seu peso equilibrado

Os tecidos gordos das pessoas com peso a mais produzem hormonas (como estrogénio e insulina) em excesso que podem aumentar o risco de alguns tipos de cancro.

- Faça uma dieta saudável

Coma alimentos ricos em fibra e, no mínimo, cinco porções de fruta e vegetais diariamente. Reduza o consumo de carne vermelha, gorduras saturadas e sal.

- Mantenha uma atividade física regular

Praticar exercício físico diariamente reduz o risco de cancro da mama, coloretal e do útero. Andar a passo rápido, simplesmente, dançar ou arrumar a casa podem fazer a diferença.

- Proteja-se do sol

A maior parte dos casos de cancro da pele são causados pela exposição excessiva aos raios UV. Diariamente, devemos aplicar protetor solar com, no mínimo, FPS 15.

Texto: Teresa d’Ornellas com Ana Del Rio (médica especialista em oncologia no British Hospital Lisbon XXI) e Cancer Research UK .