Todos os anos, cerca de 300.000 portuguesas entram na menopausa e a maioria delas vê a sua qualidade de vida afetada. No entanto, de acordo com os especialistas, a menopausa não é uma doença e, portanto, não deve ser encarada como tal. Trata-se de uma etapa natural da vida da mulher que produz alterações tanto orgânicas como psicológicas. Que mudanças são essas e que impacto têm na sua vida? Reunimos as respostas que tanto procurava!

1. O que é e em que idade aparece?

A menopausa um processo natural em que a mulher deixa de ter menstruação. Tal como explica Mário Sousa, ginecologista, "é o resultado do fim da produção de estrogénios pelos ovários, fazendo com que a mulher deixe de ovular e o útero deixe de menstruar". Apesar da menopausa indicar o fim do período reprodutivo, durante o primeiro ano depois da última menstruação, deve-se utilizar um método anticoncetivo.

O que muda no sexo com a menopausa
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Relativamente à idade, não existe propriamente uma data fixa para o seu início, mas habitualmente surge entre os 45 e os 55, apesar da perimenopausa começar um a cinco anos antes. Não obstante, tem-se verificado um aumento de casos em idades mais precoces (por volta dos 40), quer seja uma menopausa natural (os óvulos esgotam-se por causa de uma alteração genética, radiações ou doenças ginecológicas), cirúrgica (pela remoção dos ovários e, às vezes, do útero) ou médica (por tratamentos que afetam a função do ovário, como a quimioterapia para tratar o cancro).

Perante este motivo adicional para não descurar os exames ginecológicos periódicos, considerados imprescindíveis a partir dos 35 anos de idade, a prevenção, que pode ser feita através de ecografias e de citologias anuais, de mamografias, de análises hormonais e de marcadores tumorais em casos de risco identificado e, se necessário, densiometrias, como sublinha ainda o ex-presidente da Sociedade Portuguesa da Menopausa.

2. Quais são os sintomas mais comuns?

Na primeira fase, denominada perimenopausa, começam as alterações no período menstrual, com variações do fluxo ou do tempo entre menstruações. Podem ocorrer sensações repentinas de calor (afrontamentos) na cara, pescoço e peito, suores nocturnos, insónias, mudanças no estado de ânimo, retenção de líquidos e aumento de peso. Na menopausa, propriamente dita, para além destes sintomas, aparecem outros, como secura vaginal, incómodo ou dor durante o coito, problemas urinários e variações no comportamento sexual.

3. Em que consiste o tratamento hormonal?

A terapia hormonal é uma forma de aliviar estes sintomas. "A terapia pode ser feita apenas com estrogénios nas mulheres sem útero, ou estrogénios combinados com prostagénio nas mulheres com útero", esclarece Mário Sousa. Tem riscos? "Se iniciada nos primeiros anos da menopausa em mulheres sintomáticas e sem contraindicação é perfeitamente segura, mas segui-la durante mais de 10 anos pode dar origem a problemas", alerta.

O recomendável é fazer a terapia hormonal durante o mínimo tempo possível e na dose mínima necessária, no caso de mulheres em que os sintomas alteram a sua qualidade de vida. Os principais riscos são a formação de coágulos no sangue (e subsequentes ataques cardíacos e derrames cerebrais), cancro da mama e doenças da vesícula biliar.

"O tratamento deve ser sempre prescrito e supervisionado por um médico e nunca deve ser abandonado abruptamente", alerta o ginecologista. "Deve-se diminuir as doses aos poucos, para o corpo se ir adaptando", refere ainda o ex-presidente da Sociedade Portuguesa da Menopausa.

4. Há outras alternativas à terapia hormonal?

Sim, mas são menos eficazes do que a terapia hormonal. Para a secura vaginal, existem os estrogénios locais e hidratantes. São úteis para sintomas não muito intensos. Quanto aos afrontamentos, podem ser minorados, evitando as refeições picantes, o café e o álcool. Para além disso, ter as divisões da casa arejadas, tomar um duche de água fria ou tomar uma bebida fresca também ajuda.

5. É verdade que a menopausa pode provocar osteoporose?

Geralmente, a menopausa não implica necessariamente ter osteoporose. A perda de osso começa a partir dos 30 anos e, durante a menopausa, aumenta, apesar de, passados três ou quatro anos, voltar a reduzir. É indiscutível que durante esta etapa os ossos da mulher se tornam mais frágeis e, em alguns casos, podem sofrer fraturas, especialmente os das ancas, os da coluna vertebral e os dos pulsos.

Mas, exceto nas fracturas vertebrais, o osso parte-se se houver uma queda prévia e não de forma espontânea. Se tiver risco, verifique com o seu médico se deve fazer uma densiometria óssea. É um exame indolor que a vai ajudar conhecer o estado dos seus ossos e, dessa forma, a controlá-lo.

6. Há mulheres com mais propensão para a osteoporose?

Sim. Existem 10 fatores que indiciam um maior risco de vir a sofrer de osteoporose. Além do sexo feminino, a raça branca, a falta de hormonas sexuais e de ciclo menstrual, a menopausa precoce ou a puberdade tardia, a constituição pequena e magra, a pouca exposição à luz solar, a falta de atividade física, o consumo excessivo de álcool, café e tabaco e antecedentes familiares em pais e irmãos.

7. Como é que a menopausa afeta a sexualidade?

Uma em cada cinco mulheres em idade menopáusica queixa-se de secura vaginal e 12 em cada 100 tem algum tipo de dor durante as relações sexuais. Muitas afirmam tornarem-se mais irritadiças, impacientes, mal humoradas, com sintomas evidentes de depressão leve e muito afetadas pelas insónias.

E, em quase todos os casos, há uma claríssima alteração da sexualidade. Contudo, existem estudos que afirmam que se o companheiro compreender a situação e mostrar interesse por tudo o que a mulher está a atravessar, os sintomas físicos e psicológicos são menores.

8. A soja é eficaz na prevenção dos efeitos da menopausa?

Há muitas evidências de que as suas isoflavonas são benéficas na menopausa. As mulheres asiáticas, que incluem espontaneamente a soja na sua alimentação, são pouco atingidas pelos incómodos da menopausa, por exemplo. Mas, até agora, nenhum estudo científico demonstrou a sua eficácia. Por outro lado, existem investigações feitas com extratos de cimicifuga racemosa, uma planta originária da América do Norte, que garantem que esta planta ajuda a paliar grande parte dos sintomas, perfilando-se como uma das melhores alternativas naturais à terapia hormonal.

9. A menopausa aumenta o risco cardiovascular?

Nas mulheres, estas doenças aparecem mais tarde do que nos homens, um fator que se pode atribuir parcialmente à diminuição dos níveis de estrogénios durante a menopausa. Existem outros fatores de risco para ambos os sexos, como a hipertensão, o tabagismo, alterações no colesterol e diabetes mal tratada.

10. Os homens também têm a sua menopausa?

Sim, apesar dos especialistas preferirem falar em andropausa ou em síndrome de ADAM, sigla anglo-saxónica de deficiência de androgénios no homem idoso. A partir dos 45 anos, os homens sofrem uma descida hormonal, apesar de, por norma, serem poucos os que consultam o médico.

Os sintomas vão desde falta de concentração em tarefas intelectuais e da diminuição da memória, à perda de visão noturna, passando pela dificuldade em fazer esforços físicos, por uma mudança de feitio, por alterações na micção e/ou falta de apetite sexual. Para aliviar estes sintomas, é preciso saber qual o nível de testosterona e, se estiver baixo, reajustá-lo. As contraindicações da administração de testosterona são duas, doenças cardíacas e cancro, sobretudo da próstata.

Texto: Madalena Alçada Baptista com revisão científica de Mário Sousa (ginecologista e ex-presidente da Sociedade Portuguesa da Menopausa)