Os serviços de urgência são só para... urgências. Pode parecer redundante, mas não é isso que indicam médicos e enfermeiros que trabalham nesses serviços, a braços com inúmeras situações não urgentes e doentes com problemas crónicos.

As urgências não estão preparadas para gerir cuidados de saúde de rotina e foram, sim, criadas para lidar com casos em que a ida ao hospital é mesmo necessária. Por isso, aprenda a distingui-los e, antes de ir ao hospital, avalie bem a sua situação.

Doentes não urgentes

Por dia, cerca de 270 pessoas dirigem-se às Urgências do Hospital Garcia de Orta, em Almada, muitas sem serem casos urgentes, sublinha Francisca Delerue, médica directora do serviço. Dores crónicas, gripes e constipações são algumas situações mais frequentes que «não justificam de todo» uma ida ao hospital.

O tempo de espera, maior para os casos menos graves, uma média de quatro horas a nível nacional, e a dispersão dos cuidados médicos especializados por pessoas que deles não precisavam são os principais problemas destas idas não urgentes.

Cuidados continuados

A melhor opção para a saúde da sua família é ser seguida sempre pelo mesmo médico e ir às urgências apenas em situações muito excepcionais. Em caso de haver algum problema, deve tentar primeiro ser vista pelo seu médico habitual e só depois procurar outra solução.

Assim, o ideal é que, antes de uma eventual urgência, se informe sobre os locais aos quais se pode deslocar. Se tem um seguro de saúde leia bem todos os documentos da companhia seguradora para saber quais os seus direitos, nomeadamente em relação às unidades privadas com serviço de atendimento permanente.

Como gerir a crise

A primeira coisa a fazer é ligar para a linha Saúde 24 (808 24 24 24), onde um enfermeiro o orientará e, em caso de necessidade, o referenciará para o hospital, através de fax. A ida a um Centro de Saúde ou a um médico particular é outra forma de chegar ao hospital. Aí ser-lhe-á atribuída uma cor na triagem que determinará o tempo que vai esperar para ser atendida. 

Os doentes que já vierem referenciados têm prioridade dentro da cor em que ficam. A triagem é feita por um enfermeiro e baseia-se nas queixas do doente. Receber uma pulseira azul ou verde significa que não está numa situação urgente, pelo que o melhor a fazer pode ser voltar para casa e procurar outra solução.

Quando ir directamente

Situações agudas como acidentes, traumatismos, dor intensa e falta de ar justificam uma ida directa para o hospital. No caso de queixa de dor torácica, que pode indiciar um enfarte, por exemplo, todos os doentes no Hospital Garcia
de Orta «fazem à entrada um electrocardiograma e o técnico avisa o médico em caso de necessidade», explica Francisca Delerue.

Segundo a médica, «situações crónicas, ainda que com mais dor e febre mas sem outros sintomas são casos que não implicam uma ida às urgências. A grande afluência é o que piora o serviço». Segundo a responsável, «quanto menos grave é a situação, mais tempo se terá de esperar. As verdadeiras urgências são tratadas logo rapidamente».

Em termos práticos...

À chegada ao hospital, tem de fazer a inscrição e pagar a taxa moderadora. Acima dos 65 anos, esta é reduzida para metade e há isenções, como é o caso das crianças até aos 12 anos, grávidas, dadores de sangue e doentes crónicos.

Depois, segue para a sala de espera, irá ao enfermeiro fazer a triagem, volta para a sala de espera e depois ao médico. Aí poderá ter de fazer exames, terapêutica, que será administrada pelo enfermeiro e, nos casos mais graves, poderá haver internamento.

Leve consigo o cartão de utente do Serviço Nacional de Saúde, o cartão de beneficiário e o bilhete de identidade. Nas urgências, os doentes podem contar com a presença de um familiar ou amigo, uma medida legal que nem sempre é exequível, devido ao espaço do hospital.

Vá às urgências se tiver...

  • Dor intensa no peito ou qualquer outra dor intensa e persistente
  • Perda temporária de visão e dor de cabeça
  • Perda de consciência depois de uma pancada na cabeça
  • Debilidade ou incapacidade repentinas de se mexer ou falar
  • Possibilidade de intoxicação, de sobredosagem de medicamentos ou estupefacientes
  • Lesões na cabeça e nos olhos
  • Acidente de viação com ferimentos ligeiros
  • Febre alta
  • Ferimentos e hemorragias graves
  • Tosse ou vómitos com sangue
  • Possibilidade de fractura
  • Convulsões
  • Aborto espontâneo ou gestação com hemorragia vaginal
  • Trabalho de parto

Contactos úteis

Número Nacional de Emergência Médica: 112
Centro de Informação Anti-Venenos: 808 250 143
Saúde 24: 808 24 24 24

Texto: Joana Andrade com Francisca Delerue (directora do serviço de urgência do Hospital Garcia da Horta)