Nos dias que correm e na sociedade em que estamos inseridos já não comemos só por necessidades fisiológicas, como a fome. Comemos por uma série de razões e, a maior parte delas, só nos fazem mal e nos fazem engordar. E as crianças de hoje em dia parece que já nascem com isto incutido.

Ora, obviamente que, quando nascem não têm hábitos, rotinas ou vícios. E como é que os ganham? Como é que, de “um dia para o outro” olha para o seu filho e vê que ele está deitado no sofá, a ver televisão, com um pacote de bolachas e uma coca cola? E isto acontece todos os dias… Ou quase todos… E percebe que não é saudável, que não é o melhor comportamento que ele pode ter mas… O que poderá dizer-lhe? Como poderá, então, reagir perante esta situação?

Deparo-me, frequentemente, com pais desesperados sem saber o que podem fazer. Principalmente, sem saber como controlar o que os filhos comem. Porque chegam aos 10, 11 anos e começam a ter um poder diferente; seja um poder de compra (nos bares da escola ou no café ao lado); seja um poder persuasivo sobre os pais, avós ou tios. E a comida acaba por ser um escape. Um escape emocional, principalmente.

A comida como compensação

A comida acaba também por ser uma compensação – dos pais que estão pouco tempo com os filhos; dos avós que gostam de mimar os netos; dos tios que trazem doces todos os fins de semana. Enfim… A comida tem um poder muito grande sobre todas as crianças. E o grande problema é quando não consegue mais controlar esse poder.

O grande problema é quando se depara com toda esta situação e percebe que os 5 ou 10 kg a mais já foram há muito tempo e o seu filho já está com quase 100 kg.

O que fazer agora?

Parece-me que o ponto essencial é não deixar chegar a esta situação. A prevenção é sempre a melhor arma que temos; no entanto, quando as coisas acontecem assim, há algo a fazer. E urgentemente. Para que a situação não se agrave. Ainda mais…

  1. A primeira coisa a fazer é definir regras. Regras essas que irão permitir que o seu filho não chegue aos 100 quilos, sem que você dê por isso. Estipule um dia por semana (no máximo dois) para que ele possa escolher o que quer comer – por exemplo ao almoço e com direito a uma sobremesa. Mas faça-o com eles, para que ele também sinta que tem o poder de decisão e que você se importou com a opinião dele. Além disso, é fulcral explicar-lhe o porquê de estarem a ser definidas estas regras - aqui pode falar nas consequências da obesidade e, se achar conveniente, mostre-lhe também imagens de meninos com a idade dele e com obesidade.
  2. Incentive-o a ir consigo ao supermercado. É uma forma de ele a ajudar a escolher alimentos mais saudáveis (e um miminho para ele); de passarem mais tempo juntos e de ele não ficar fechado em casa a jogar consola ou a ver televisão.
  3. Também podem cozinhar juntos e preparem receitas saudáveis. Faça com que o seu filho se sinta útil a ajudá-la. Peça-lhe a opinião sobre que alimentos escolher para cozinharem.
  4. Também pode fazer jogos com os alimentos com o seu filho. Por exemplo, adivinhar o nome dos alimentos e dizer quais os que se devem comer e aqueles que só se podem comer uma vez por semana (estes jogos normalmente são feitos com crianças mais pequenas, mas é essencial começar desde pequeninos).
  5. Inscreva o seu filho em atividades desportivas, preferencialmente em grupo. Para além de conhecer novas pessoas e ter mais sociabilização, ainda pratica exercício físico, que é essencial a todos os níveis.
  6. Leve o seu filho a uma equipa multidisciplinar, com um nutricionista que o ensine a comer de forma mais adequada e com um psicólogo do emagrecimento que o ajude a modificar os comportamentos menos adaptativos que ele tem tido, seja com a comida ou com outro tipo de situações. É urgente agir agora e nunca se esqueça : não deixe para amanhã, o que pode fazer hoje. Amanhã poderá ser tarde demais…

Incentivar as crianças, principalmente os adolescentes, a terem uma alimentação saudável não é fácil. O fast-food, os doces, os fritos e as gorduras conseguem ter um grande poder sobre eles. O não desistir e o lutar pelos seus filhos e, principalmente, pela saúde deles parece-me que pode ainda ter uma força maior sobre todas estas questões. Não acha?

Por Mafalda Leitão, Psicóloga das Clínicas Em Forma