A imaginação é muito poderosa e, quando aliada à visão, o poder de controlo é, muitas vezes, posto em causa. Ou seja… Imagine que tinha acabado de almoçar (e até foi um almoço pesado, em que comeu bastante) e tinha de sair para beber café. O intuito da sua ida ao café seria apenas este: beber café. Mas entra lá e depressa se apercebe que não vai só beber um café.

Infelizmente, tem uma montra com coisas deliciosas à sua frente e sabe que não vai conseguir resistir. Bolos, uns com mais creme com outros; uns com mais chocolate, outros com mais chantaly… Há de tudo! E os seus olhos não conseguem desviar a total atenção daquela montra. Mas calma! São apenas os olhos que estão a ver? Porque é que já se sente assim? Com tantos desejos e tanta fome? Mas será mesmo fome? Não! A fome é uma sensação interna que não está a ser bem interpretada. Apenas isso! Isto são desejos. Desejos que surgem, por diversas situações. Esta é apenas mais uma delas: a situação em que os olhos também comem.

A este processo chamamos: ingestão externa; que diz respeito à desinibição ou perda do controlo que ocorre devido a factores externos intrínsecos aos alimentos ou à situação social em que são ingeridos. Portanto, há uma maior sensibilidade àquela montra com bolos deliciosos e, principalmente, isso pode estar relacionado com uma dieta que esteja a fazer (e não esteja a correr bem) ou com alguma carência momentânea.

Esta ingestão externa, ou esta maior sensibilidade a estímulos externos, é também responsável pelo desenvolvimento da obesidade (entre outras coisas).
Por isso, sim! Efetivamente os olhos também comem! Mas, no fundo, a mente é que os comanda; é que diz se há desejo ou não; diz se queremos ou não e, sobretudo, tem o poder de dizer que NÃO!

Porque parece-me fundamental o poder de saber dizer que não. O poder de saber resisitir àquilo que, muitas vezes, os olhos não conseguem. Mas essa resitência treina-se. Não é de um dia para o outro que vai ignorar os alimentos tentadores ou que nunca mais vai sentir desejos. Claro que não. É um caminho que temos de percorrer, juntos, para que as coisas se vão tornando mais fáceis, todos os dias e, principalmente, num hábito.

Temos de ensinar e treinar a mente a dizer que não e, além disso, a “dizer aos nossos olhos” que aqueles alimentos até podem ser tentadores, mas têm uma conotação muito negativa, a todos os níveis (ex. peso, saúde, auto estima, etc.). E os olhos aprenderão que há alimentos melhores para onde deverão olhar… Basta apenas experimentar e querer!

Por Mafalda Leitão, Psicóloga nas Clínicas Em Forma