Sem aditivos, muitas prateleiras dos supermercados estariam vazias. Praticamente todos os alimentos transformados contêm estas substâncias. A legislação europeia estabelece que apenas os aditivos «que passaram por uma avaliação completa da sua segurança podem ser utilizados. Além disso, o seu uso só pode ser autorizado se, tendo por base as evidências científicas disponíveis, o mesmo não colocar em risco a saúde do consumidor nas doses tipicamente utilizadas», lê-se no site do Conselho Europeu para a Informação Alimentar (eufic.org).

Já aconteceu, contudo, aditivos serem proibidos após o aparecimento de novas evidências científicas, como é o caso do corante vermelho 2G (E128), usado em cereais de pequeno- almoço e hambúrgueres, suspenso em 2007, depois de estudos em ratos terem sugerido que é carcinogénico. No final de 2015, estava em curso um processo de reavaliação de todos os aditivos autorizados pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, que deverá ficar concluído em 2020.

Há uma dose segura?

Mesmo que um aditivo seja considerado seguro, subsiste um problema, lembra a nutricionista Daniela Seabra. «A lei limita o teor máximo de um aditivo em determinado alimento, mas nós consumimos muitos alimentos com aditivos pelo que, na prática, poderá ser possível ultrapassar as doses aceitáveis, sobretudo no caso das crianças. Por exemplo, a lei limita a dose máxima do aspartame (adoçante) a 40 mg por quilo de peso corporal», refere.

«Numa criança de três anos, isto corresponde a 600 mg, só que os rótulos não são obrigados a referir a quantidade de aspartame que contêm, pelo que é impossível saber quando atingimos o limite», acrescenta ainda. Por outro lado, os cálculos relativos às doses diárias admissíveis são feitos com base em padrões de consumo normais, mas há cada vez mais oferta de produtos com aditivos.

«Há crianças que comem um pacote de pastilhas elásticas num dia. Além das gomas sem açúcar, dos chás com sabores... Agora até há bolachas com adoçantes. Sabemos que comer oito peças de fruta por dia é um excesso, mas qual a dose de pastilhas sem açúcar ou de chá com sabores que podemos consumir?», questiona.

«Estamos a consumir às escuras, pois não fazemos ideia da quantidade de aditivos nos produtos. Nunca foi testado o que acontece no organismo quando juntamos cinco a 20 aditivos e é isso que acontece na alimentação de muitas pessoas», sublinha ainda a especialista, numa altura em que se multiplicam estudos e investigações que condenam o uso destes produtos, assim como do excesso de açúcar, do sal, do trigo e dos laticínios.

Sinergias tóxicas

Porque os cálculos das doses tóxicas são feitos com base no peso corporal, as pessoas mais leves e as crianças são mais vulneráveis. Um estudo publicado no Journal of Toxicology and Environmental Health revelou a presença de adoçantes, como a sacarina, a sucralose e o acesulfamepotássio, em 65 por cento das amostras de leite materno analisadas, demonstrando que o bebé pode ser consumidor de aditivos através da amamentação.  As consequências deste consumo precoce ainda não foram estudadas.

No entanto, conhecem-se efeitos nefastos de determinados aditivos nas crianças, sobretudo quando combinados. Desde 2010, a União Europeia exige que os rótulos de produtos com os corantes tartrazina (E102), amarelo de quinoleína (E104), amarelo-alaranjado S ou amarelo-sol FCF (E110), azorrubina ou carmosina  (E122), vermelho-de-cochonilha A ou ponceau 4R (E124) ou vermelho-allura AC (E129) mencionem que «pode causar efeitos negativos na atividade e atenção das crianças».

A exigência veio no seguimento de um estudo duplo cego randomizado da Universidade de Southampton, em Inglaterra, que sugere que o consumo por crianças destes corantes e do conservante benzoato de sódio, durante uma semana, podia aumentar o risco de hiperatividade em alguns casos.

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Os que são considerados os piores alimentos

Segundo a nutricionista Daniela Seabra, no caso dos corantes, o ideal é evitar todos os que estão sob suspeita, «até porque são compostos sem valor nutricional, usados apenas para dar cor». No que toca a outros aditivos, nem todos são nefastos mas nada como usar o bom senso: «Num sumo de fruta, o ingrediente principal deve ser fruta. Pode ter, eventualmente, mais um aditivo ou outro mas são de evitar produtos com listas enormes de ingredientes».

No que toca ao rácio de aditivos versus ingredientes nutritivos, entre os piores alimentos «estão os refrigerantes, produtos já preparados e prontos a comer, alguns pães, bolachas, mousses e pudins pré-preparados.  Chamo-lhes alimentos teoricamente comestíveis», diz ainda a especialista.

O que é o E?

É atribuído aos aditivos um número e que garante que essa substância passou por todas as fases do processo de escrutínio. Geralmente, é designado pelo nome da classe funcional a que pertence, seguido do nome específico ou do número e atribuído, por exemplo, «Edulcorante: aspartame» ou «Edulcorante: E951». Para consultar a lista de aditivos autorizada pela EU, deve ler o regulamento n.° 1129/2011 da Comissão Europeia, de 11 de novembro de 2011, disponível em Eur-lex.europa.eu.

Texto: Bárbara Bettencourt