Se perder peso não é fácil, muito menos é manter essa perda e assegurar que tal não é feito à custa da saúde. Para o conseguir, há que mudar o foco. Do número de quilos perdidos em determinado (pouco) tempo, para a adoção contínua de um estilo de vida saudável e das melhores estratégias para alcançar o peso desejável para si. Se já se encontra neste paradigma de pensamento, terá percebido que deve ser guiado por uma equipa multidisciplinar de profissionais, com papéis complementares e a trabalhar em sinergia para o objetivo de a ajudar a ter sucesso.

A importância da ajuda de um endocrinologista

«Qualquer pessoa que tenha excesso de peso e queira emagrecer deve consultar um médico», advoga João Jácome de Castro, endocrinologista, justificando que «uma pessoa com excesso de peso tem, muitas vezes, risco aumentado de diabetes (se não for já diabética), hipertensão arterial e/ou hipercolesterolemia, entre outras doenças. E o excesso de peso associa-se a risco de doenças como a litíase da vesícula, algumas doenças malignas, problemas do aparelho locomotor e doenças respiratórias».

Neste sentido, «perder peso deve ser parte integrante de um projeto de melhoria da saúde e, porque não podemos tratar uma pessoa por peças, a intervenção do endocrinologista é muitíssimo importante como distribuidor de jogo entre a equipa», afirma ainda o especialista.

Os métodos de trabalho deste especialista

- Despiste de doenças endócrinas que podem estar na origem do excesso de peso, através de análises clínicas (sangue e urina), em colaboração com o médico de família.

- Avaliação física completa, incluindo avaliação cardíaca, e despiste e tratamento de doenças associadas à obesidade, como a diabetes, a hipertensão e a dislipidemia.

- Definição, com a restante equipa, de um plano de perda de peso, que prevê sempre alimentação e atividade física e, em casos mais graves, pode incluir a toma de fármacos ou o recurso a cirurgia.

- Encaminhamento para apoio psicológico ou, em alguns casos, psiquiátrico, quando há alterações comportamentais que o justifiquem.

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O papel dos nutricionistas e dos dietistas

«O início de um plano alimentar para a diminuição de peso deve ser sempre acompanhado por profissionais de saúde experientes na área, onde se inclui o dietista ou nutricionista», para «ir de encontro às necessidades nutricionais e preferências individuais, assegurando que ocorre de forma adequada», considera a dietista Patrícia Almeida Nunes. Maria Santana Lopes, nutricionista, concorda.

Esta intervenção justifica-se «se o objetivo for uma perda de peso acompanhada, saudável e estruturada», sublinha a especialista. Estas atividades são reguladas pela Ordem dos Nutricionistas, diferindo apenas quanto ao local de formação: os nutricionistas provêm do ensino superior universitário, os dietistas do ensino superior politécnico.

Os métodos de trabalho destes especialistas

- Avaliação nutricional (peso atual e ideal, altura, Índice de Massa Corporal, composição corporal, necessidades de calorias e nutrientes).

- Registo da história alimentar e de saúde (técnicas culinárias mais usadas, alergias, intolerâncias, hábitos e preferências, evolução do peso).

- Prescrição de um plano alimentar individualizado.

- Aconselhamento para assegurar que a perda de peso corresponde a uma reeducação alimentar e à adoção de um estilo de vida mais saudável.

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O papel do treinador pessoal ou do fisiologista do exercício

«Sabendo que a perda de peso tende a ser mais efetiva com a acumulação de mais de 200 minutos por semana em atividades físicas moderadas (caminhada a 5 km/hora) ou de mais de 150 minutos em atividades intensas (corrida a 8 km/hora) e que o atual estilo de vida nem sempre a favorece, todas as pessoas com excesso de peso ou obesidade beneficiariam do apoio de um fisiologista do exercício», defende Miguel Marcelino. Mas «o facto de ser um processo altamente individualizado torna-o especialmente recomendado a pessoas com patologias associadas e/ou fraca motivação», salienta Hugo Pereira.

Os métodos de trabalho deste especialista

- Avaliação de comportamentos relacionados com a atividade física e estilo de vida. «O gosto por diferentes tipos de atividade, a existência de problemas físicos, a prática de atividade física formal e informal, o tempo dedicado a comportamentos sedentários», enumera Miguel Marcelino.

- Planeamento de atividades e objetivos semanais, que devem ser «realistas, individuais, flexíveis, mensuráveis e desafiantes», para serem bem sucedidos a prazo.

- Acompanhamento da evolução do plano, «indicando muitas vezes ferramentas de auto-monitorização adequadas a cada um (pedómetros, acelerómetros, monitores de frequência cardíaca), que podem favorecer um sentimento de autonomia e competência, com impacto positivo nos níveis de motivação e nos resultados», refere o especialista.

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A intervenção do psicólogo

É «o suporte afetivo, o confidente e o guia durante o processo de perda de peso», descreve a psicóloga clínica Célia Francisco. Ajudar a «estruturar objetivos de vida e trabalhar dificuldades nas diversas áreas», fornecendo «ferramentas para lidar com a comida, estratégias de motivação para o exercício e ajudando a mudar comportamentos e formas de pensar» é a sua função, importante, sobretudo, para quem precisa de perder muito peso e tem «fome emocional, dificuldade em focar-se nos objetivos, características que, no conjunto, a fizeram aumentar de peso».

Os métodos de trabalho deste especialista

O confronto da realidade, a listagem de situações de vida e o debate de crenças erróneas são algumas técnicas usadas. Por exemplo, para combater a crença «Só serei feliz se for magro», poderá ser-lhe pedido que, em casa, complete as frases «Com excesso de peso sou…» e «Com menos peso sou...», escrevendo as respetivas características de personalidade. Em sessão, são discutidas as diferenças. O psicólogo «deverá ter uma atitude flexível e compreender as dificuldades e o estilo de vida de cada pessoa» para «adaptar as técnicas às situações» sublinha a psicóloga.

Outros especialistas importantes:

- Médico de família

Tem um papel importante, ao rastrear e encaminhar quem precisa para programas de perda de peso e fornecer dados fulcrais sobre o seu histórico e quadro atual de saúde.

- Cardiologista

O seu apoio é, com frequência, necessário, já que a obesidade se associa, muitas vezes, a diabetes, hipertensão e/ ou dislipidemia, aumentando o risco de doença cardíaca.

Veja na página seguinte: A formação dos técnicos de exercício e saúde

A formação dos técnicos de exercício e saúde

O IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude) licencia profissionais a exercerem atividade para a saúde e treino:

- Personal trainer ou fisiologista do exercício

Designações para profissionais que frequentaram uma licenciatura em Educação Física ou Ciências do Desporto, com ramo de especialização em Exercício e Saúde ou Bem-Estar, ou que, após essa licenciatura, se pós-graduaram ou fizeram um mestrado em áreas como Exercício e Saúde, Personal Training ou Treino Funcional.

- Fisiologista da gestão de peso

Profissionais que, além da formação de um fisiologista de exercício, têm uma formação adicional em gestão de peso. São especialistas que estudam a fisiologia associada à perda, manutenção e aumento do peso, identificando as causas e a melhor intervenção para um bom controlo do peso.

Texto: Rita Miguel com Célia Francisco (psicóloga clínica), Hugo Pereira (fisiologista do exercício), Maria Santana Lopes (nutricionista), Patrícia Almeida Nunes (dietista), Miguel Marcelino (fisiologista do exercício), João Jácome de Castro (endocrinologista) e Teresa Branco (fisiologista da gestão do peso)