De facto, a obesidade é reconhecida como doença pelas organizações de saúde incluindo a Organização Mundial da Saúde. Existem 1,4 milhões de pessoas com obesidade em Portugal, o que faz com que seja um dos países com maior taxa de obesidade da União Europeia.

Este é um problema para o qual não se deve pensar apenas no Verão, mas durante todo o ano e as pessoas com peso acima do normal devem procurar ajuda dos profissionais de saúde, para evitar a progressão para estádios de obesidade mais graves.

É do conhecimento comum que os hábitos alimentares e um estilo de vida saudável, não apenas durante um período de tempo reduzido (por exemplo, o Verão), mas durante toda a vida são fundamentais para se evitarem situações de excesso de peso, de obesidade e múltiplas doenças.

Fatores variados

A obesidade é influenciada por vários fatores como os hábitos alimentares, sedentarismo, fármacos, fatores genéticos, determinadas doenças endócrinas, alterações no microbioma intestinal, disruptores endócrinos no ambiente e na cadeia alimentar, entre outros. No entanto, os grandes promotores da obesidade, na sociedade atual, são o estilo de vida moderno associado a um aumento do consumo e diminuição do dispêndio energético. A disponibilidade alimentar é uma constante, e as tecnologias no trabalho, na diversão e na ocupação de tempos livres estão associadas ao sedentarismo.

Há ainda que considerar a influência dos fatores psicológicos, socioeconómicos (aumento de obesidade nas classes socioeconómicas mais desfavorecidas), aspetos de urbanização, sistema de transportes, aspetos culturais, indústria alimentar, meios de comunicação social e publicidade na prevalência da obesidade.

O excesso de peso e a obesidade estão associados a múltiplas doenças com impacto na qualidade de vida e na mortalidade, nomeadamente insulinorresistência, diabetes, dislipidemia aterogénica, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, inflamação vascular, apneia obstrutiva sono, doenças gastrointestinais e hepáticas (esteatose hepática, cirrose), síndrome do ovário poliquístico, infertilidade feminina, hipogonadismo masculino, artroses, insuficiência vascular, depressão, morte cardiovascular e vários cancros como mama, endométrio e próstata.

Doença crónica

Consequentemente, a obesidade é uma doença crónica com um grande impacto na Saúde Pública e nos sistemas de saúde. Contudo, e apesar da seriedade, do impacto e do aumento do foco público na doença, verifica-se que a Obesidade é ainda bastante subdiagnosticada e consequentemente subtratada.

A obesidade é uma patologia crónica, complexa e multifatorial, qualquer intervenção a curto prazo não terá impacto a longo prazo e está votada ao insucesso, ou seja, ao reganho ponderal, se a sua estratégia não passar antes de mais pela modificação permanente do estilo de vida.

Contudo, a obesidade é uma doença tratável e possível de prevenção, cujas consequências tardias podem ser evitadas, se precocemente procurar ajuda médica e estiver preparado para modificar o seu estilo de vida para toda a vida.

As pessoas com excesso ponderal devem estar informadas que pequenas perdas de peso ou perdas moderadas de peso têm impacto favorável na regressão de múltiplas comorbilidades e na qualidade de vida sem ser necessário ou obrigatório atingir o “peso ideal”. Está comprovado que perdas de 5% a 10% do peso têm benefícios, muito para além do aspeto físico, desde a redução de risco de diabetes mellitus tipo 2 ou regressão da diabetes à redução de fatores de risco cardiovasculares, como a hipertensão arterial e dislipidemia, melhoria na gravidade de apneia do sono e na qualidade de vida.

Tratamento

O tratamento da obesidade assenta nas alterações do comportamento alimentar (plano alimentar e promoção do exercício físico) e quando indicado no tratamento farmacológico e o cirúrgico.

Um dos grandes desafios do tratamento da obesidade é a manutenção do peso após a perda de peso.

Recentemente, encontra-se disponível em Portugal, uma nova opção de tratamento medicamentoso, que regula o apetite, diminui a sensação de fome, aumenta a sensação de satisfação e saciedade, além de facilitar a perda de peso, melhora o controlo da diabetes mellitus tipo 2 e da pressão arterial.

Para uma doença crónica e tão complexa como a obesidade em que a equipa multidisciplinar é fundamental, os fármacos a usar devem ser apenas aqueles que demonstraram em estudos científicos eficácia em termos de redução de peso e das comorbilidades associadas e segurança.

Um artigo da médica Paula Freitas, Presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade.