Devido ao elevado teor calórico (1g contém 9 kcal), este nutriente é muitas vezes associado a doenças como as doenças cardiovasculares. Contudo, é importante perceber que nem todas as gorduras são prejudiciais e o seu consumo é essencial à vida, dependendo da qualidade e das quantidades ingeridas.

Assim, não devemos abdicar deste macronutriente na nossa alimentação (ingestão lipídica entre 20-35%) e importa esclarecer relativamente às muitas opções de gorduras disponíveis no mercado, que podem confundir o consumidor na hora de escolher.

Mas afinal quais são as gorduras mais aconselhadas?

Está comprovado que as gorduras insaturadas são a melhor opção na nossa alimentação. São consideradas “boas” gorduras e encontram-se em quantidades elevadas nas sementes, peixes gordos, azeite, óleos e cremes vegetais. Sabe-se que têm efeito protetor relativamente às doenças coronárias atuando na diminuição do c-LDL (“mau” colesterol) e no aumento do c-HDL (“bom” colesterol).

Em contrapartida, as gorduras saturadas devem ser consumidas em menor quantidade (até 10% do VET) e derivam sobretudo dos produtos de origem animal, estando associadas ao aumento do c-LDL), com consequente aumento do risco de doenças cardiovasculares, se consumidas em excesso.

A ingestão de gorduras trans (gorduras processadas, produzidas industrialmente, com o objetivo de melhorar a textura e paladar dos alimentos) é a menos recomendada e deve ser tão inferior quanto possível (<1% do VET).

E para cozinhar?

Na seleção do tipo de gordura para cozinhar, não devemos escolher apenas os mais saudáveis e menos processados, mas também os que se mantêm estáveis a temperaturas elevadas. A degradação dos óleos a elevadas temperaturas gera substâncias tóxicas de diversos tipos que podem ter efeitos nocivos para a saúde.

No entanto, é importante ter presente que a formação destes compostos depende do tipo de óleo e da temperatura a que são submetidos os alimentos, podendo ser minorada com uma utilização correta dos óleos de fritura (temperatura, número de utilizações e tempo da fritura).

Quais as gorduras mais aconselhadas nas refeições do doente oncológico?

Óleos vegetais (girassol, soja e amendoim)

Os óleos vegetais foram, durante muito tempo, considerados mais saudáveis do que as restantes gorduras dado o seu elevado teor em gorduras insaturadas. Contudo, importa perceber que estes óleos têm também muitas vezes na sua composição gorduras trans, as menos benéficas à saúde, e nesse sentido é importante moderar a sua utilização.

Óleo de palma

Em contrapartida, o óleo de palma não contém gorduras trans e, por ser composto sobretudo por gordura monoinsaturada e saturada, é estável a elevadas temperaturas e poderá ser uma opção para confecionar, se adquirido na sua forma pura e não refinada. Contudo, importa ressalvar que nos últimos anos, pelo baixo custo desta gordura, tem sido utilizado massivamente na indústria alimentar, sendo submetido a processos de transformação que o tornam num óleo refinado e com potenciais efeitos adversos para a saúde. 

Óleo de coco

No que diz respeito ao óleo de coco, muito se tem especulado. Este é composto por triglicerídeos de cadeia média (TCM), que são uma fonte imediata de energia dada a rapidez com que entram na corrente sanguínea e que são transportados até ao fígado e músculos. Contudo, é importante não esquecer que os ácidos gordos que compõem o óleo de coco são saturados, sejam eles de cadeia longa ou média, e são reconhecidos pela sua capacidade de aumentar o LDL.

Assim sendo, é importante não recorrer ao óleo de coco como uma forma de prevenir e/ou tratar doenças cardiovasculares. Deve-se evitar o seu uso recorrente e complementar a sua ingestão com uma dieta equilibrada e variada.

No que diz respeito à confeção a temperaturas elevadas e, devido à sua elevada temperatura de degradação, as propriedades do óleo de coco não são alteradas quando estão em contato com o calor.

Azeite

Quando falamos em gordura saudável, é inevitável optarmos pelo azeite. Este é conhecido pelos seus efeitos promotores da saúde cardiovascular e acredita-se que seja a razão principal para os benefícios da dieta mediterrânica. Sabe-se também que pode aumentar os níveis de colesterol HDL e diminuir a quantidade de colesterol LDL na corrente sanguínea. Apesar dos ácidos gordos presentes serem insaturados e possuírem ligações duplas, o azeite é bastante resistente ao calor e pode ser usado também para cozinhar a temperaturas elevadas.

Atenção

A alimentação não pode ser vista como uma arma isolada contra o cancro, porém, é fundamental para a manutenção de um bom estado nutricional, potenciando, deste modo, os tratamentos e a recuperação. Não há nenhum elemento que tenha obrigatoriamente que estar presente em todos os planos alimentares, uma vez que cada caso deve ser acompanhado de forma individualizada, de acordo com as necessidades nutricionais estabelecidas, em que a desmistificação de mitos é fulcral.

Opte por gorduras saudáveis! Nunca que se esqueça que deverão ser evitadas dietas extremas, com grande restrição alimentar, pois estas estão associadas a um pior prognóstico. É aconselhável procurar receitas com alimentos do gosto do doente e que possam ser adaptadas a alguns sintomas ou necessidades individuais.

Por exemplo, no livro “Receitas Deliciosas para Doentes Oncológicos em Tratamento”, pode encontrar receitas saudáveis e originais (criadas por 15 conceituados Chefs), adaptadas a diferentes sintomas (como diarreia, náuseas, perda de apetite, boca seca, perda de sabor) e com contabilização calórica (que se torna bastante útil para situações em que é necessário recuperar ou controlar o peso). Pode encontrar mais informações no site www.nutricaooncologica.org.pt ou no Facebook em “Nutrição Oncológica”.

Os conselhos são de Sara Torcato Parreira (enfermeira) e Ana Rita Lopes (nutricionista) do Conselho Técnico-Cientifico do Projeto Nutrição Oncológica, da aTTitude, IPSS