Às voltas com uma vida preenchida, Nigella
Lawson descobriu que poderia ajudar os outros
com a sua experiência culinária.

Confessa que
«cozinha pelo prazer de comer e de apreciar
cada sabor» e a entrega ao que faz valeu-lhe
uma distinção única no Reino Unido para uma
escritora de culinária. Em 2001, foi considerada
a autora do ano pelos British Awards, graças
ao êxito de How to Be a Domestic Goddess.

A sua
mais recente obra, «Na Cozinha com Nigella»
(Civilização), tornou-se um bestseller, ultrapassando
o livro lançado, no mesmo ano, pelo seu
rival Jamie Oliver. Numa conversa descontraída,
Nigella Lawson deixa sugestões para uma
«culinária simples, como a própria vida».

Como explica o sucesso dos seus livros?

Em parte, por causa do programa televisivo.
Na série, as pessoas vêem o quanto cozinhar
pode ser simples, não há segredos. A maior parte
das pessoas não tem confiança quando cozinha.
E uma das razões para que se sintam inseguras
é porque, normalmente, não cozinham,
não têm esse hábito diário.

Outro dos motivos
é porque vêem aqueles pratos fantásticos e complicados
dos chefes de cozinha e pensam que
nunca conseguiriam fazer algo semelhante.
O que tento provar às pessoas é que cozinhar
deve fazer parte da vida, como algo que
serve para a facilitar e não para a complicar.

Que erros cometem as pessoas quando tentam
cozinhar?

Primeiro, não cozinham porque acham que
é demasiado complicado e, quando o fazem,
colocam demasiadas coisas. Querem dar um
espectáculo e não confiam nos seus instintos.
Cozinhar deixa de ser um prazer para se tornar
uma ameaça, um motivo de stress. Se pensarmos
que temos de ser perfeitos, existe demasiada
pressão.

E, do ponto de vista alimentar,
quais são as principais falhas
que detecta?

Quanto aos hábitos alimentares,
acredito que se um prato
não é bom é porque não é
realmente comida. Por isso,
nem sequer deve ser consumida.
Por que é que as pessoas
hão-de usar margarina em vez
de um bom azeite?

É realmente possível preparar refeições rápidas
e saborosas?

Sim. Geralmente, gastamos mais tempo nas
compras e a preparar as ementas do que propriamente
a cozinhar.

Que truques utiliza para optimizar o tempo na
cozinha?

Sempre que possível, faço compras através da
Internet. Depois, uso um pouco de tudo na
cozinha. Em vez de ementas complicadas, opto
por pratos clássicos e adapto-os para os simplificar,
substituindo os ingredientes.

Se, no
momento em que me preparo para cozinhar,
não tenho um determinado ingrediente procuro
outro que mantenha o sabor. Por vezes,
os resultados até são melhores do que a receita
original. Depois, recorro a pequenos truques
que tornam a comida mais saborosa como, por
exemplo, o azeite em alho.


Veja na página seguinte: A inspiração por detrás de pratos divinos

Com as suas propostas culinárias já convenceu
homens a cozinhar?

Alguns homens já vieram ter comigo dizer
que, graças a mim, passaram a cozinhar. Tento
sempre simplificar as coisas.

Por exemplo, faço questão que a receita fique na mesma página,
para evitar que se tenha de folhear o livro
enquanto se cozinha.

Existe a ideia de que no Reino Unido não se
dá importância tanta à comida como cá. Acredita que conseguirá
conquistar os leitores portugueses?

Adorava. Sei que a vossa cultura gastronómica é
fantástica. Não tenho a presunção de a superar,
mas é interessante preparar refeições que sejam
um misto cultural. É aí que reside o encanto de
cozinhar.

No fundo, as minhas propostas oferecem
uma universalidade herdada das minhas
viagens. Algumas sugestões vêm de Itália,
França, onde vivi. O mais importante é tirar o
melhor partido de cada uma e simplificá-las.

Pode sugerir uma receita para os leitores
estrearem «Na Cozinha com Nigella»?

Por exemplo, bacalhau fumado e feijão
cannellini, pois tem um misto de sabor português
com francês. Mas, o mais importante
é deixarem-se levar pelos seus instintos.
Quero que as pessoas vejam o livro
e pensem que conseguem fazer estes pratos e
até adaptá-los à sua maneira.

À la carte

Propostas saborosas
para cada ocasião:

Jantar a dois
«Costeletas
de porco com
mostarda ou bife fatiado
com limão e tominho.
Para sobremesa, se ele for
guloso, pudim de croissant e
caramelo. É delicioso e permite
reciclar croissants
que já não são frescos.»

Visita dos sogros
«Coq au riesling crocante de
amora.»

Encontro
de bons amigos

«Não perca tempo com as
entradas, pois os seus amigos
querem desfrutar da sua
presença. Aposte num prato
fácil de preparar, mas que
seja apetitoso. Adoro, por
exemplo, linguine com
cogumelos em limão,
alho e tomilho.»

Reunião familiar
«Peito de frango com romã e
hortelã, pois quase todas as
pessoas gostam de frango.
Outra opção que agrada a todas
as idades é frango e costeletas
de xarope de ácer.»

Texto: Fátima Lopes Cardoso
Foto: Artur