A autora do blogue Dias de uma Princesa passou a sua história para o papel.

Mais do que um livro sobre dietas, Catarina Beato partilha, agora, a sensação de reencontro de uma mulher com o seu corpo, como quem vive um novo amor.

«Cresci a acreditar que sou uma princesa. Sem familiares reais, nem títulos nobres», explica. 

«Mas porque o meu pai me disse que sou uma princesa. Iluminada por este sentimento, decidi partilhar o que sou e sinto num blogue», refere em entrevista à Prevenir. «Em determinada fase da vida, a princesa esqueceu-se de cuidar do seu corpo. Dos 55 quilos e 1,64 de altura de adolescente, passei para os 65 aos 19 anos, até chegar aos 72 quilos», diz.

«Quando estava mais angustiada, comia por compulsão, pelo efeito de sonolência e tranquilidade. O descuido acentuou-se com a doença do meu pai, que morreu vítima de cancro, no dia do meu 24º aniversário. Após uma semana quase sem comer, por desgosto, acordei com uma absoluta necessidade de me alimentar. Nessa manhã, descobri que estava grávida. Foi há 12 anos», recorda ainda.

A fome emocional

Numa primeira fase, limitou-se a ignorar o óbvio. «Coloquei sobre mim uma capa. Se alguém comentasse que estava gorda, dizia que me era indiferente, assumindo isso como real, apesar de não ser. Há quatro anos, quando fiquei desempregada, senti ter falhado em termos profissionais e tentei dedicar-me a aprender o que não sabia. Comprei o piano porque não sabia tocar, a máquina de costura porque queria aprender, passava o dia a fazer bolos e comia-os», relembra Catarina Beato.

«O que me estava a engordar era uma compensação emocional absurda através da comida. Na segunda gravidez, há dois anos, cheguei a pesar 90 quilos. Estava feliz e ter excesso de peso não me preocupava. Embora tenha recuperado o peso que tinha antes da gravidez, estava cansada do meu corpo», confessa a blogger, que também é jornalista.

Do tamanho 44 ao 36

No lançamento do seu primeiro livro «Os Dias de uma Princesa», o ano passado, quando publicaram fotografias nas redes sociais, não gostou do que viu. «Fiquei cheia de vergonha, uma sensação que nunca tinha sentido. Tinha 73 quilos. Vi-me muito gorda e com um ar desleixado. Apaguei cada foto em que aparecia. Decidi que era agora que iria cuidar de mim», assume.

Esse foi o clique para a mudança. «Decidi começar a comer melhor, a praticar exercício físico, a sentir-me ativa e a ganhar energia. Há imenso tempo que estava adormecida. A primeira semana foi de euforia. A segunda foi psicologicamente muito difícil e a terceira revelou-se muito complicada em termos físicos. A partir daí, este processo tornou-se um prazer porque o corpo retribuiu de forma muito imediata», refere.

Esse fator foi decisivo. «Ao conjugar a alimentação com o exercício físico, senti-me mais forte de dia para dia. O primeiro objetivo era chegar aos 63 quilos, o meu peso mais baixo que tinha em memória. Depois, foi gradual. Atingi os 60 quilos, mas estabilizei nos 56 quilos», afirma Catarina Beato.

Aprender a comer

«Apercebi-me que, no dia a dia, tendemos a fazer muitas restrições alimentares. Comemos muito do mesmo, o que nos tira o prazer de comer. Geralmente, as pessoas que se propõem a seguir uma dieta comem um grelhado com uma salada ou uma sopa. Para mim, isso é insustentável porque gosto muito de comida», afiança Catarina Beato.

«A minha aprendizagem passou pelo gosto de ir ao supermercado ou de estar com amigos que têm pequenas hortas e descobrir que aprecio abacate, diospiro, que é um fruto a que toda a vida torci o nariz, acelgas e outros vegetais. Temos um país imensamente rico em vegetais, fruta e até em carnes ou peixes, mas comemos sempre o mesmo», diz ainda a blogger.

Saber escolher

«É importante descobrir que há bons alimentos e diversificar. Aumentei a ingestão de fruta e vegetais, diminuí bastante o consumo de carne e de proteína animal. Continuo a comer carne, mas pouca. Bebo muita água. Tento ter uma refeição de qualidade, sentar-me e ter um prato composto por vegetais, um pouco de proteína e hidratos de carbono», acrescenta.

«As pessoas diabolizam muito os hidratos, mas também são necessários, apenas é importante conhecê-los. Deixei de consumir farináceos brancos. Em vez de farinha de trigo, arroz e batata, como quinoa, cuscuz, massa de espelta. A fruta também é uma fonte de hidratos de carbono», sublinha Catarina Beato.

O exercício físico

A actividade física foi outra das mudanças na vida da blogger. «Decidi deixar de ser sedentária. Comecei por correr sozinha. Agarrei nuns ténis velhos e, se tinha meia hora livre, ia para o jardim correr. Entretanto, percebi que precisava de orientação e investi algum dinheiro. Ao longo de três meses (uma hora por semana), fui acompanhada por um personal trainer», refere.

«Através de uma plataforma online, indicava-me, depois, os exercícios para praticar no resto da semana. Deu-me as bases para saber o que tenho de fazer. Para manter o peso, a alimentação tem de estar aliada a um estilo de vida ativo», aconselha Catarina Beato.

O reencontro comigo

«Ao fim de três meses, percebi que experienciei um processo de reencontro. Sintetizo esta sensação com a minha mãe, quando me dá um abraço e me diz que sou a menina dela, porque é o corpo que conhece. Por um lado, é uma sensação de reencontro comigo, uma paz e uma leveza. Por outro, a de acordar. Como escrevi no livro que lancei, nesta viagem, que durará toda a vida, a história de amor que interessa é aquela que vivemos com a única pessoa com que temos mesmo de lidar todos os segundos do dia», diz.

«Todo este processo me deu coisas boas. Fiz amigos, apaixonei-me. Em Portugal, vivemos muito à mesa, organizamos o nosso tempo em torno da comida e isso é possível manter. Já não é preciso recusar jantar com amigos por receio de não resistir à tentação, como acontecia no princípio. Há sempre opções saudáveis», acredita a blogger.

Os 4 conselhos de Catarina Beato:

1. É importante identificar as razões por que quer perder peso. Tem de ser uma decisão para toda a vida e não apenas uma vontade passageira.

2. Fazer uma lista dos motivos que nos levam a comer demais também ajuda, uma vez que permite descobrir as razões para estarmos a engordar.

3. Consultar um médico ou nutricionista antes de tentar perder peso é essencial para apurar se na origem do excesso de peso está, por exemplo, uma doença.

4. Importa partilhar com os amigos a nossa decisão e transmitir-lhes a ideia de que é séria, para que contribuam para o nosso sucesso.

Truques e detalhes que fazem diferença na dieta:

- Não ter em casa os alimentos mais fáceis de consumir nos momentos complicados (bolachas ou batatas fritas).

- Fazer uma lista de compras com alimentos saborosos e saudáveis.

- Comer de três em três horas. A fome retira a capacidade de escolher bem o que comemos.

- Variar os alimentos, ingerindo novas frutas, legumes e trazer algo que nunca provou do talho e da peixaria, por exemplo, são algumas das hipóteses a considerar.

- Ter sempre por perto uma lancheira para transportar fruta, cenouras cruas ou um ovo cozido.

Texto: Fátima Lopes Cardoso