Deve ter reparado seguramente na campanha «Porquê margarina», lançada em meados de 2008 com o intuito de informar a população de que a margarina é um amigo do coração e a melhor opção para barrar o pão.

Nós também e, na altura, ficámos surpreendidos. A iniciativa, levada a cabo pela Unilever Jerónimo Martins, contava com o apoio da Fundação Portuguesa de Cardiologia e do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz.

Quisemos saber mais e, para tal, entrevistámos Alva Seixas Martins, nutricionista, que esclareceu algumas dúvidas que subsistem em torno deste alimento...

Existem diferenças entre as margarinas para barrar e para cozinhar?

A margarina de culinária é mais saturada, para ser mais resistente ao aquecimento. As margarinas
para barrar são cada vez mais alimentos funcionais, ou seja, podem ter outros benefícios
adicionados como vitaminas (A, D, E), cálcio, ácidos gordos ómega 3 de cadeia longa.

Portanto, existem muitos tipos de margarinas. As mais sofisticadas, com outros propósitos para além de fornecerem gordura, encontram-se mais nas que são para barrar.

Mas podemos usar uma margarina para barrar
na culinária?

Depende do que pretende cozinhar e da margarina.
Em Portugal, a maioria das margarinas
não se enquadra nesta categoria. Por definição, uma margarina tem no mínimo 80 por cento de gordura e isso já quase só existe em algumas margarinas de culinária, as restantes para barrar têm à volta de 70 por cento de gordura e, nesse caso, chama-se creme
vegetal.

Depois ainda há as versões mais light, com menos de 40 por cento de gordura, ou seja, têm mais água, o que faz diferença no resultado final. Se, por exemplo, utilizar esta margarina para fazer um bolo ele vai crescer muito menos. Mas se tiver isso em consideração
e adaptar à receita não há inconveniente.

Devemos preferir a margarina à manteiga para barrar o pão?

Depende dos hábitos alimentares de cada um. Recomenda-se a redução da ingestão de gordura
saturada (na qual a manteiga é rica) e que não exceda os 8 a 10 por cento na alimentação.
As pessoas têm algum cuidado quando se trata
de gorduras visíveis, isto é, manteiga, ovos, azeite.

Mas se a alimentação for rica em gordura saturada escondida, por exemplo, grandes quantidades
de queijo, carnes gordas ou pratos contendo
shortenings (uma margarina industrial rica em gordura saturada utilizada para fritar e fazer folhados), mais vale optar pela margarina.

O que define uma boa margarina?

O seu perfil de gordura, ou seja, a quantidade
de gordura saturada, monoinsaturada e polinsaturada que contém. O ideal é que a primeira não represente mais do que ¼ da gordura total. Deve também ser livre de gorduras
trans.

A imagem errada que se tem da margarina deve-se, em parte, a trabalhos realizados
nos Estados Unidos onde se verificou uma quantidade enorme de ácidos gordos trans. Mas, neste aspecto, as margarinas portuguesas
estão muito bem.
Veja na página seguinte: Os perigos das gorduras trans

O que são gorduras trans?

São ácidos que se formam durante a digestão dos animais ruminantes e durante a hidrogenação,
o processamento de solidificação do óleo. Em Portugal, praticamente já não se utiliza este processo nas gorduras para barrar, usando-se outros para obter o mesmo efeito e sem produzir ácidos gordos trans.

Como podemos garantir que a margarina não contém esse tipo de gordura?

Os fabricantes responsáveis costumam incluir no rótulo o teor de ácidos gordos trans ou referir a inexistência dos mesmos. Para além disso, se a lista de ingredientes incluir óleos hidrogenados significa que são óleos saturados,
sem gorduras trans ou com uma quantidade
reduzida. Pelo contrário, se incluir óleos parcialmente hidrogenados tem de certeza gordura trans. As margarinas produzidas em Portugal têm cada vez menos gordura saturada e são boas alternativas.

Para cozinhar, qual é, na sua opinião, o melhor tipo de gordura?

Prefiro o azeite, mas há até algumas variedades
de óleo, de girassol ou colza, que têm uma composição, em termos de gordura, idêntica à do azeite virgem. A diferença é que o azeite para além de ser uma boa gordura, insaturada,
oferece outras substâncias benéficas que os óleos não têm, como os antioxidantes, com efeitos positivos na saúde.

A margarina dá-se bem com as altas temperaturas?

Não diria isso. A margarina, ao contrário do azeite, tem uma parte composta por água, permitindo fazer alguns molhos mas é uma gordura que não pode estar muito tempo a aquecer porque fica queimada.

Até que ponto é negativa a utilização de manteiga na culinária?

A manteiga tem o problema de ser uma gordura
saturada, algo que todos nós e especialmente
as pessoas com problemas de hipertensão,
colesterol e mulheres após a menopausa têm de reduzir. Isso faz-se deixando de comer quer margarinas duras quer manteiga, preferindo
o azeite, o óleo e as margarinas com uma consistência mais mole, sinal que têm pouca gordura saturada. Uma gordura rica em saturados é aquela que solidifica à temperatura
ambiente.

Texto: Vanda Oliveira com Alva Seixas Martins (nutricionista)