A disciplina alimentar aliada a um plano personalizado de exercício físico e acompanhamento médico tem demonstrado que, mesmo nos casos em que a balança ultrapassa os 100 quilos, é possível perder peso. O fenómeno de audiências televisivas «The Biggest Loser», que serve de exemplo a milhares de pessoas em todo o mundo e que teve em Portugal a sua própria versão com o programa «Peso Pesado», transmitido pela SIC, mostra como é preciso esforço e determinação para atingir o peso ideal. Se já viveu a experiência e atingiu a meta, descubra que hábitos deve adotar para se sentir bem com o seu corpo.

Mudar de hábitos

Quem já tentou perder peso vezes sem conta sabe que não há receitas fáceis para manter um índice de massa corporal (IMC) entre os 19 e os 25, valor considerado normal para um adulto. Manuel Carrageta, cardiologista, garante que «só é possível ser saudável se emagrecer implicar mudanças de estilo de vida que privilegiam uma alimentação equilibrada e um aumento da atividade física.

Mesmo uma redução de peso da ordem dos cinco por cento (por exemplo, uma pessoa que pese 80 quilos, perder quatro quilos) proporciona uma significativa melhoria da saúde com redução do risco de problemas como a diabetes e as doenças cardiovasculares».

Uma opinião que também é reforçada pela dietista Tânia Miguel. «Qualquer tratamento da obesidade deve ser planeado como uma alteração a longo prazo», esclarece a especialista. «A dieta deverá proporcionar uma redução do consumo energético abaixo das necessidades diárias», afirma ainda.

Saúde à mesa

Continuar a preferir alimentos de baixo nível calórico, mas ricos em nutrientes, como os vegetais, a fruta, o peixe, a carne magra, os cereais integrais e as leguminosas e evitar a alimentação rica em açúcares, gordura animal e sal é essencial. «Um grama de gordura, presente na carne vermelha, na manteiga, nos fritos ou nos doces contém quase o dobro das calorias que um grama de proteínas ou de hidratos de carbono», especifica Manuel Carrageta.

Tânia Miguel aconselha a «eleger o azeite para temperar e cozinhar, diminuir o sal e privilegiar as ervas aromáticas, além de beber entre litro e meio e dois litros de água diariamente». Os hábitos e os horários à mesa também são relevantes. «Coma sempre devagar e mastigue bem os alimentos, consuma duas a três peças de fruta por dia, de preferência com casca, ingira sopa ao almoço e ao jantar, acompanhe as refeições principais com um prato de salada ou legumes. Coma de três em três horas durante o dia e nunca faça uma pausa noturna superior a oito horas», defende.

Erros no ginásio

Perdas de peso bruscas e com níveis de exercício físico desproporcionais à capacidade do organismo podem ser prejudiciais e uma das principais causas de insucesso. Como alerta o coordenador do programa Peso Vital Holmes Place, Miguel Lucena, «um dos erros mais comuns nas pessoas com excesso de peso, que decidem contrariar os seus hábitos, é começarem a treinar de forma intensiva, o que poderá originar lesões, pois o corpo não está habituado a grandes níveis de atividade física, e tornar-se desmotivante pelo cansaço».

O personal trainer defende que «a intensidade inicial deve ser sempre moderada, de acordo com os resultados dos exames médicos e seguindo um plano que será aumentado à medida que o participante crie a sua rotina de treino». Mas não só. «A redução de peso será uma consequência da continuação da prática física, idealmente três vezes por semana e vitalícia», refere ainda.

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Rituais simples

Preocupação essencial do programa que coordena, Miguel Lucena aconselha a optar por «exercícios que mobilizem todo o corpo, pois têm maior consumo energético e gasto calórico, em detrimento de zonas específicas, como a barriga ou as pernas». E lembra que os benefícios que o exercício físico proporciona vão muito além da perda de peso.

«Contribui para o bem-estar geral, favorece o aumento da densidade óssea, dos níveis de auto-estima e previne inúmeras doenças», assegura. A adoção de rituais simples como andar mais a pé, em vez de usar o carro, mudar o canal de televisão no próprio aparelho podem fazer toda a diferença.

Recurso a fármacos

Embora menos significativos na maior parte dos casos do que o estilo de vida, os fatores de ordem genética, metabólica, endócrina e o consumo de medicamentos podem ser uma barreira ao emagrecimento. Em situações identificadas pelo médico, os fármacos podem ajudar a manter o peso ideal. Contudo, diz o cardiologista, «apenas devem ser usados após se ter tentado um programa de dieta e exercício durante pelo menos seis meses e o doente ainda mantiver um IMC igual ou superior a 30», adverte.

«Também se justifica usar fármacos se este estiver entre 27 e 29 e existir uma doença associada que seja agravada pela obesidade, como a diabetes de tipo 2, a hipertensão, a doença coronária ou a apneia obstrutiva do sono, entre outros», acrescenta ainda. De qualquer forma, «os especialistas consideram não ser seguro tomar medicamentos anti-obesidade durante mais de dois anos seguidos», adverte.

Cirurgia é a derradeira solução

Nos casos mais graves de obesidade mórbida, em que mesmo após dietas rigorosas, plano de exercícios personalizado e até medicação, a pessoa mantém um IMC de 40 e existe um problema de saúde associado à obesidade que se pode vir a agravar, a cirurgia bariátrica, em que é reduzido o tamanho do estômago, é o último recurso. Antes de optar pela cirurgia, o cardiologista afirma que «é necessário comparar as complicações relacionadas com a obesidade aos riscos que uma cirurgia como esta representa, pelo que o doente deve ser bem informado sobre o assunto e para a necessidade, imposta pela própria cirurgia, de modificar radicalmente a sua forma de comer».

Após a intervenção, «a pessoa tem de mudar a forma como come, porque o seu novo pequeno estômago terá grande dificuldade em acomodar a comida. Terá de fazer refeições muito pequenas, comer muito lentamente e mastigar muito bem, caso contrário sentirá dores abdominais e vómitos», avisa Manuel Carrageta.

A ajuda da estética

A cirurgia plástica pode ajudar a melhorar a aparência do corpo, após a perda acentuada de peso, em especial em zonas com tendência para a flacidez. Como explica o cirurgião Joaquim Seixas Martins, «técnicas como a abdominoplastia, a redução mamária, a dermolipectomia das coxas, o body lift das coxas, flancos e nádegas e, entre outros, a braquioplastia (cirurgia que elimina a flacidez dos braços) têm uma função de adjuvante a outras técnicas de perda de peso e melhoram o aspeto corporal. Podem também servir de estímulo para manter a dieta e o peso ideal».

A lipoaspiração, exemplifica, «tem a vantagem de ser dirigida aos locais que se pretende ver reduzidos, o que não acontece muitas vezes com a dieta. Quantas vezes se pretende reduzir o volume do abdómen (barriga) e se perde na face ou outros locais onde a gordura pode ser esteticamente útil?», aponta. No entanto, «a cirurgia plástica nunca deve ser encarada como uma forma de perder peso», conclui o especialista.

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Joaquim Seixas Martins (cirurgião plástico), Manuel Carrageta (cardiologista), Miguel Lucena (Personal Trainer) e Tânia Miguel (dietista)