A propósito do relançamento do seu livro “Juntos Conseguimos” conversámos com Ágata Roquette. Diz-nos que entre homens e mulheres há diferenças no que toca ao descontrolo à mesa e que os alimentos ditos mais saudáveis nem sempre são bons numa dieta. A nutricionista fala-nos dos seus alimentos preferidos. Ficam, ainda, dicas para um dia-a-dia mais diverso e saudável na hora de pegar nos talheres.

Antes de abordarmos este relançamento do seu livro “Juntos Conseguimos” e do suplemento “A Dieta Depois dos Excessos” gostaria que nos explicasse qual é a fórmula para chegar sempre com tanto sucesso aos seus leitores?

Julgo que o sucesso prende-se com a forma como chego a quem me lê, já que ultrapassei os meus problemas e dramas do excesso de peso e aumento repentino do mesmo. O problema dos aumentos súbitos de peso leva a uma alteração rápida a nível de saúde. Isto com reflexo na tensão alta, cansaço, colesterol e, também, a nível psicológico, o que rapidamente pode desencadear um distúrbio do comportamento alimentar. No meu caso revelou-se numa bulimia nervosa. Ter partilhado tudo isto com os leitores aproximou-me deles. O facto de a dieta ter virtudes também me aproximou de quem me lê. Não é uma dieta sem sabor, com pesagens rigorosas, monótona, mas sim saborosa e saciante. Permite que as pessoas sintam que não estão a fazer grande dieta e sim a habituar-se a um novo estilo de vida.

Em traços gerais quais são as grandes linhas orientadoras da sua dieta?

No primeiro mês reduzo o consumo de hidratos sem os tirar por completo. Ao baixar o consumo de hidratos, sentimos que controlamos melhor o apetite e já conseguimos dominar o que comemos. Com o apetite reduzido ou pelo menos controlado, insisto para que a pessoa tenha os mesmos hábitos da família, adaptando uma ou outra coisa. O acesso a receitas saborosas e rápidas torna tudo mais normal, sem grandes provações ou regras.  Ter um dia livre por semana permite a ida a uma festa, almoçar e jantar o que outros comem, matando saudades de algum prato ou sobremesa mais calórica. Existindo este equilíbrio, a pessoa fica emocionalmente calma e consegue levar a dieta descontraidamente.

No segundo mês para além do pão ou aveia que tínhamos de manhã, entram ao almoço mais algumas fontes de hidratos de carbono como as leguminosas, caso do feijão, grão, lentilhas; os cereais, como a quinoa, o bulgur e millet; também a batata-doce. Isto sem deixar  de parte o arroz e a massa que fazem parte dos nossos hábitos alimentares.

frutos secos

Em “Juntos Conseguimos” partilha com o leitor a sua experiência pessoal na perda de peso. O que tem a dizer às pessoas que se sentem desmotivadas, incapazes de iniciar um programa de perda de peso?

Só consegui perder peso quando a minha cabeça fez um clique: "estamos em janeiro, só caso a 22 de setembro. Se começar agora conseguirei perder qualquer coisa de certeza. Quantos quilos? Não sei, mas logo se vê". Foi esta calma que me permitiu chegar a junho com menos 20 kg. Não deixei de ir a festas, despedidas de solteira e casamentos. Pecava a nível alimentar, mas durante a semana respeitava o plano e conseguia evitar comer coisas que me fizessem mal. Claro que foi um período muito engraçado da minha vida. Ia casar, escolher o vestido, a casa onde viver, a quinta onde casar e consegui libertar-me aos poucos da obsessão que tinha com a comida. Com o nascimento do meu primeiro filho, percebi que tinha o problema da má relação com a comida totalmente resolvido. Uma pessoa desmotivada deve procurar um objetivo para perder peso. Mais saúde, mobilidade e bem-estar são grandes motivos.

Há sempre a fórmula certa para perder o excesso de peso?

Acho que não existe uma fórmula certa, existe um timing certo, quando a vida está estável a nível familiar e profissional. Por vezes não é fácil conciliar todos estes fatores.

No seu livro encontramos casos espantosos de pacientes que perderam 40, 50 e até mesmo 60 quilos. Estamos a falar de pessoas que seguiram uma dieta sem nunca passarem fome?

Sim, fome não passaram. No meu plano come-se bem porque há sempre alimentos a que as pessoas podem recorrer. O problema é que nós não comemos só por fome, mas sim por ansiedade, descompressão de um dia complicado e isso é que vai atrapalhando. Nestes testemunhos que passarem para o meu livro vemos que mesmo havendo obstáculos, as pessoas nunca perderam o foco e, com calma, foram perdendo peso.

Como nos definiria maus hábitos alimentares?

Homens e mulheres têm hábitos alimentares totalmente diferentes. Muitos dos homens que me chegam à consulta não tomam pequeno-almoço, almoçam de mais, não lancham e jantam ainda mais. As mulheres, por norma, procedem ao contrário. Fazem o pequeno-almoço, almoço e jantar em pequenas quantidades mas, fora das refeições, passam o dia a petiscar. Em especial ao fim do dia, antes do jantar, com as bolachas, batatas de pacote, frutos secos em excesso, etc.

Juntos Conseguimos

Tendo de eleger uma tabela com os dez alimentos imprescindíveis numa dieta, quais escolheria?

Pão ou aveia para o pequeno-almoço. Muitos legumes por forma a servirem diferentes confeções [legumes cozidos, grelhados, salteados, gratinados, desidratados, em puré]. Fruta, ovos, frutos secos, estes em quantidade muito controlada. Especiarias e ervas para que os pratos tenham muito sabor [caril, canela, manjericão, orégãos, entre muitas outras]; gelatina para enganar a falta de doces. Azeite, para temperar e fazer algum prato estufado ou no forno.

É verdade que nem sempre os alimentos mais saudáveis são os mais indicados num plano de dieta?

Sim, é o caso da fruta que, embora seja muito saudável, tem uma quantidade razoável de açúcar, a frutose. Na dieta de emagrecimento, permito uma peça de fruta por dia e, na manutenção, duas a três. Outro exemplo é o azeite. Embora seja saudável, uma colher de sopa tem 90 kcal aproximadamente. Logo, embora goste que os meus pacientes usem azeite nos seus cozinhados, antes de colocarem no prato deverão prescindir do excesso de molho.

Com os frutos secos passa-se o mesmo. Cem gramas equivalem a cerca de 698 kcal. Dai o cuidado na sua utilização. Aconselho três a quatro nozes por dia.

maçã

Com o livro “Juntos Conseguimos” encontramos o suplemento “A Dieta para Depois dos Excessos”. Trata-se de um plano traçado a 23 dias. Podemos dizer que é um plano de choque?

Nos 23 dias desta dieta para depois dos excessos, só a primeira semana é de choque. Seria perfeita para a semana logo a seguir, por exemplo, à Páscoa, ou após outro período de abusos grandes como umas férias. É uma semana em que tudo é praticamente cozido ou grelhado.

Ao lermos este guia torna-se evidente a importância de uma disciplina alimentar e força de vontade. É fácil seguir esta regra contornando um quotidiano atarefado, lineares de supermercados repletos de refeições prontas, comida rápida relativamente barata e acessível?

Não é fácil porque, infelizmente, cada vez trabalhamos mais, tendo menos tempo para nós, para nos organizarmos. Daí que o timing escolhido tenha de ser o certo. Aconselho os meus pacientes a preparem algumas coisas ao domingo para terem a vida facilitada durante a semana. Podem levar uma lancheira para o trabalho com os alimentos para os lanches. Confesso que quando fiz a minha dieta tive uma grande ajuda da minha mãe. Ela não trabalhava e eu chegava a casa e tinha o prato na mesa, pronto a comer, e sempre saboroso. Também almoçava muitas vezes no centro comercial, o que ajudou. Hoje em dia já existem algumas alternativas saudáveis em centros comerciais. Apenas temos um tabuleiro com o prato que escolhemos.

Finalmente. Dieta não tem de significar pratos sem graça. Pode dar-nos dois ou três exemplos de pratos criativos e saborosos inseridos num plano de dieta?

Legumes recheados como por exemplo curgete, beringelas, tomates ou pimentos recheados. Outros exemplos que gostaria de deixar: tomates recheados com atum iogurte natural e ervas.  Estes legumes podem também ser servidos em camadas, imitando a lasanha e variando no recheio. Uma outra refeição saborosa é a lasanha de salmão em que a couve-lombarda substitui a massa.
Nas opções de pequeno-almoço ou lanche saborosas incluo as panquecas de banana/ovo e canela, panquecas de linhaça, overnightoats.