Considerada a grande epidemia do século XXI, a obesidade duplicou desde 1980 e, em 2014, já havia 1,9 mil milhões de adultos com excesso de peso no mundo e, desses, mais de 600 milhões eram obesos, indicam dados da Organização Mundial da Saúde. Pior, estes valores, transversais a todas as faixas etárias e a todas as classes sociais, tenderão a aumentar, caso não se faça algo em contrário.

Embora Portugal tenha sido o primeiro país da Europa a reconhecê-la enquanto doença, «a obesidade é ainda bastante subdiagnosticada e, consequentemente, subtratada a nível nacional», afirma Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), no contexto da formação «Obesidade – As necessidades não satisfeitas da doença do século», a que a Prevenir assistiu.

O que é e como se diagnostica

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o excesso de peso e a obesidade são a acumulação excessiva ou anormal de gordura, que representa um risco para a saúde. Muitas vezes associada a outras doenças, é considerada epidemia gémea da diabetes e está associada a um risco aumentado de doenças cardiovasculares e de mortalidade, a obesidade é uma doença crónica, complexa e multifatorial.

Além disso, a obesidade pode ser influenciada por fatores genéticos, fisiológicos, ambientais e socioeconómicos. Em termos de diagnóstico, não basta o Índice de Massa Corporal (IMC). Na avaliação de um doente obeso, são vários os parâmetros a ter em conta e existem diferentes métodos que permitem diagnosticar a gravidade da doença.

O IMC é, geralmente, o método mais utilizado pelos especialistas. «À medida que aumenta o Índice de Massa Corporal, aumenta também o risco de doenças associadas e, nesse sentido, o excesso de peso (ou sobrecarga ponderal) já é considerado problemático», explica Paula Freitas, presidente da SPEO. O peso é importante, mas também é preciso avaliar doenças.

O estadiamento de Edmonton

Muito utilizado, o Estadiamento de Edmonton «tem em consideração as condições médicas do indivíduo, assim como possíveis fatores de risco pré-clínicos. Isto é, avalia não apenas a presença de doenças associadas à obesidade, como também o estado mental e limitações funcionais do indivíduo, permitindo avaliar de zero a quatro a gravidade da obesidade», explica Paula Freitas.

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Os diferentes tipos de obesidade

Estes são os que os especialistas tendem a apontar:

- Obesidade endógena

Quando a culpa é dos genes, a obesidade torna-se mais difícil de combater. «A obesidade endógena pode ser genética [é afetada por doenças monogenéticas] ou endócrina e representa apenas cinco por cento dos casos registados», refere a especialista. Regra geral, «neste tipo de obesidade, o ambiente tem um impacto muito reduzido», assegura a responsável.

«Surge na infância e está associada a alterações fenotípicas. É, muitas vezes, motivada por polidactilia [pessoas que nascem com um dedo a mais], debilidade intelectual, malformações cardíacas, etc…», explica Paula Freitas, presidente da SPEO.

- Obesidade exógena

O ambiente também conta. Grande parte dos casos de obesidade deve-se a comportamentos que propiciam o seu aparecimento. Segundo Paula Freitas, neste tipo de obesidade, a poligénica, «existem mais de 240 genes candidatos, alguns associados a um maior IMC e outros a um maior perímetro da cintura ou a diabetes, que aumentam a propensão do indivíduo para o aumento do peso».

«No entanto, o seu impacto é muito menor que o do ambiente, dieta e exercício físico. Isto é, embora o indivíduo possa ter uma maior propensão para o aumento de peso, tal só acontecerá perante um ambiente adverso, sendo causado por um desequilíbrio entre a ingestão calórica e o dispêndio energético», afirma ainda a responsável daquele organismo.

- Hipótese do gene poupador

Ao longo da evolução humana, fomos feitos para poupar energia e não para o dispêndio energético, e tudo graças ao gene poupador. «Foi esta fisiologia que nos permitiu sobreviver enquanto espécie e que influencia a nossa tendência para o ganho e para o reganho de peso», esclarece Paula Freitas, presidente da SPEO.

Além disso, temos ainda «mecanismos de adaptação que não nos permitem perder peso continuamente quando fazemos dieta e que fazem com que, mesmo sob dieta, após algum tempo exista uma estagnação na perda de peso, ou seja, não continuamos a emagrecer indefinidamente», sublinha a especialista.

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O que mudou nos últimos anos?

Muita coisa! «Mudou o ambiente em que vivemos, a disponibilidade alimentar, as horas a que comemos. Deixámos de ter horas fixas para as refeições e passámos a comer de forma contínua», realça Paula Freitas. «Aumentaram as porções e instalou-se um estilo de vida sedentário, fatores que, em combinação, geraram uma tendência para o aumento do peso», explica a especialista.

A obesidade em números

- 16,6% dos portugueses adultos são obesos, uma incidência que está acima da média europeia, que ronda os 15,9% em 2017.

- 3,5 milhões. Este é o número, preocupante, de pré-obesos em Portugal.

- 57% das pessoas obesas são mulheres.

- Um em cada seis adultos europeus é considerado obeso, revela um relatório da Eurostat.

- Três vezes mais. Nas últimas décadas, triplicou o número de obesos na Europa, tanto nos homens como nas mulheres.