Ainda vêm com o cheiro da terra e têm um sabor que não deixa margem para dúvidas. Estamos mesmo perante alimentos biológicos. Os cabazes de frutas e legumes entregues à porta de casa estão a fazer sucesso nas cidades. Fomos saber se vale mesmo a pena fazer uma encomenda. Chegam-nos a casa poucas horas depois de serem colhidos.

O conforto de não ter de sair de casa para ir ao supermercado e o privilégio de poder comer frutas e legumes no seu estado mais puro e com um sabor inconfundível, mesmo estando no centro da cidade, parecem ser o segredo do sucesso dos cabazes biológicos ou cabazes de frescos, como são, habitualmente, chamados.

Os seus empreendedores são, na maioria dos casos, pessoas que sempre tiveram uma ligação emocional à terra, porque os pais ou os avós já cultivavam, e eles quiseram dar continuidade a esse hábito familiar, mas, agora, fazendo chegar os seus frutos à cidade.

O que trazem os cabazes?

Trazem legumes, frutas, folhas verdes, especiarias, ervas para chás e alguns deles trazem produtos extra, também caseiros, como queijos, compotas e pão de lenha. «Os nossos produtos crescem da mesma forma como os que comemos em casa. Não levam químicos, pesticidas nem adubos e crescem ao natural, o que faz com que se diferenciem daqueles que se compram no supermercado», refere Raquel, que sempre viveu numa zona rural, em Palmela.

Há dois anos, se associou à irmã mais velha que teve sempre como hobbie a horta, para criarem a Cestinha Caramela. Três vezes por semana, o pai de Raquel entrega os cabazes diretamente na casa dos clientes, na zona de Lisboa e arredores, muitas vezes, com produtos colhidos ainda naquela manhã. Um negócio que surgiu de um hobbie, que começou por fornecer as amigas e as amigas das amigas, conta já com dezenas de clientes.

O Mercado Saloio é outro caso de sucesso e, além das frutas e dos legumes, disponibiliza queijos, compotas caseiras, pão de lenha e um pequeno mimo que os fornecedores Tatiana e Carlos fazem questão de dar aos seus clientes. Fazem as entregas em casa ou, se preferir, no trabalho, basta que indique essa preferência no seu pedido. Quando questionado sobre as características que diferenciam os seus produtos dos que estão disponíveis nos supermercados, Carlos é assertivo.

«Os nossos artigos são todos nacionais, mas têm uma outra característica muito importante que é a sua frescura. Enquanto muitos produtos, que até podem ser nacionais e de boa qualidade, permanecem longos períodos nas prateleiras dos supermercados, no Mercado Saloio, colhemos os produtos, nas manhãs das entregas (por vezes, ainda os vemos a sair da terra) e entregamo-los em casa das pessoas ou no escritório umas horas depois», refere.

Como fazer uma encomenda?

«Depois de ter provado uma salada preparada com folhas verdes, acabadas de chegar da terra, em casa de uma amiga, fiquei rendida aos cabazes biológicos. O aroma dos produtos, a sua frescura e o seu sabor intenso, não esquecendo a comodidade que é receber os legumes e as frutas em casa, sem ter de esperar nas filas de supermercado, levaram-me logo a fazer uma encomenda para minha casa também», conta-nos Sara, uma cliente da Cestinha Caramela que rapidamente ficou seduzida pela frescura e pela qualidade dos produtos vindos directamente do campo.

O processo é simples. Todas as semanas é enviada a lista dos produtos disponíveis (a sua disponibilidade varia de acordo com a sazonalidade), e nós só temos que escolher aqueles que queremos (cerca de 12 variedades) e enviar um e-mail com a nossa morada, o dia e a hora de entrega (a maioria dos fornecedores faz entregas até às 20.00 horas). Noutros casos, como acontece com o Mercado Saloio, a lista dos produtos é disponibilizada no blogue Mercadosaloio.blogspot.com ou no site e a encomenda processa-se da mesma forma, através de e-mail.

O blogue do Mercado Saloio disponibiliza também receitas que os clientes podem fazer com os produtos que adquiriram, e dicas para simplificar a lavagem e preservação dos legumes. Na Cestinha Caramela, as entregas são feitas às terças, quartas e sextas-feiras, nos concelhos de Lisboa, Cascais, Oeiras e Setúbal. No Mercado Saloio, os cabazes são também entregues nos mesmos dias, nos concelhos de Lisboa, Amadora, Sintra, Cascais e Oeiras. Mas existem vários fornecedores por todo o país.

São já dezenas de fornecedores que trabalham um negócio em expansão e que tem tudo para dar certo. «As pessoas tornaram-se mais exigentes, querem qualidade, frescura e bom preço e querem ver a cara de quem vende o produto. No fundo, é o regresso do merceeiro tradicional de bairro com duas mais-valias. A entrega à porta de casa num tempo em que todos os minutos são valiosos e que sabe a origem do que está a vender», refere Carlos Seixas, ex-jornalista, que, em 2012, decidiu fundar o Mercado Saloio com a sua mulher, Tatiana Reis.

«Tínhamos uma ligação à terra, uma quinta da família no Minho, e nada nos dava mais prazer do que comer as frutas e legumes da nossa propriedade, quando as recebíamos em Lisboa. Ouvíamos os nossos amigos a queixarem-se da falta de qualidade dos produtos que consumiam e percebemos que havia aqui uma oportunidade de negócio», justifica o empreendedor.

5 razões para ingerir produtos biológicos

1. Os alimentos biológicos são mais nutritivos. Alguns estudos mostram que os alimentos biológicos têm mais nutrientes benéficos, nomeadamente antioxidantes, do que os seus homólogos cultivados convencionalmente.

2. Diminuem o risco de alergias alimentares. Em pessoas com alergia a determinados alimentos, produtos químicos ou conservantes, os sintomas diminuem ou desaparecem por completo, quando consomem alimentos biológicos.

3. Contêm menos pesticidas e produtos químicos, como fungicidas, herbicidas e insecticidas que são utilizados na agricultura convencional e cujos resíduos permanecem nos alimentos que ingerimos.

4. São mais frescos e têm um sabor superior, por não conterem conservantes, substâncias aplicadas na agricultura convencional, para os alimentos durarem mais tempo.

5. A agricultura biológica é melhor para o ambiente. As práticas agrícolas orgânicas reduzem a poluição (ar, água e solo), economizam água, reduzem a erosão do solo, aumentam a fertilidade do solo e usam menos energia.

Cabaz biológico

Prós:

- O conforto de não ter de sair de casa para ir ao supermercado.

- Os fornecedores entregam os cabazes à porta de sua casa e, em alguns casos, até podem deixar o cabaz mesmo em cima da bancada da cozinha.

- A qualidade e a frescura dos produtos, visível na cor, no aroma e no sabor das frutas e legumes. As cebolas são doces, os morangos muito suculentos e as cenouras ainda vêm com a rama.

- Os benefícios de comer produtos biológicos que crescem de forma natural, livres de químicos e pesticidas, tal e qual como se tivesse uma horta em casa.

Contras

- Para as pessoas que moram sozinhas, um cabaz pode trazer uma quantidade excessiva que, depois, não é consumida e acaba por ser desperdiçada. Para estes casos, alguns fornecedores entregam um cabaz pequeno ou um mini-cabaz. Informe-se sobre essa possibilidade.

- Por serem livres de químicos e pesticidas, estes produtos são mais perecíveis e exigem um cuidado maior na sua preservação.

- A oferta é mais limitada do que no supermercado porque só estão disponíveis os produtos da época.

Onde encomendar?

A Horta à Porta, disponível em Hortaaporta.com, tem como zonas de entrega a cidade do Porto e a região do Grande Porto. O Mr. Cabaz, disponível em Mrcabaz.com, tem como zonas de entrega Gaia, Leça, Matosinhos e Porto. A Dona Horta, disponível em Donahorta.pt, faz entregas em Alcobaça, Caldas da Rainha, Leiria e Marinha Grande. Disponível em Quintadoarneiro.wordpress.com, a Quinta do Arneiro leva os seus produtos até Cascais, Lisboa, Mafra, Odivelas, Oeiras e Torres Vedras.

Mercado Saloio, disponível em Mercadosaloio.blogspot.pt, tem zonas de entrega em Cascais, Lisboa, Oeiras e Sintra. A Cestinha Caramela, disponível em Cestinhacaramelablogspot.pt, tem como zonas de entrega Cascais, Lisboa, Oeiras e Setúbal. Os preços variam entre 10 e 15 €. Cada cabaz traz, em média, cerca de 10 variedades de fruta, legumes e vegetais para uma semana.

Texto: Sofia Cardoso