Imagine uma dieta em que pudesse desfrutar sem sentimento de culpa das delícias a que não consegue resistir... Mais, uma dieta em que pudesse comer tudo o que gosta, sem se preocupar com as calorias que ingere.

À primeira vista, parece um paradoxo. mas uma nova investigação, realizada em inglaterra, prova-nos que não.

O truque está em estabelecer limites apenas durante dois dias por semana. Uma investigação realizada pelo Genesis Breast Cancer Prevention Centre, em inglaterra, concluiu que uma dieta que restringe a ingestão de calorias apenas durante dois dias por semana é tão eficaz como as dietas tradicionais que são seguidas diariamente. Uma descoberta que abre portas a um novo método de emagrecimento, mais fácil de manter já que, durante cinco dias, é possível continuar a comer o que gosta, sem qualquer restrição.

A investigação acompanhou dois grupos de 50 mulheres britânicas com excesso de peso, ao longo de seis meses, com o intuito de encontrar uma dieta alternativa que fosse eficaz na perda de peso e, em simultâneo, na prevenção do cancro da mama, já que o excesso de peso é um importante fator de risco.

Eficácia comprovada

A pesquisa britânica envolveu a análise dos efeitos de duas dietas distintas, definidas para cada grupo. Enquanto um grupo fazia uma dieta tradicional mediterrânica, com 1500 calorias diárias, durante sete dias, o segundo grupo seguia uma dieta de 650 calorias apenas durante dois dias por semana e nos restantes dias fazia a alimentação habitual. Ao fim de seis meses, os resultados mostraram que ambas as dietas são eficazes.

À semelhança do grupo que fez a dieta tradicional de sete dias, o grupo que seguiu a dieta intermitente de dois dias conseguiu perder cerca de seis quilos. No final de contas, os dois grupos estavam a ingerir em média o mesmo número de calorias por semana, mas o segredo do sucesso estava nos efeitos metabólicos desencadeados pela dieta intermitente.

Os efeitos invisíveis

A ingestão irregular de calorias que se faz durante a dieta de dois dias desencadeia uma série de alterações metabólicas no organismo que favorecem a perda de peso, ao interferirem na distribuição da gordura corporal. Os investigadores concluíram que, com uma dieta intermitente, os níveis de insulina descem significativamente, o que induz uma perda maior da massa gorda concentrada na barriga. A endocrinologista Isabel do Carmo explica o mecanismo.

«Durante os dois dias em que há uma redução brusca das calorias ingeridas, o pâncreas produz menos insulina e, quando temos menos insulina no sangue, o apetite está mais controlado e a gordura é distribuída de uma forma mais equilibrada pelo corpo. Ao invés, os níveis elevados de insulina no sangue aumentam o apetite e levam a gordura a acumular-se mais no abdómen», refere a especialista.

2 regras essenciais

1. Para induzir a perda de gordura, o plano alimentar dos dois dias não deve ultrapassar as 800 calorias diárias. Assim, acabará por ingerir, por semana, o mesmo número de calorias habitualmente definido para uma dieta tradicional de sete dias.

2. Depois de cinco dias a comer sem qualquer restrição calórica, o corte de calorias é abrupto quando chega ao primeiro dia de dieta. Para habituar o organismo e evitar os picos de fome, coma de três em três horas.

Esta dieta é ideal para «mulheres que frequentemente cometem fugas durante as dietas tradicionais e que não conseguem ingerir apenas as 1200/1500 calorias diárias recomendadas», refere Isabel do Carmo, endocrinologista, especialista em obesidade e comportamento alimentar.

A sua dieta

Este é o plano alimentar que deve seguir durante dois dias para perder entre três a seis quilos num mês:

DIA 1

Pequeno-almoço: 1 chá de limão + 1 fatia de pão de centeio + 1 fatia fina de peito de peru fumadoMeio da manhã: 1 iogurte magro (com baixo teor de açúcar e de gordura)Almoço: 1 salada de frango (rúcula + frango grelhado ou cozido + 3 colheres de milho) Lanche: 1 iogurte magro (com baixo teor de açúcar) + 100 gramas de framboesasJantar: 1 sopa de legumes (abóbora, cenoura e alho-francês) + 1 fatia média de melão com 1 fatia de presunto magro Ceia: 1 copo de leite com canela

DIA 2

Pequeno-almoço: 1 iogurte magro + 4 tostas extra finas com queijo magro de barrar Meio da manhã: 1 pêssego Almoço: Sopa de alface + 1 iogurte com gelatina (0% de açúcar) Lanche: 1 batido de banana (1 banana pequena com leite magro) Jantar: 1 posta de peixe grelhado + 1 batata pequena + 1 taça pequena de brócolos salteados ao alho Ceia: 1 maçã assada

A regra fundamental

Calendarize os dois dias da semana em que vai fazer dieta e siga-os à risca. Pode definir a segunda e a terça ou, se preferir, o fim de semana. O importante é que não ultrapasse os cinco dias de descanso.

Os resultados

«graças à restrição calórica abrupta que é feita durante dois dias, esta é uma dieta de resultados rápidos. A partir da primeira semana, já é possível notar uma perda de peso de um quilo e meio», assegura a dietista Patrícia Almeida Nunes.

5 regras para seguir nos outros cinco dias

A ideia é comer o que gosta, sem as preocupações habituais de quem quer perder peso.

Contudo, para não cair no risco de arruinar os resultados do seu esforço durante os dois dias em que está efetivamente de dieta, o melhor é seguir estas indicações:

1. Evite os alimentos de alta densidade energética, ou seja, todos aqueles que aportam mais de 400 calorias por 100 gramas, como, por exemplo, os produtos de pastelaria, as batatas fritas ou os molhos comerciais.

Só para ter uma ideia, uma fatia de bolo contém cerca de 500 calorias. Uma bola de berlim também anda nessa linha. Um queque, bolo muito rico em gordura, pode chegar às 600. Mesmo um dos bolos menos calórico, o pastel de nata, fornece cerca de 300 calorias. Não se deixe, por isso, iludir pela aparência ou pelo tamanho.

2. Se não consegue resistir aos doces, prefira gelados, gelatina, pudim de claras ou farófias.

3. Faça uma alimentação equilibrada e variada. Ao longo da semana, certifique-se que as suas refeições incluem os vários grupos de alimentos da roda/pirâmide alimentar, nomeadamente fornecedores de hidratos de carbono (pão, tostas, cereais, batata, arroz, massa ou leguminosas secas), proteínas (leite e derivados, carne, peixe, marisco ou ovos), gorduras (óleos vegetais e/ ou azeite, manteiga ou cremes vegetais) e vitaminas, minerais e fibra como frutas e produtos hortícolas.

4. Beba cerca de 1,5 litros de água por dia.

5. Mantenha a prática regular de exercício físico. Uma caminhada por dia, entre 20 a 30 minutos, é o suficiente.

Texto: Sofia Cardoso com Isabel do Carmo (endocrinologista) e Patrícia Almeida Nunes (dietista)