Sabia que mais de 200
doenças conhecidas são
transmitidas através de alimentos?
E que, nos meses de Verão, o
número de intoxicações provocadas
por água e alimentos
tem tendência a aumentar?


É que além do calor afectar
a conservação de alguns
produtos é, por excelência, a
época do ano em que temos
tendência a consumir mais
alimentos fora de casa.

Mas,
porque queremos que as suas
férias decorram de forma
tranquila, aconselhámo-nos
com alguns especialistas que
nos deram as coordenadas
essenciais para que as intoxicações
alimentares não
perturbem o seu descanso.

As intoxicações alimentares acontecem, por definição,
quando ingerimos alimentos
contaminados com
certos microrganismos.
De acordo com Jorge
Canena, gastrenterologista,
a intoxicação alimentar
«provoca náuseas, vómitos,
diarreia, mal-estar, febre
e dor abdominal». Porém,
isto não significa que todos
estes sintomas apareçam
sempre e em simultâneo.
Variam consoante «o tipo
de agente que provocou a
intoxicação, a quantidade de
alimentos que foi ingerida
e a resistência de cada um
de nós ao microrganismo»,
acrescenta. Mas, a nível
geral, quanto mais alimentos
contaminados ingerir, pior
vai ser o seu estado.

Os culpados

Os principais tipos de
agentes dividem-se em
quatro grandes grupos, nomeadamente
as bactérias, os parasitas,
as toxinas e os vírus. As
primeiras podem aparecer
«em ovos e derivados,
peixe e carne (congelados e
descongelados) ou mariscos»,
ilustra Jorge Canena. Os
parasitas encontram-se,
muitas vezes, presentes em
águas contaminadas. Já as
toxinas são «bactérias que
não actuam por elas mas
produzem as próprias toxinas,
tal como acontece no caso
dos enlatados estragados
(sardinhas ou atum) e
produtos que ultrapassem o
prazo de validade». Os vírus,
que não crescem na água
nem nos alimentos, «podem
ser apanhados como a gripe
e instalam-se no corpo,
provocando as chamadas
gastroenterites virais»,
explica Bento Charrua,
gastrenterologista.

Como actuar

Face às queixas associadas a
uma intoxicação alimentar,
a pessoa tem de avaliar se
deve ou não procurar ajuda
médica. Jorge Canena ressalva
que «uma gastroentrite é
considerada grave quando
os sintomas são intensos,
há desidratação e a pessoa
não consegue comer nem
beber nada». Nesses casos
deve procurar o médico de
família ou deslocar-se até ao hospital. Se for necessário
ficar internado, em média, «o
internamento dura entre 24
a 48 horas, quando se tratam
de jovens e adultos saudáveis»,
acrescenta. Regra geral, uma
semana depois a pessoa já está
recuperada e, «com algum
bom senso, pode voltar aos
poucos à dieta antiga».

Crianças e idosos

Existem pessoas mais
susceptíveis a ter intoxicações
alimentares do que outras. As
especialistas em engenheria
alimentar, Maria Margarida
Saraiva e Cristina Belo
Correia apontam um grupo
designado por YOPI's (Young,
Old, Pregnant and Immunocompromised
Patients), que se
refere às pessoas que estão
mais propensas a terem
intoxicações alimentares.
«O aumento da sensibilidade
é influenciado, entre
outros factores, pela idade,
estado imunitário, doença
debilitante subjacente,
stress, estado fisiológico,
baixa acidez gástrica,
estado nutricional e acção
medicamentosa», dizem.
Nestes casos, o internamento
hospitalar «pode ser
prolongado», adverte Jorge
Canena.

Veja na página seguinte: O que fazer durante um período de intoxicação alimentar

Durante a intoxicação alimentar

Enquanto a intoxicação
alimentar durar não deve
optar por alimentos ricos
em gorduras, demasiado
condimentados e, sobretudo,
ingira porções pequenas, «já
que a comida constitui um
estímulo para ir à casa-de-banho e, por isso, não deve
ser ingerida em grandes
quantidades», explica este
gastrenterologista.

Contudo,
é fundamental continuar a
comer porque as tais pequenas
doses trazem «aportes
energéticos ao organismo».
Da dieta devem fazer parte
essencialmente carnes e peixes
grelhados, batata cozida, arroz,
pão ou tostas.

«Em relação à
fruta, opte pela banana, um
bom produto antidiarreico (e
fonte de potássio), deixando
de parte kiwis ou ameixas que
apenas aceleram o trânsito
intestinal, tal como os legumes
e verduras, que deve mesmo
evitar», aconselha. Entre os
líquidos proibidos destacam-se
o leite, o álcool e o café.

Regras de ouro

«Os microrganismos
patogénicos e/ou as suas
toxinas, podem não
alterar o aspecto e sabor
dos alimentos», explicam
Maria Margarida Saraiva e
Cristina Belo Correia. Por
isso, deve sempre lembrar-se
que os alimentos «muito
manipulados e mantidos a
temperaturas não seguras são
os mais implicados em surtos
de toxinfecção alimentar.
Há que cumprir não só
os prazos de validade
como os tempos e
normas de confecção e
conservação», acrescentam.


O gastrenterologista Jorge
Canena refere outras formas
de proteger o organismo,
especialmente durante os
meses de Verão. «Deve só beber
água engarrafada, evitar gelo
em locais desconhecidos,
evitar as comidas de rua e
nunca comprar produtos
com aspecto duvidoso
e cuja origem desconheça», refere ainda.

Texto: Mariana Barros Correia com Bento Charrua e Jorge Canena (gastrenterologistas) e Maria Margarida Saraiva e Cristina Belo Correia (especialistas em Engenharia Alimentar)