Em novembro de 2014, o concelho de Vila Franca de Xira foi afetado por um surto de legionela que afetou sobretudo as freguesias de Vialonga, Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, causando 12 mortes e infetando 375 pessoas. Mais de dois anos depois ainda decorre um inquérito no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) da Comarca de Lisboa Norte-Vila Franca de Xira.

Em julho de 2016, o Ministério Público (MP) informou que sete pessoas e duas empresas, entre elas a Adubos de Portugal(ADP), foram constituídas arguidas no inquérito

A perceção dos afetados pelo surto de 'legionella' sobre este acontecimento e as suas consequências foi alvo de um estudo desenvolvido pelo investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa João Guerra, através de uma oficina participativa, na qual participaram 40 pessoas

Em declarações à agência Lusa, João Guerra disse que os sentimentos de revolta, incompreensão e de desconfiança são os principais sentimentos que "assolam" as vítimas do surto.

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"Em suma, podemos dizer que existe alguma incompreensão do processo de gestão e monitorização que falhou e deixou as vitimas com um sentimento de abandono, fazendo crescer o desalento e a desconfiança institucional", resumiu.

João Guerra referiu que uma das conclusões "mais interessantes" deste estudo é o facto dos inquiridos censurarem o comportamento da empresa responsável pela propagação do surto (ADP) mas não defenderem o seu encerramento. "Talvez devido à consciência dos problemas socioeconómicos do país, ninguém defendeu o encerramento da ADP. As pessoas acham que deve continuar a laborar, desde que respeitem todas as regras", ressalvou.

Este estudo focou também as consequências que resultaram do surto de 'legionella' e as marcas físicas, mentais e económicas que deixaram nas vítimas. Dificuldades respiratórias, distúrbios intestinais, falta de confiança, mudanças de humor e desemprego foram algumas delas.

O surto, o terceiro com mais casos em todo o mundo, teve início a 07 de novembro de 2014 e foi controlado em duas semanas. Na altura, o então ministro da Saúde, Paulo Macedo, realçou a resposta dos hospitais, que "trataram mais de 300 pneumonias".

A doença do legionário, provocada pela bactéria 'legionella pneumophila', contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares.