8 de outubro de 2013 - 09h07
Os cortes orçamentários realizados nos últimos anos ameaçam a proeminência científica e económica dos Estados Unidos, lamentaram na segunda-feira os vencedores do Nobel de Medicina 2013, três norte-americanos, um deles nascido na Alemanha.
"Durante os últimos cinco a sete anos, o orçamento dos Institutos Nacionais da Saúde (NIH), dos quais dependemos todos e que fizeram dos Estados Unidos o grande motor das descobertas e da inovação biomédica, diminuíram de forma importante", destacou James Rothman durante uma conferência de imprensa.
Professor de biologia molecular na Universidade de Yale, no Connecticut, este cientista foi galardoado esta segunda-feira pela Academia sueca ao lado de Randy Schekman, da Universidade da Califórnia em Berkeley e de Thomas Südhof, alemão naturalizado americano, de Stanford, Califórnia, pelos seus trabalhos sobre o mecanismo de transporte das moléculas no interior das células, que permitiu, principalmente, uma melhor compreensão da diabetes e da doença de Alzheimer.
"Cada vez é mais difícil para os jovens cientistas iniciarem uma carreira", lamenta James Rothman. "Se tiverem a sorte de obter fundos de pesquisa dos NIH, levarão anos" para ter um laboratório, enquanto que há 10 ou 15 anos levavam apenas um, lembrou.
Atualmente, "temo que não teria podido fazer as minhas investigações e tomar os riscos necessários" que me levaram ao prémio Nobel, insistiu o cientista, admitindo não ser "mais que um exemplo entre muitos pesquisadores".
Orçamento reduzido em 20% desde 2003
"Vejo hoje enormes possibilidades, mas também o desânimo dos jovens cientistas, que não devemos esquecer se quisermos manter este país na primeira categoria mundial", advertiu.
Dirigindo-se aos ultraconservadores religiosos americanos, Thomas Südhof afirmou que "a ciência está baseada na tradição judaico-cristã". "Devemos admitir como país que a ciência é o único caminho para um futuro durável", disse à agência France Presse. "Não se pode construir uma ponte, nem cuidar das pessoas ou fazer nada sem ciência", reforçou o vencedor do Nobel da Medicina.
Mas quando a ciência vai contra as crenças ideológicas ou religiosas, "é denegrida ou rejeitada, considerada um produto do pensamento de esquerda", lamentou Südhof.
Segundo o cientista, "o maior desafio é fazer a opinião pública entender que não se pode estar ao mesmo tempo a favor e contra a ciência", que "para a maioria das pessoas é compatível com a fé" religiosa, considerou.
O professor Schekman, por sua vez, destacou a importância dos investimentos federais e do estado da Califórnia nas suas investigações e afirmou que sem elas não teria podido fazer seu trabalho.
Ele também elogiou o ensino público superior, que permitiu aos seus pais de classe média mandar os cinco filhos para a universidade. Mas lamentou a redução dos recursos públicos e a atual explosão dos gastos com matrículas, que tornam mais difícil o acesso à educação universitária.
Francis Collins, diretor dos NHI, informou recentemente que o orçamento registou, em consequência da inflação, uma redução real de 20% desde 2003. Por outro lado, na primavera, o Congresso norte-americano aprovou cortes na ciência que acabaram com 20.000 mil postos de trabalho.
SAPO Saúde com AFP