4 de fevereiro de 2014 - 10h03
A vacinação contra o vírus do papiloma humano, principal responsável pelo cancro do colo do útero, não estava e continua a não estar indicada para tratar lesões pré-cancerosas já instaladas, mas um estudo norte-americano agora publicado mostrou que afinal a vacina faz mais do que se esperava.
Os resultados preliminares de um pequeno ensaio clínico mostram que, nalgumas mulheres com lesões pré-cancerosas no colo do útero, um tratamento à base de vacinas experimentais contra o vírus do papiloma humano – o HPV, responsável pela grande maioria destes cancros – consegue desencadear uma resposta imunitária capaz de fazer regredir as lesões.
Atualmente, no mercado, existem duas vacinas comercializadas para impedir a infeção por alguns tipos de HPV: o Gardasil e o Cervarix, embora a primeira seja a mais prescrita por especialistas em Portugal.
As vacinas comercializadas contra o HPV destinam-se a prevenir a infeção do organismo humano por este vírus sexualmente transmissível, nomeadamente nos jovens que ainda não iniciaram a sua vida sexual. 
Os autores do estudo publicado na revista Science Translational Medicine esperam agora que a vacinação possa também ganhar espaço enquanto terapêutica, substituindo o atual tratamento deste tipo de lesões, que consiste na sua remoção cirúrgica para que não evoluam para uma forma maligna.
Foram já testadas diversas vacinas experimentais destinadas a tratar lesões pré-cancerosas, mas sem resultados convincentes. Porém, a equipa liderada por Cornelia Trimble, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, optou por analisar o tecido lesioado e descobriu algo novo, escreve o jornal Público.
Estudo
Os cientistas vacinaram 12 mulheres que apresentavam lesões pré-cancerosas de alto grau associadas à estirpe do vírus HPV16 – que juntamente com a estirpe HPV18 causam a grande maioria dos cancros do colo do útero. Sabe-se que 30% a 50% das lesões de alto grau dão origem a cancros invasivos.

A equipa utilizou duas vacinas. Uma delas, feita à base de moléculas de ADN, provoca a produção pelo organismo de uma proteína específica do vírus HPV16 que pretende incitar o sistema imunitário das participantes a reconhecer essas células como “inimigas”. A outra vacina, feita à base de um vírus vivo, mas não infeccioso, é capaz de detetar e matar as células pré-cancerosas infetadas com as proteínas do HPV16 e ou HPV18.
Ao longo de oito semanas, a primeira vacina foi utilizada duas vezes, enquanto a segunda vacina foi administrada uma única vez no fim. Um grupo de seis participantes recebeu uma dose alta desta segunda vacina, enquanto outros dois grupos, de três participantes cada, receberam doses mais fracas. Sete semanas depois, todas as lesões foram removidas cirurgicamente.
Os cientistas constataram que em cinco das mulheres as lesões tinham desaparecido ou que no interior das lesões havia um aumento significativo dos níveis de linfócitos CD8 - células do sistema imunitário.
Outros indicadores da ativação do sistema imunitário também foram observados nas células do colo do útero de três das mulheres vacinadas. Até hoje, nenhuma das mulheres (a primeira foi vacinada em 2008 e a última em 2012) tornou a desenvolver lesões.
Os cientistas tencionam agora recrutar mais uma vintena de voluntárias para testar uma combinação das duas vacinas com um creme aplicado diretamente nas lesões, destinado a reforçar localmente a resposta imunitária.
SAPO Saúde


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