O vírus da gripe entra em mutação todos os anos e a vacina contra esta infeção é adaptada anualmente.

Dois estudos distintos, publicados na revista científica britânica Nature e na norte-americana Science, relatam a eficácia de uma vacina universal em ratos e macacos de laboratório, um resultado bem recebido por vários especialistas que enfatizam, no entanto, que uma vacina humana não é uma realidade assim tão próxima.

Ambas as equipas de investigadores concentraram a investigação na parte do vírus que é o principal alvo dos anticorpos: a hemaglutinina. Esta proteína, presente na superfície do vírus da gripe, permite a sua fixação nas células humanas.

No estudo publicado na revista Nature, os cientistas do Instituto Americano de Alergia e Doenças Infecciosas indicam que testaram com sucesso as suas vacinas em ratos e furões, animais que apresentam os mesmos sintomas que os seres humanos.

Atualização anual

As vacinas tradicionais contra a gripe utilizam vírus inativos (injetáveis) ou atenuados (spray nasal) e são atualizadas a cada ano com base nas estirpes circulantes no outro hemisfério.

Os vírus da gripe evoluem constantemente. Na vez de atacar a cabeça da hemaglutinina, em constante mutação, os investigadores concentraram-se agora no tronco desta proteína, mais estável.

Ao ligar esta base proveniente de um vírus A (H1N1) a nanopartículas e combinando-a com um adjuvante, os cientistas conseguiram imunizar os ratinhos e furões antes de injetarem doses letais do vírus A (H5N1).

Embora a vacina não tenha conseguido neutralizar completamente o vírus H5N1, protegeu os ratos e os furões.

"Esta descoberta é um passo importante para o desenvolvimento de uma vacina universal contra a gripe", indica Gary Nabel, responsável pelo estudo, que acredita que os componentes da vacina não devem inicialmente substituir as vacinas tradicionais, mas apenas "completá-las".

O outro estudo publicado na revista Science, um grupo de investigadores liderados por Antoinette Impagliazzo do Instituto de Vacinas Crucell, um centro que pertence ao laboratório Janssen, relata ter testado uma vacina que confere proteção completa para ratinhos e uma resposta imunitária considerável em macacos.

Estes cientistas também trabalham na base da hemaglutinina, esforçando-se para encontrar configurações capazes de se ligar aos anticorpos monoclonais de amplo espectro, atingindo várias estirpes virais.

"O candidato final, chamado mini-HA, tem demonstrado uma capacidade única de induzir uma resposta imunitária ampla e protetora em ratinhos e primatas não humanos", ressaltam os investigadores, que estimam ter avançado em direção a uma vacina universal contra a gripe.

"Este é um avanço excitante", considerou Sarah Gilbert, professora da Universidade de Oxford. "Mas as novas vacinas ainda deverão passar por testes clínicos para ver como funcionam em seres humanos (...), o que poderá levar vários anos", acrescentou.

"Para uma verdadeira proteção universal, será necessário garantir a proteção conferida por outras estirpes virais", afirmou, por sua vez, Garry Lynch, um especialista australiano.

Para o professor Bruno Lina, professor de virologia em Lyon e diretor do centro de referência francês para a gripe, "esta é uma interessante linha de trabalho".

Bruno Lina comenta também que os ratos têm resposta imune muito diferentes dos humanos, logo não é possível criar rapidamente uma vacina para proteger os seres humanos.