O órgão artificial "é projetado para dar continuidade ao que ocorre naturalmente no útero", disse Alan Flake, um cirurgião fetal do Hospital Infantil da Filadélfia e autor sénior de um estudo publicado na revista Nature Communications que descreve a descoberta.

Por isso "estou otimista de que vamos melhorar o que se faz atualmente para bebés extremamente prematuros", disse Flake aos jornalistas por telefone.

Hoje, as crianças nascidas com 22 ou 23 semanas de gestação, em vez de 40, têm apenas 50% de hipóteses de sobreviver e, daquelas que sobrevivem, 90% pode desenvolver graves problemas de saúde.

O novo sistema imita a vida no útero e poderia, se aprovado para o uso humano, melhorar drasticamente essas probabilidades. Os cientistas estão a trabalhar com a agência de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos (FDA) para preparar testes em humanos, que podem começar dentro de três anos.

O feto - respirando líquido, como faria no útero - permanece numa bolsa de plástico transparente com um líquido amniótico sintético. "Um ambiente fluido é fundamental para o desenvolvimento fetal", disse Flake.

Minutos após nascer, o cordeiro foi colocado na bolsa, e o seu cordão umbilical foi conectado a uma máquina externa que remove CO2 e adiciona oxigénio ao sangue. Não há bombas mecânicas - é o coração do feto que mantém as coisas em movimento.

Os tratamentos disponíveis atualmente para bebés prematuros reduziram o limite de sobrevivência para 22 ou 23 semanas, mas têm um custo alto.

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Além de uma alta taxa de mortalidade, os pequenos pulmões e corações dos prematuros são mal equipados para suportar o trauma de intubação, ventiladores e bombas artificiais.

Bebés extremamente prematuros que sobrevivem muitas vezes têm infeções pulmonares crónicas e outros problemas de saúde incapacitantes. "Uma das principais vantagens do nosso sistema é evitar a insuficiência cardíaca, que vem do desequilíbrio dos fluxos sanguíneos criados com circuitos de bomba", disse o coautor Marcus Davey, investigador do Centro de Pesquisa Fetal do hospital e engenheiro líder do projeto.

Para o estudo, os pesquisadores testaram seis cordeiros prematuros transferidos do útero das mães para o dispositivo entre 105 e 112 dias de gestação - o equivalente a 23 a 24 semanas em humanos. Depois, ficaram nos úteros artificiais por até 28 dias.

Em humanos, o período de alto risco para bebés prematuros é de 22 a 27 semanas. "Em 28 semanas, está-se num ponto onde a mortalidade da prematuridade está terminada", disse Flake.

Enquanto estavam nos aparelhos, "os cordeiros mostraram respiração e deglutição normais, abriam os olhos, a sua lã cresceu, tornavam-se mais ativos, e tiveram crescimento, função neurológica e maturação de órgãos normais", disse Flake.