Em declarações à agência Lusa, o presidente do movimento, Manuel Villas Boas, considerou urgente parar o subfinanciamento do sistema de saúde.

Para este responsável, é necessário “investir mais na saúde”, por um lado, e “tratar com dignidade os profissionais que trabalham diariamente” no setor, por outro, para que possam prestar “o melhor serviço possível aos utentes”.

Um relatório divulgado hoje pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), que analisou a saúde dos portugueses após a intervenção da 'troika', refere que em Portugal faltam enfermeiros, os médicos estão mal distribuídos, as taxas moderadoras são elevadas e é cada vez mais difícil o acesso a camas hospitalares e a medicamentos.

O documento concluiu que, além de o número de enfermeiros estar “claramente abaixo” da média da OCDE (países desenvolvidos), os médicos estão mal distribuídos e o valor das taxas moderadoras afasta os utentes.

O Relatório da Primavera 2015 assinala que “persiste um rácio de médicos por habitante adequado, mas inadequadamente distribuído pelo território com clara vantagem para as regiões urbanas”.

Para Manuel Villas Boas, o relatório vem confirmar aquilo que o Movimento dos Utentes da Saúde tem procurado tornar público no que diz respeito aos problemas existentes no setor, nomeadamente as taxas moderadoras e a dificuldade cada vez maior no acesso à prestação de cuidados médicos.

“Se o ministro vem dizer que não são cortes cegos eliminar camas de hospitais e agora, apressadamente, tenta repor essas camas, se o fecho indiscriminado de centros de saúde não tem a ver com cortes cegos, contraria aquilo que o ministro disse há dias”, sustentou, em declarações à agência Lusa.

De acordo com o responsável, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está “a braços com dificuldades” porque a falta de centros de saúde está a levar a que utentes que ainda se deslocam aos cuidados médicos entupam as urgências dos hospitais.

“A má distribuição dos profissionais causa grandes problemas a nível nacional, de norte a sul do país, para além da emigração de médicos e de enfermeiros”, frisou.

Para o líder do movimento dos utentes, o relatório hoje apresentado “contraria completamente o que o ministro “tem tentado dizer para satisfação do ego” e “dá razão às chamadas de atenção que o movimento tem feito.

Baseando-se nos dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), o Observatório indica que houve uma diminuição de médicos de 1,4% de 2012 para 2013, ao mesmo tempo que se verificou um incremento de 13,02% no número de médicos em internato.

Sobre o acesso aos serviços de urgência, os peritos do OPSS revelam que, “a par com uma redução da procura, verificada ao longo dos últimos anos, que coincide temporalmente com a alteração das taxas moderadoras, existem fenómenos sazonais, associados às previsíveis vagas de calor e picos de gripe, com aparente excesso de procura e/ou incapacidade de resposta dos serviços”.