Denominado “um amigo especial”, o projeto pretende “articular a terapia familiar sistémica com a relação que os seres humanos têm com os cães” para intervir em situações como “problemas relacionais entre os casais ou famílias com filhos, problemas comportamentais, casos de doença crónica, situações de luto ou tentativas de suicídio”, explicou à agência Lusa a coordenadora, Fátima Pais.

A ideia partiu da médica de saúde pública e terapeuta familiar na Unidade Local de Saúde de Óbidos e tem estado a ser desenvolvida a título experimental com o Canil Municipal.

Dois adolescentes “com problemas comportamentais e dificuldades em aceitar regras” e um casal “com problemas relacionais” foram os escolhidos para testar o envolvimento dos cães na terapia, revelando “resultados muito positivos”, segundo a médica.

Nos casos estudados, a relação com os cães escolhidos pelo veterinário do canil como os mais adequados para aquelas situações contribuiu para “uma mudança comportamental”, quer a nível dos adolescentes envolvidos, quer das próprias famílias.

“A responsabilidade do jovem em relação ao cão com o qual desenvolveu atividades melhorou a sua capacidade de aceitar regras e o seu comportamento na escola e em casa”, o que, segundo a terapeuta, resultou “no reconhecimento das suas capacidades por parte da família e dos colegas da escola”.

O mesmo aconteceu com o casal, que “superou dificuldades em fazer um percurso conjunto ao fazer em conjunto atividades e passeios com o cão, acabando por perceber, em contexto de terapia, que são capazes de trilhar o mesmo caminho”, acrescentou.

Exemplos que os mentores do projeto querem ver alargados a mais pessoas seguidas na terapia e a outros cães do canil, escolhidos, segundo o veterinário João Almeida, “de acordo com a pessoa e o problema em causa, podendo ser mais dóceis e vocacionados para companhia, ou mais ativos para estimularem a pessoa a ter mais atividade”, exemplificou.

Todos os cães envolvidos terão “treinamento em obediência e serão vacinados e esterilizados, o que é um elemento facilitador para posteriores adoções”, acrescentou, lembrando que a adoção “não tem de ser feitas pelos envolvidos na terapia”.

O desenvolvimento do projeto implica um investimento de 49.360 euros, dos quais 23.122 euros podem ser financiados através de uma candidatura ao programa Missão Sorriso.

“Se formos comtemplados permitirá ter, durante um ano, um treinador comportamental que fará o treino do cães e dará formação ao funcionário do canil para que possa no futuro treinar os cães que temos para adoção”, sublinhou João Almeida.

Caso o financiamento não seja obtido, “a parceria vai manter-se e continuaremos a promover esta relação benéfica para ambas as partes, embora a uma escala menor do que aquela que poderemos alcançar se tivermos apoios”, disse Fátima Pais.