A unidade, que ganhou o 1.º prémio da II edição do concurso Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem da Ordem dos Enfermeiro com este projeto, denominado "Iceberg", desenvolve o seu trabalho desde janeiro e dirige-se aos utentes de saúde de Cascais.

Em entrevista à Lusa, a enfermeira Maria João Belo adiantou que, no arranque do projeto, os números de prevalência de violência doméstica eram muito mais baixos do que os atuais, embora não tenha ainda dados concretos.

A técnica disse que o problema está, sobretudo, no facto de muitas mulheres não reconhecerem os primeiros sinais de agressão e só procurarem ajuda quando há violência física.

"Temos de refletir muito, porque se calhar não se está a conseguir apanhar os casos cedo. Muitas mulheres acham que o controlo é uma forma de amor, não o consideram uma agressão ou um abuso. Só quando há um descontrolo físico é que consideram um problema", sustentou.

Maria João Belo explicou que o objetivo do projeto é "despertar também os profissionais de saúde", considerando que a violência doméstica é "um problema de saúde pública e está infra diagnosticado".

"Temos de apostar na prevenção o mais cedo possível", frisou.

A USF Artemisa, composta por uma equipa de 22 pessoas, tem um manual de procedimentos que permite que o trabalho de rastreio, avaliação de risco e encaminhamento seja feito sempre da mesma forma.

"Implementamos e avaliamos, através do rastreio, com questões sobre violência psicológica, violência social e violência física e há uma questão para mulheres grávidas", esclareceu.

O trabalho, segundo a enfermeira, exige muita dedicação, mas é, sobretudo, "muito sofrido".

"Somos os depositários de relatos constrangedores que põem em causa a vida como nós a encaramos, mas somos muito unidos e estamos sempre a partilhar as experiências e a tentar conseguir que não sejamos muito afetados por elas", justificou.

Na quarta-feira assinala-se o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres.