Mal as enfermeiras Teresa Figueiredo e Natércia Gonçalves abrem as portas da “Unidade Móvel Saúde em Movimento” os imigrantes, a maioria indianos e paquistaneses, e alguns moradores do bairro começam a aproximar-se para receber cuidados de saúde.

Muitos não sabem uma única palavra em português, sendo levados à carrinha por familiares ou amigos indianos ou paquistaneses, como foi o caso de Ravinder, 34 anos, que chegou há quatro meses a Portugal vindo de Punjab, na Índia. Desde que chegou a Portugal nunca tinha recorrido a um serviço de saúde e ficou agradecido pela forma como foi acolhido pelas enfermeiras, que o vacinaram contra o tétano e o sarampo.

“Ajudam-nos muito e estou muito agradecido por isso”, disse Ravinder à agência Lusa, que acompanhou uma visita da carrinha ao bairro, onde vivem cerca de 150 imigrantes, a propósito do Dia Internacional dos Migrantes, assinalado hoje.

Relação de confiança com os moradores

Desde 2007 que a carrinha equipada com um gabinete médico é presença assídua no bairro, onde as enfermeiras já estabeleceram uma relação de confiança com os moradores

Ao início chegavam “um pouco desconfiados” e “questionavam-nos sobre o que estávamos a fazer, mas o passa-palavra funciona muito bem” e hoje vêm sem receios, diz à Lusa a coordenadora do projeto, Teresa Figueiredo.

Alguns imigrantes podem estar em situação irregular, não ter documentos, mas sabem que na carrinha estão em segurança, que “não há problema”, adianta, por seu turno, a enfermeira Natércia Gonçalves. “Aqui não somos polícias, não somos do SEF, não estamos aqui para os denunciar e eles sabem essa mensagem”, sustenta. Por isso, aponta Natércia Gonçalves, este encontro é “um momento de excelência” para os encaminhar no sentido de regularizarem a sua situação no país e poderem ter outro tipo de cuidados de saúde.

Por outro lado, “é um local de excelência” para um técnico de saúde detetar situações de tráfico de seres humanos e de violência doméstica.

Os motivos que levam os imigrantes a recorrerem ao serviço são diversos, como dores ou problemas na pele, mas o principal é a sua vacinação e a dos filhos, que cumprem ‘à risca’.

À frente do projeto desde o início, Teresa Figueiredo, da Unidade de Cuidados na Comunidade Nostra Pontinha, diz que o “grande objetivo” deste serviço é “promover a acessibilidade aos cuidados de saúde”, principalmente das pessoas mais vulneráveis.

Por “dificuldade da língua” ou por questões de mobilidade muitas pessoas não se dirigem ao centro de saúde, sendo a presença da carrinha no bairro facilitadora do acesso à saúde.

“Há pessoas que estão cá há anos e que nunca foram vacinadas, numa foram a um médico, nunca tiveram um atendimento porque têm medo ou por causa da acessibilidade”, salienta a responsável.

Utente do serviço desde a primeira hora, Domingas Fonseca, 65 anos, reconhece a importância deste trabalho para quem não consegue movimentar-se.

“Eu posso andar e posso ir ao centro de saúde, mas há pessoas que não podem”, lamenta a imigrante, natural de São Tomé.

Domingas, que já perdeu a conta aos anos que está em Portugal, diz, com graça, que sempre que passa pela carrinha aproveita para medir a tensão, que “pode descontrolar-se”, e cumprimentar as enfermeiras.

Para Teresa Figueiredo ”é fundamental cuidar destas pessoas”: “Ao cuidarmos delas, estamos a cuidar de nós, por uma questão de saúde pública”.

Na unidade móvel, onde são prestados cuidados de saúde materna, saúde infantil, planeamento familiar, entre outros, são realizados 25 a 30 atendimentos por dia.