30 de outubro de 2013 - 16h52
Um em cada quatro inquiridos num estudo da Deco vive em estado de ansiedade, devido aos efeitos da crise, e 54% confessam que um dos seus “maiores medos” é o de não conseguir atender às necessidades básicas da família.
“As consequências negativas da crise financeira não são apenas materiais, mas também psicológicas e muitas vezes difíceis de combater”, refere o inquérito publicado na edição de novembro da revista Proteste, da associação para a Defesa do Consumidor (Deco).
O estudo foi realizado em Espanha, Itália e Bélgica e visou conhecer os hábitos e as dificuldades das famílias com despesas básicas (prestação da casa, alimentação, cuidados de saúde e educação) e analisar o impacto da conjuntura económico-financeira na qualidade de vida.
Para realizar o estudo, a associação de defesa do consumidor enviou questionários pelo correio e por “e-mail” a uma amostra aleatória da população, tendo recolhido 2.230 inquéritos válidos, em abril e maio.
Os efeitos dos problemas financeiros podem evidenciar-se em três sintomas mais comuns: ansiedade, irritabilidade e dificuldade em dormir.
Segundo o inquérito, quase metade dos portugueses vive em estado de ansiedade, um pouco à semelhança dos espanhóis, 21% apresentam sintomas de depressão e 17% têm problemas de sono.
O uso de calmantes para enfrentar “dias difíceis” tem uma “expressão significativa” em Portugal: no último ano foram utilizados por 33% dos inquiridos, tendo maior expressão nas famílias com menos posses, refere o estudo.
Em casos mais graves, em que a estabilidade foi abalada, por desemprego ou dívidas incomportáveis, “e a vida deixa de fazer sentido”, como verifica o estudo, um em cada 10 portugueses chega a pensar no suicídio, como única saída para os seus problemas.

Quase 5% dos inquiridos admitiram ter recorrido ao álcool ou a drogas ilícitas para “esquecer” os problemas financeiros.
A evasão fiscal é uma prática assumida por 14% dos participantes no estudo, enquanto uma minoria admite o envolvimento em outras atividades ilegais.
Questionados sobre os impactos negativos da escassez monetária, 56% dos inquiridos disseram ter “problemas no funcionamento da família” e 23% tiveram de renunciar a cuidados de saúde.
A convite da troika, a Deco apresentou, em abril de 2011, o panorama das famílias portuguesas sobre-endividadas.
Desde essa altura, o “cenário complicou-se” e o número de famílias nessa situação aumentou face a 2011, registando-se mais mil processos em 2012, ou seja, 5.407.
Até ao final de setembro, a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor já recebeu 3.053 processos.
Segundo a Deco, 38% das famílias portuguesas chegam ao fim do mês com um saldo negativo de cerca de 300 euros e perto de 70 mil agregados assumem não ter dinheiro para se alimentarem de modo conveniente, cortando em alimentos essenciais ou saltando refeições.
“Os momentos de maior sufoco financeiro atingem de forma mais aguda as famílias monoparentais, com membros que padecem de doenças crónicas ou deficiência, e os agregados numerosos”, adianta.
Por essa razão, defende a Deco, “as autoridades deveriam dedicar uma atenção redobrada no apoio a estas famílias”.
Lusa