De acordo com o investigador Rui Poínhos, cerca de metade dos idosos é acompanhado na compra dos alimentos, um terço faz as suas compras sozinho e um em cada seis não participa na aquisição.

Estes foram alguns dos resultados do Pronutrisenior, que visava "identificar as principais barreiras e problemas associados à alimentação e nutrição das pessoas com 65 e mais anos, para que estas se mantenham autónomas", disse à Lusa a coordenadora do estudo, Maria Daniel Vaz de Almeida. Com este projeto, iniciado em maio de 2015, pretendia-se também capacitar os profissionais de saúde e os cuidadores para uma maior vigilância e uma diminuição da desnutrição da população idosa.

Para tal, têm sido realizadas sessões de formação e desenvolvidos materiais adaptados aos diferentes grupos (idosos, cuidadores, profissionais de saúde e fornecedores de alimentos e/ou refeições), com base numa avaliação prévia das necessidades e preferências em termos de métodos e formatos de apresentação, explicou Rui Poínhos.

Segundo o investigador, a metodologia do projecto pode ser replicada noutros locais, e os materiais preparados podem também ser utilizados, após adaptação às características dos grupos avaliados.

Veja ainda8 nutrientes e vitaminas essenciais à pele

Saiba mais10 alimentos que fortalecem o sistema imunitário

Leia também: 10 sinais de alerta da Doença de Alzheimer

Entre os materiais desenvolvidos encontram-se oito vídeos com mensagens diversas, que, para além de poderem ser apresentados nos centros de saúde, podem ser utilizados noutros contextos. Estes vídeos, disponíveis na página de Facebook do projeto, e posteriormente no seu sítio eletrónico, são de acesso livre.

O Pronutrisenior foi desenvolvido em parceria com a Unidade de Saúde Familiar (USF) Nova Via, do concelho de Vila Nova de Gaia, e os seus utentes idosos, residentes nas freguesias de Madalena, Valadares e Vilar do Paraíso. A escolha deveu-se à heterogeneidade da população idosa que vive nessa zona, em ambiente rural, semiurbano, litoral e interior, com diferentes níveis educacionais e socioeconómicos, o que permitiu a obtenção de dados abrangentes.

Neste estudo, financiado pelo EEAGrants - Iniciativas em Saúde Pública em 340 mil euros, participaram investigadores da FCNAUP, da Faculdade de Letras da UP, da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade de Oslo e Akershus e da Escola de Ciências da Saúde da Universidade da Islândia.

Obesos e desnutridos

Nuno Borges é um dos responsáveis pelo NutritionUP 65, um projeto desenvolvido na FCNAUP e coordenado pela professora Teresa Amaral, que visa determinar o estado nutricional dos portugueses com mais de 65 anos, numa amostra representativa de 1500 pessoas idosas, de acordo com o intervalo de idades, o género, o nível de ensino e a área regional do país.

Segundo os dados recolhidos no estudo, cerca de 44% dos idosos apresentam excesso de peso e 39% têm obesidade, situações que derivam de problemas no balanço energético, despoletados por um hábito de "comer mal e a mais e praticar atividade física a menos".

Esta condição está relacionada com a sarcopenia (perda de massa, força e função musculares em consequência do envelhecimento), "que compromete todas as atividades do dia-a-dia dos idosos", como andar, subir e descer escadas, ir às compras e cozinhar, indicou o investigador.

Os dados relativos à desnutrição, outro dos fatores estudados no NutritionUP 65, indicam que 15% dos idosos estão em situação de risco, o que, para Nuno Borges, "é espantoso visto que quase 90% de idosos têm excesso de peso ou obesidade".