O Relatório do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA), divulgado esta quinta-feira, alerta para o aumento crescente do tráfico online e para a transformação que a Internet tem operado no mercado mundial da droga.

“Ao longo da última década, os mercados virtuais têm vindo a mudar as dinâmicas de compra e venda de droga. Embora ainda se considere que a maioria das transações de drogas ilícitas são efetuadas offline, os mercados de droga online têm o potencial de transformar, no futuro, as vendas de droga, da mesma forma que as compras online revolucionaram o comércio a retalho”, afirma o relatório intitulado “A internet e os mercados de droga.

Com base num inquérito telefónico feito a cerca de 13 mil jovens europeus entre os 15 e os 24 anos, o documento revela que no último ano, 3% dos consumidores que tinham usado novas substâncias ou “drogas legais”, compraram-nas na Internet.

No entanto, este número aparentemente reduzido esconde uma realidade preocupante: os números são muito mais elevados, se se considerarem certos grupos e drogas existentes na internet.

Um inquérito online sobre o uso de drogas, realizado em 2015 e que obteve mais de 100 mil respostas de pessoas de todo o mundo, mostrou que mais de um em cada dez consumidores tinha comprado drogas através de sites convencionais e de sites localizados na chamada “dark net”.

Segundo o relatório, a “internet de superfície” - acessível através de motores de busca comuns - está principalmente associada à distribuição de substâncias não controladas (por exemplo, novas substâncias psicoativas/euforizantes legais, medicamentos, precursores químicos), ou substâncias com ambiguidades legais (por exemplo, devido às diferenças na legislação nacional).

Em contrapartida, a maioria das vendas associadas a drogas ilícitas realizam-se na “deep web” (web invisível) - inacessível através dos motores de busca normais.

O relatório revela que nesta zona mais inacessível da net residem os mercados das redes que garantem o anonimato, as chamadas “darknets”.

Estes mercados são conhecidos também como “cryptomercados, que permitem a troca de produtos e serviços, utilizando moedas digitais (como o Bitcoin) e software de encriptação digital (como o Tor) para ocultar as identidades.

Dimitris Avramopoulos, Comissário Europeu responsável pela Migração, os Assuntos Internos e a Cidadania explica que “atualmente, é possível comprar online, e receber por correio, praticamente todo o tipo de drogas ilícitas, sem existir qualquer contacto presencial entre o comprador e o traficante”.

Por sua vez, Alexis Goosdeel, Diretor do Observatório, lembra que tanto em locais abertos de consumo ou em apartamentos de traficantes, a venda de droga de pequena escala está associada a pessoas reais e a lugares reais.

“Embora a maioria do tráfico permaneça firmemente enraizado neste mundo físico, os mercados virtuais estão agora a alargar as fronteiras da oferta de droga, proporcionando opções mais variadas aos potenciais compradores. Trata-se de uma evolução preocupante na medida em que a literacia digital aumenta, as tecnologias avançam e a gama de drogas disponível se diversifica”, sublinha.

Os responsáveis mostram-se preocupados com o desenvolvimento deste mercado ilícito na net e sublinham que é preciso combatê-lo usando as mesmas armas.

De facto, o relatório aponta para o aproveitamento que os responsáveis pela aplicação da lei estão a fazer das oportunidades existentes na “deep web”: a ganhar experiência na área da monitorização dos mercados de droga online, a combater a oferta perturbando os mercados, a reduzir a confiança no anonimato e a processar os vendedores dos “cryptomercados”.