De acordo com o estudo da Defesa do Consumidor – Deco, a que a agência Lusa teve acesso, quase metade (48%) dos médicos inquiridos assume que, todas as semanas, prescreve exames desnecessários apenas porque o doente insiste. “Apesar de os clínicos afirmarem que são regularmente confrontados com estes pedidos, e que por vezes até cedem, a percentagem de doentes que admitem exagerar sintomas para obterem exames, medicamentos ou baixas é mínima”, refere a Deco.

Dados revelados em janeiro pelo Ministério da Segurança Social revelam que, no ano passado, um em cada cinco trabalhadores com baixa médica podia trabalhar.

Somando as inspeções extraordinárias às inspeções regulares, no total foram feitas mais de 262 mil inspeções em 2016 (mais 19% do que no ano anterior), concluindo-se que 22% destes trabalhadores de baixa foram considerados aptos para o trabalho.

Doente exagera e médico não sabe dizer não

O estudo da Deco, feito entre setembro e outubro de 2016 e que obteve respostas de 1.013 pacientes e 281 médicos de família, evidencia “uma inconsistência de comportamentos”, com "o doente que exagera e o médico que não sabe dizer ‘não’”. “Embora o estudo resulte da experiência dos inquiridos, as respostas foram ponderadas em termos estatísticos para refletirem de forma fiel a realidade de pacientes e médicos portugueses”, sublinha a Defesa do Consumidor.

Citado no estudo, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rui Nogueira, afirma: “É muito pouco frequente o doente insistir. O que não quer dizer que não haja doentes simuladores, que tentam e conseguem iludir o médico”.

Por outro lado, sublinha, “ainda se encontram doentes convictos de que a ‘baixa médica’ é um direito que depende da sua vontade. ‘Venho cá para meter baixa’ é algo que ainda se ouve”.

Segundo o inquérito, o número de médicos que, também todas as semanas, cedem à prescrição de fármacos desnecessários, por insistência do doente, é de 27 por cento.

Rui Nogueira defende que “os médicos não devem ceder (…), não com o simples argumento de sobrecarregar o sistema, mas por serem desnecessários, arriscados ou irrelevantes do ponto de vista clínico”.

Das respostas recebidas, a Deco concluiu também que os médicos gostariam que os pacientes “não se detivessem demasiado na net a pesquisar sintomas e a navegar por ansiedades antes do encontro [consulta]”.

“Ainda existe quem tenha vergonha de perguntar, ou de confessar que está a seguir outro tratamento ou a fazer automedicação”, recorda a Deco, que indica que mais de metade dos doentes não informa os médicos sobre tratamentos paralelos que está a fazer.

São ainda menos de metade aqueles que informam sempre o médico sobre os medicamentos que estão a tomar sem que lhes tenham sido prescritos.

Outro dos dados apurados no estudo da Deco indica que quase metade dos médicos confessam que gostariam de dedicar mais tempo aos doentes, mas têm uma agenda muito preenchida: “Seis em cada dez atendem mais de 20 pacientes por dia, sendo que, para dois em cada dez o número é superior a 30”.

O estudo sobre a relação doente/médico mostra que quase metade dos pacientes (43%) diz ter o mesmo médico de família há mais de uma década, mas nem sempre esta relação reflete uma boa comunicação.

“Apurámos que 22% dos pacientes nunca definem ou organizam queixas para ajudar a conduzir a consulta e que 43% nunca tiram notas das recomendações do médico, comportamentos que podem potenciar os erros na execução do tratamento”, refere a Deco.

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