Joaquim Abreu de Sousa, até há poucas semanas presidente da SPO, proferiu estas afirmações no decurso da sua audição na Comissão Parlamentar da Saúde, onde se encontra a pedido do PS e após ter afirmado, em março, que foram adiadas cirurgias oncológicas devido à falta de camas.

Estas afirmações foram consideradas “alarmistas” pela deputada social-democrata Carla Rodrigues, acusação refutada por Joaquim Abreu de Sousa: “A gravidade está demonstrada nos relatórios do governo", disse o médico, considerando que oa dados são "indiscutíveis".

“A sociedade tem de decidir se este é ou não um assunto prioritário, se a principal causa de morte em Portugal deve merecer mais verbas ou não”, afirmou o oncologista e diretor do serviço de cirurgia do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto.

Segundo Joaquim Abreu de Sousa, neste momento, "o tratamento dos doentes com cancro em Portugal está no vermelho”, nomeadamente ao nível dos cuidados assistenciais e devido ao limite das instituições.

“Quando o sistema começa a perder resiliência, começa a perder capacidade de resistir aos eventos. Queremos prevenir situações de rutura”, adiantou.

Antes de ser questionado pelos deputados, Joaquim Abreu de Sousa apresentou um conjunto de dados sobre a oncologia em Portugal, os quais justificam a preocupação dos profissionais de saúde.

De acordo com estes dados, em Portugal registam-se 50 mil novos casos de cancro por ano.

“Uma pessoa com menos de 35 anos tem uma probabilidade de vir a ter cancro de 24 por cento e de 10 por cento de morrer”, recordou.

Os mesmos dados indicam que Portugal gasta 53 euros por pessoa para o tratamento do cancro, “menos de metade da média na União Europeia e menos de um terço do que gastam” outros países europeus, disse.

Relativamente às camas – tema que levou o oncologista à Comissão Parlamentar da Saúde –, Joaquim Abreu de Sousa lembrou que estas diminuíram de 39 mil para 35 mil nos últimos vinte anos.

O oncologista sublinhou, no entanto, que 10 mil das 35 mil camas oncológicas estão no setor privado.

O médico reiterou que a falta de camas impediram que 266 doentes fossem operados em 2014, apesar das equipas estarem disponíveis para isso.

“Temos de tratar estes doentes com mais dignidade. É inaceitável que um doente que chega ao hospital para ser operado, com as equipas disponíveis, não tenha cama”, disse.

“Como cidadão, acho que isto é inaceitável”, reafirmou.