Segundo Adão Lima, criador e treinador de cães de assistência, descreveu à Lusa o processo começou há oito meses, quando foi procurado pela mãe do Afonso, que "queria um cão de assistência para lidar com uma criança autista de quatro anos". Seguiram-se "alguns testes com mãe e filho para avaliar o seu relacionamento com os cães" uma vez que o Afonso "tinha aversão a cães pretos", disse.

"Após isso, fez-se um trabalho de dessensibilização para o ajudar no trato com os cães", explicou, revelando que a cadela escolhida, "a Goorie, começou logo na terceira de semana de vida a receber estímulos para o que iria seguir-se". Iniciado o processo, o "Afonso passou a ter a Goorie diariamente com ele, ajudando-o a debelar as questões relacionadas com a fobia social que apresentava", acrescentou.

E continuou: "O Afonso não tolerava o contacto físico, o barulho, a intensidade e as multidões, mas a cadela conseguiu desbloquear a criança a fim de que ela pudesse começar a perceber o mundo que há cá fora".

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Visitas frequentes da Goorie

Adão Lima, que reside em Aveiro, passou a fazer visitas frequentes, "umas vezes à semana, noutras ao fim de semana, para acompanhar a evolução do relacionamento", testemunhando que a Goorie, "uma vez desbloqueado o problema do toque, acompanhava o Afonso nas terapias".

"A família vai ter em breve necessidade de fazer uma viagem de avião de sete horas, o que nos levou a equacionar fazer o batismo de voo com o Afonso e a Goorie para testar a resposta dele", explicou Adão Lima.

Contactada a TAP – que, segundo o criador, admitiu "nunca ter tido uma situação semelhante" - e consultada a legislação pela companhia aérea que "por desconhecimento, começou por levantar dúvidas sobre a possibilidade de um cão de assistência normal poder voar com o treinador", foram autorizadas as viagens do Porto para Lisboa e regresso.

Em declarações à Lusa, Liliana Saraiva, a mãe do Afonso, afirmou que a terapia "superou as expectativas" e que o filho "é hoje capaz de começar a articular algumas palavras, normalmente sobre animais e até tenta reproduzir o que está a ver na televisão".

"E notório que ele está mais confiante", frisou a mãe recordando que para a viagem até Lisboa e regresso levou "uma mochila cheia de coisas que ele habitualmente pede para se entreter e até medicamentos, mas que nada disso foi preciso".

E prosseguiu Liliana Silva: "entre viagens, nos aeroportos e no centro comercial, tirando uma vez, andou sempre a pé, e isso nunca tinha sucedido".

E com uma parte dos problemas do Afonso ultrapassados, a Goorie - segundo o instrutor - "vai em breve cumprir um plano de três semanas de treino para refinar as questões da obediência".